quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 404 - Por Luiz Domingues

Então, eis que avançamos na parte de atrativos para fazer desse show reunião de 2020, algo mais esfuziante ainda aos fãs do trabalho, visto que um velho sonho finalmente ganhou a sua materialidade, para fugir do campo da mera divagação. Sobre o que eu falo? 

Bem, é preciso retroagir na história para esclarecer ao leitor, que eu, Luiz, fui o guardião do material da nossa banda, desde que ela encerrou as suas atividades e antes desse acontecimento fatal ocorrido em 1987, na prática, eu mesmo houvera sido, desde sempre, o responsável pela montagem do portfólio da banda, armazenamento de fotos, arquivamento da papelada em geral, além de guardar o material com fitas K7, o recurso pelo qual dispúnhamos naquela época para resguardar o material capturado em ensaios, demo-tapes, entrevistas de rádio e shows ao vivo. 

O único item que eu não controlava pelos meus parcos recursos pessoais, fora a captura de vídeos de nossas apresentações em programas de TV e eventuais filmagens de shows ao vivo, mas apesar da minha precariedade financeira à época, o Rubens gravou muito material e através de fãs abnegados, uma quantidade de vídeos agregou-se com o passar do tempo, em resgates muito bem vindos e emocionantes pela caráter de relíquia, no sentido arqueológico mesmo para a nossa banda. 

Bem, maravilha, o material ficou guardado e catalogado, todos os dados sobre os números gerados pela banda, devidamente anotados etc. e tal. 

Entretanto, um componente sempre atormentou-me, com o passar do tempo: a deterioração do material, principalmente no tocante aos vídeos, fotos e fitas K7. Os anos foram a passar e eis que chegou a Era digital e eu desde sempre quis salvar tudo o quanto antes, mas as condições financeiras dificultavam sempre essa tomada de resolução.

Foi apenas em 2006 que eu pude enfim comprar um gravador de DVD com conversor automático de vídeo, padrão VHS e em meio a uma maratona caseira, salvei tudo o que eu possuía em termos de filmagens e aliás, não apenas sobre A Chave do Sol, mas também de outras bandas pelas quais eu fui componente. 

Mas esse foi um passo tímido ainda, pois daí a colocar esse material efetivamente à disposição dos fãs do trabalho, ainda demandou bem mais tempo. Foi somente a partir de 2012, que eu efetivamente tive apoio, em princípio da parte do Site/Blog Orra Meu, mas com ações que se limitaram ao campo de alguns lançamentos de vídeos pela Internet. 

Entre 2014 e 2016, uma nova parceria apareceu, desta feita com a abnegada amiga e ativista cultural, Jani Santana Morales e assim pudemos avançar mais com o resgate de mais alguns vídeos raros, que encantou os fãs e deu-me muito alegria, certamente por finalmente sair das gavetas e ganhar a acessibilidade virtual.

Todavia, a grande concretização sonhada há anos, só tomou forma ao final de 2019, quando eu pude reunir recursos para resgatar fotos, algumas ainda não reveladas (pasmem!) e finalmente, digitalizar todas as fitas K7 e entre elas, a esmagadora maioria a conter material d'A Chave do Sol. 

Nesse sentido, quem me auxiliou muito foi o meu amigo e colega n'Os Kurandeiros, o guitarrista, Kim Kehl, que instalou o programa especial de captura e tratamento do áudio em seu computador e mediante uma dose de paciência imensa que teve, entregou-me o pendrive para que eu pudesse iniciar, já nos primeiros dias de 2020, a decupagem desse gigantesco material e daí a dar o estopim para que nós pudéssemos partirmos então para a parte mais ambiciosa desse resgate, ou seja, a possibilidade de se lançar discos, com característica de "Bootleg", naturalmente, mas a concretizar o sonho desse material eternizar-se e sobretudo, encorpar a discografia da nossa banda. 

A parceria com o Kim foi mais ampla, pois ele não apenas digitalizou o material, mas incumbiu-se e empenhou-se muito em também preparar o áudio, editar e mixar (dentro das possibilidades de captura, feitas de maneira precária da maioria das fitas, é claro), e ao ir além, ao criar e dar cabo do lay-out final das respectivas capas de cada disco que seria lançado no mercado e mais um dado importante: foi dele o contato com o pessoal da Crossover Records que interessou-se em lançar o material, e assim, tudo encaixou-se como por um ato de magia Rocker. 

Em meu primeiro esforço de organização, eu decidi então começar pelos áudios mais remotos e o primeiro desafio foi organizar dois fragmentos de shows, um de 1982 e o outro de 1983, que são justamente os mais remotos disponíveis que dispúnhamos. 

Mais antigo do que isso, há uma fita que registra fragmentos de ensaios, com músicas truncadas em fase de elaboração, pequenas ideias surgidas a esmo em termos de riffs, pedaços de harmonia & melodia, convenções, linhas de baixo e bateria e ideias para solos de guitarra. Está nos planos decupar esse material para ser lançado no futuro, como uma relíquia ao sabor do que os Beatles elaboraram com a série de CD's lançados nos anos 1990, "Anthology", com um teor assim. 

Mas para início de lançamento dessa linha de Bootlegs históricos, eu precisava de algo mais substancial e assim, decidi fechar com shows ao vivo e demo-tapes melhor gravadas e o primeiro em que eu e Kim trabalhamos, a seguir essa linha cronológica, foi esse material ao vivo, a conter dois shows realizados em 31 de dezembro de 1982 e 1º de janeiro de 1983, com a formação como quarteto, a apresentar a esfuziante presença de Verônica Luhr, a vocalista que foi componente da nossa banda entre outubro de 1982 e março de 1983, ao ter gerado poucos, mas intensos seis meses de trabalho, portanto.

Lamentavelmente, é o único material que dispúnhamos com a voz dela na linha de frente da nossa banda. Em 2011, eu havia procurado um estúdio especializado em digitalização de fitas K7 e essa foi a primeira fita que eu havia recuperado, mas tal trabalho fora concluído de forma parcial, a denotar má vontade desses profissionais, que entregaram-me uma maçaroca que fizeram, a conter apenas alguns trechos de poucas canções ao alegar com isso que a fita estaria completamente comprometida pela ação do mofo e dessa forma, o que haviam conseguido salvar foram aqueles fragmentos. E foi justamente esse material registrado como um "Pout-Pourri", que foi lançado pelo site/Blog Orra Meu em 2012, com o formato de um promo/vídeoclip. 

Na época, eu fiquei feliz que esse clip tivesse ido ao ar, como a única peça a representar a passagem da Verônica pela nossa banda e então, conformei-me com a sua característica prejudicada pela extrema parcimônia e mutilação inevitável, bem no espírito do mais absoluto conformismo em torno do conceito de que tivesse sido o melhor possível. 

No entanto, eu não cometi a loucura de jogar fora a fita K7 original, mesmo com a alegação de deterioração da parte daquele estúdio que mal a recuperara e assim, sete anos mais velha e supostamente sob um estado ainda mais deplorável, eu arrisquei levá-la no bojo das outras tantas fitas para o que o Kim pudesse fazer a digitalização geral e que boa nova eu tive quando ele me disse que havia salvo o seu conteúdo por inteiro e que já estava a promover um trabalho de limpeza para promover a limpeza dos ruídos típicos de uma fita K7 e fazer o possível para equilibrar o "LR" (os lados direito e esquerdo do estéreo), aleatório da captura original, colocar ambiência com um pouco de reverber, compressão e aumentar a dose de grave e agudo para dar o maior brilho possível a garantir uma inteligibilidade mínima, visto que a captura é bem prejudicada e nesses termos, nenhum "milagre" poderia ser efeito. 

Ora, só por ter salvo o material na íntegra, já foi o suficiente para eu comemorar muito e se houve a possibilidade de melhorar um pouco, que maravilha, pensei eu.

Continua...

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