domingo, 3 de agosto de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 157 - Por Luiz Domingues

Chegamos em São Paulo ao início da madrugada de segunda-feira, e cancelamos o dia ocioso que havíamos programado para descansar da viagem, pois surgira um compromisso de última hora.
Graças ao pessoal da banda , "Tonelada e seus Kilinhos", fomos contatados e aceitamos fazer um show relâmpago no Teatro Objetivo, na Avenida Paulista. Nessa ocasião, tocariam além de nós, o próprio "Tonelada", é claro, e algumas bandas novas. O show tinha caráter beneficente, e ninguém ganharia cachet, mas segundo os amigos peso-pesado da banda, "Tonelada e seus Kilinhos", seria vital a nossa participação, pois "olheiros de gravadoras" estariam presentes, e entre eles, o Peninha Schimdt. 

Bem, claro que aceitamos, e na segunda-feira fizemos um novo ensaio, para chegarmos bem preparados. Para falar especificamente sobre esse detalhe, a despeito de achar a postura bem profissional e madura, aparentemente, acredito que havia uma dose de exagero enorme nesse tipo de procedimento de nossa parte. Éramos ultra ensaiados naquela época, e havíamos tocado ao vivo em um show sob grande responsabilidade e importância para nós, no sábado !  

Portanto, fazer um novo ensaio, a visar a apresentação na terça-feira posterior, não parecia ser uma necessidade premente, e de fato não fora, mesmo. Todavia, éramos muito obstinados naquela época, e fizemos esse ensaio extra, assim mesmo, ao considerar o procedimento mais normal do mundo naquela ocasião, mas claro que não fora necessário esse esforço adicional. O show no Teatro Objetivo, foi de choque, e muito energético. Havia cerca de trezentas pessoas na plateia. Lembro-me bem do líder do "Tonelada", a mostrar-se eufórico na coxia, pois a energia estava a mil por hora, e ele enxergava essa vibração, como ideal para impressionar os ditos "observadores" ou "caça talentos", presumidamente ali presentes. Além de nós e dessa banda citada, não recordo-me de nenhuma outra banda que fosse significativa o suficiente ou que tenha adquirido tal status a posteriori. Não anotei o nome das demais no meu guia de shows d'A Chave do Sol, como um dado análogo. A minha única lembrança nesse dia, em relação à essas bandas, foi que em sua maioria esmagadora, tratou-se de algumas bandas muito ruins, formadas por jovens muito fracos tecnicamente a falar, e pior, quase todas a rezar a cartilha do Pós-Punk, mas pelo viés da insignificância New Wave. 

Foram algumas bandas com nomes baseados em siglas, uma outra tendência típica daquela época, e com todo mundo a usar aqueles cortes de cabelo estranhos e a usar figurino com cores cítricas. Entretanto, mais pareciam bandas infantis egressas da "Turma do Balão Mágico". Nesses termos, se os supostos "olheiros de gravadoras" estivessem realmente presentes, é claro que interessar-se-iam muito mais por essas bandas oriundas do jardim da infância do que nós... realisticamente a falar, é claro que seria isso. Isso ocorreu no dia 23 de outubro de 1984, uma terça-feira. Cerca de trezentas pessoas, em sua maioria, adolescentes, assistiram o evento. Tocamos quatro ou cinco músicas apenas, por tratar-se de um show de choque. No dia seguinte, teríamos outro dia puxado !  

Estava agendada duas aparições em programas de TV, uma logo cedo, outra na parte da tarde. Também estávamos agendados em um programa de rádio, ao vivo, na hora do almoço, e na parte da tarde, tínhamos o soundcheck no Teatro Lira Paulistana, onde faríamos show, naquela noite. Se o Chico Dias não animasse-se com uma agenda dessas, foi por que realmente não estava a dimensionar a oportunidade que dificilmente teria, com sua ex-banda, no interior do Rio Grande do Sul. Sinto muito por observar isso, pois não quero menosprezar ninguém, mas estou a ser realista ao extremo...



Continua... 

Nenhum comentário:

Postar um comentário