terça-feira, 24 de novembro de 2020

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 405 - Por Luiz Domingues

Pensei sob uma primeira instância em somente colocar nessa compilação, as músicas com o melhor padrão de áudio e esse foi o incisivo conselho da parte do Kim Kehl, inclusive, que avisou-me bem sobre a precariedade generalizada e que entre as canções, havia uma subdivisão a demarcar ainda mais discrepância sonora. 

Porém, eu argumentei que de fato, se fosse para ser analisado sob um critério puramente técnico, nenhuma faixa passaria pelo crivo mais apurado, visto que a gravação original fora feita de uma forma precária. Só para o leitor entender bem sobre o que eu falo, é preciso rememorar a maneira pela qual essas duas apresentações que compõem este disco, foram gravadas.

Primeiramente, é preciso destacar que a gravação foi proporcionada por um tape-deck caseiro. Claro, tratou-se de um bom aparelho para o propósito do uso doméstico, no padrão que convencionou-se como: "Hi-Fi", a tratar-se de um gravador da marca Gradiente, que fora uma peça de equipamento muito boa disponível no mercado nos anos setenta e oitenta, mas obviamente inadequada para promover a gravação de um show ao vivo de qualquer monta e mais ainda de uma banda de Rock. 

O segundo ponto, foi sobre o nosso equipamento usado para essas duas apresentações e que resultou na captura, respectivamente em cada lado da fita K7. 

Usamos o nosso pequeno PA (nesses shows em específico, ainda bem tímido, pois apenas ao final de janeiro de 1983, nós reunimos recursos para aumentá-lo), e com três microfones disponibilizados para as vozes, Verônica Luhr, Rubens Gióia e a convidada especial, Rosana Gióia, e apenas um para ser usado como um "overall" da bateria, ou seja, sem microfonar tal instrumento de uma forma minimamente adequada e nem ao menos o amplificador da guitarra, então foi realmente uma captura muito ruim. 

O fato do baixo sobressair-se em algumas faixas, deu-se pelo fato desse instrumento ter sido ligado na linha, ou seja, diretamente na mesa de mixagem, daí, obviamente ter obscurecido a guitarra e a bateria em quase todas as faixas e em algumas em específico ainda mais acintosamente.

E a terceira questão, diz respeito à própria "mídia" de armazenamento usada. A fita K7, por si só, sempre foi uma plataforma de captura de áudio bastante limitada, naturalmente. E com uma agravante, aliás, três: o fato de ter sido usada uma fita comum e não uma peça de cromo, que seria uma alternativa com um melhor padrão qualidade no tocante ao material químico de sua composição. 

No caso dessa fita que foi utilizada, ela era de segunda mão, portanto as nossas apresentações foram gravadas em cima de gravações de discos que o Rubens fazia normalmente para ouvir no som do seu carro, portanto, além do desgaste natural pelo uso, tal tipo de dispositivo sofria pelo armazenamento costumeiramente feito através do porta-luvas do automóvel, ou seja, sujeita ao calor extremo, se o carro ficasse exposto ao sol e com as janelas fechadas, por exemplo. 

E finalmente por ter sido usada em 1982-1983, pela última vez e ter sido também armazenada por longos trinta e sete anos, com pequenas intervenções anteriores, quando por exemplo em 2011, através de uma tentativa que foi feita para digitalizar tal fita, porém, sem a obtenção do êxito completo nessa empreitada.

Então ao pensar detidamente nessas questões técnicas e também a relevar a qualidade da performance da banda em certas faixas, com a presença de erros cometidos por um ou outro membro, além do inglês deficiente em termos de pronúncia que a Verônica apresentava para interpretar clássicos do Rock internacional nessa época e mesmo a completa falta de músicas autorais, eu pensei em todos esses aspectos negativos e no entanto, a balança pendeu para a utilização de todas as músicas no disco bootleg, pois eu considerei que esta seria uma peça arqueológica, portanto, todos os seus pecados técnicos e artísticos deveriam ser automaticamente relevados, pois a sua raridade haveria por suplantar tais questões.

Dessa forma, eu levei em consideração que todos os fatores arrolados acima foram pertinentes, certamente, entretanto, cabíveis para serem entendidos como critério para a elaboração de um álbum oficial, mas para o padrão "Bootleg", automaticamente nos levou a relevar deficiências de todos os níveis, ou seja, o que se valoriza é a questão do documento histórico em si, como a traduzir-se como um achado arqueológico, portanto raro, de uma época remota. Em suma, o que importa é o que representa como relíquia histórica.

Dessa forma, foi o que eu assumi como uma firme tomada de posição ao comunicar ao Kim Kehl, que: sim, queria lançar todas as músicas, inclusive uma que se apresenta cortada, a conter a sua performance interrompida.

Continua...

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