Havia aspectos pró e contra, para que participássemos de tal show de choque. O lado bom, seria que o convite havia partido do apresentador, "Mister Sam", em pessoa, por ocasião de nossa segunda aparição no programa : "Realce", da TV Gazeta de São Paulo, por ele apresentado, dias antes. Nos bastidores, ele abordou-nos para falar que estava envolvido na programação de uma nova danceteria que estava a abrir em Moema, denominada : "Raio Laser". Em um primeiro instante, convidou-nos a participar de uma espécie de "festival", que estava a promover, onde bandas "enfrentavam-se", e as classificadas, mediante uma avaliação de um "corpo de jurados", avançavam para pleitear um prêmio ou coisa que o valha.
Antes mesmo de nós retrucarmos que não éramos amadores, e não interessava-nos entrar em qualquer tipo de festival em regime de disputa, ele disse-nos que seria uma participação apenas para ajudá-lo a ter mais uma atração de melhor nível (Barão Vermelho; Sangue da Cidade; Made in Brazil; Anthro, e Lixo de Luxo, também estavam programados, além de dúzias de bandas de garotos iniciantes), e que contratar-nos-ia para um show individual, mediante o pagamento de um cachet decente etc e tal. Bem, nessa circunstância, encaramos quase como um favor pessoal a um amigo que estava por abrir portas para nós, tanto na TV, quanto em uma oportunidade de show, posteriormente, portanto, apesar de um tanto quanto vexatório por essa questão juvenil de "disputa", nós aceitamos participar. Marcou-se portanto, para o dia 8 de novembro de 1984, na danceteria "Raio Laser".
Mas nesse ínterim, fatos muito desagradáveis aconteceram na vida pessoal do vocalista, Chico Dias, e para início de conversa, a nossa planificação para ensaiar com total afinco, a visar a gravação da demo-tape, ficou muito prejudicada. A mais nova desgraça na vida dele (incrível !), foi quando viu-se novamente sem lugar para morar. Infelizmente, um revés inesperado aconteceu-lhe onde estava hospedado, na casa do poeta, Julio Revoredo. A residência fora invadida e vitimada por um furto.
Nessa ação, muitos objetos foram roubados, incluso algumas roupas do Chico Dias, e sendo assim, indignado por mais esse azar, não sentiu mais clima para ali ficar. No entanto, claro, não havia outro lugar disponível, a provocar-nos uma preocupação extra. Foi então que lembrei-me que uma prima minha estava a viver com o namorado, e mais amigos em uma "república", através de um apartamento compartilhado que alugaram no bairro da Aclimação, zona sul de São Paulo. Não foi fácil para o Chico Dias, acomodar-se entre estranhos, apesar de ter sido super bem recebido por todos, pois ao conhecer pouco São Paulo, precisaria usar metrô e ônibus para deslocar-se até o ensaio, ao contrário de onde estava anteriormente, no bairro do Brooklin, onde bastava um ônibus apenas, e a trafegar praticamente sob uma linha reta, pela avenida Santo Amaro.
Mara Turci, minha prima, e que ajudou Chico Dias em mais um momento de sufoco dele na Pauliceia.
Contudo, foi uma situação emergencial, portanto, não podíamos fazer escolhas nesse instante, e o importante foi providenciar acomodação para ele. Claro, com aquele ânimo que lhe era peculiar, naturalmente que mais um revés desses o minaria profundamente. Por resmungar mais do que nunca, estava ciente dos compromissos, mas ao alegar estar a readaptar-se, pediu um tempo para tal, e assim, a ausentar-se dos ensaios. Às vésperas do show na danceteria "Raio Laser", comunicou-nos que estava muito gripado, e como seria um show de choque, pediu-nos para não fazer parte, ao deixar-nos sem amparo. Claro, nessas condições e por ser vocalista, estava sujeito a esse tipo de ocorrência, eu reconheço. Como tratava-se de um show de choque, e éramos uma banda sempre bem ensaiada, programamo-nos para tocar em trio, fator que era natural para nós, desde sempre. E assim fomos para o compromisso...
Continua...
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