Uma panorâmica da banda no palco. Vê-se a figura do amigo, Cristiano Rocha Affonso Costa, ao lado esquerdo, sentado. Ele apoiou-nos também como roadie, além de ter fotografado a banda em ação. Patrulha do Espaço em Ponta Grossa-PR, no dia 13 de abril de 2018. Acervo e cortesia de Cristiano Rocha Affonso Costa. Click: Lorena Costa
Chegamos ao local e a banda de abertura já havia encerrado o seu espetáculo. Fui informado que os rapazes tocaram covers orientados pelo Pop-Rock. Tudo bem, cada um com as suas escolhas, mas teria sido muito mais adequado uma banda autoral a mostrar o seu trabalho.
Bem, 2018 em curso, e os conceitos de outrora estavam cada vez mais distantes da realidade com a qual convivemos, décadas atrás e nesse aspecto, amargávamos uma mudança de mentalidade, obviamente para muito pior no âmbito cultural.
Momentos individuais do show. Patrulha
do Espaço em Ponta Grossa-PR, no dia 13 de abril de 2018. Clicks, acervo e
cortesia de Marina Semensati
O show começou com grande energia, através de músicas tais como: "Robot" e "Deus Devorador", temas pesados, no limiar do Heavy-Metal e oriundas do LP "Patrulha '85", que em nosso tempo à frente da banda, evitávamos por destoar da nossa proposta mais Vintage Rocker que tínhamos.
Entretanto, novos tempos ou melhor, os últimos tempos dessa banda, nem tínhamos como esboçar contestar. Primeiro por sermos, eu e Rodrigo Hid, ex-membros convidados para tal esforço final, portanto, sob uma situação sui generis para emitir opiniões mais contundentes no sentido da montagem do repertório. Nesse caso, acatar o desejo do Rolando, o membro fundador e decano da banda, em sua derradeira turnê, sem dúvida que foi a postura mais respeitosa.
E em segundo lugar, pelo fato de ter sido a derradeira turnê, e assim, o repertório haveria ser o mais abrangente possível, dentro da discografia completa da banda e nesse aspecto, eu e Rodrigo sabíamos que seria necessário respeitar tal representatividade com músicas de todos os discos.
E um terceiro aspecto, mas igualmente importante, a proposta de nossa fase estava bastante diluída. Assim que a nossa formação dissolvera-se em 2004, a Patrulha do Espaço seguira em frente a resgatar o seu elo com o Hard-Rock mais pesado, a beirar o Heavy-Metal e portanto, tirante alguns mais fãs antigos, a garotada que esteve a acompanhar mais de perto dali em diante, foi a turma da camiseta preta e a gesticular o indefectível sinal do "malocchio", portanto, a resignação haveria de ser o remédio para lidar-se com tal panorama adverso aos nossos anseios chronophágicos.
Mais momentos do show pela lente de Marina Semensati. Patrulha
do Espaço em Ponta Grossa-PR, no dia 13 de abril de 2018. Click, acervo e
cortesia de Marina Semensati
Mas tivemos momentos muito mais Rockers, não só quando tocamos temas de nossa formação, mas o material mais antigo da Patrulha do Espaço, que detinha o seu élan setentista, é claro. Por exemplo, a nossa interpretação da balada, "Berro", foi emocionante.
Aquela desdobrada rítmica ultra setentista, o teor da letra, o solo de guitarra e baixo simultâneos ao final, enfim, confesso que tive muito prazer em executar tal canção bela do Ivo Rodrigues e a lembrar-me da boa fase da Patrulha do Espaço, quando a conheci pessoalmente, ao aproximar-me de seus componentes, no início dos anos 1980 e fase pela qual eu mantenho a admiração explícita desde então.
Além do fator emocional, por saber que Serginho Santana e Dudu Chermont já não estão mais entre nós, e o mesmo em relação ao próprio autor da canção, o Ivo Rodrigues, portanto, com os três a viverem no condomínio celestial, digamos assim.
Momentos do show. Patrulha
do Espaço em Ponta Grossa-PR, no dia 13 de abril de 2018. Click, acervo e
cortesia de Marina Semensati
Haviam certamente, muitos fãs da Patrulha do Espaço. Fomos abordados por muitos deles com discos em mãos, à caça de autógrafos e logicamente que isso foi muito gratificante. Mas não vou mentir e dizer que a massa foi formada inteiramente por Rockers e fãs incondicionais de nossa banda.
Essa associação automática só era possível nos anos setenta e pôs-se a diluir com o tempo, lastimavelmente, nenhuma novidade portanto. Mas, longe disso, ao menos tivemos ali uma massa interessada e respeitosa, não posso deixar de reconhecer isso.
Muitos não tiveram vergonha em abordar-nos ao final para expressar, até ingenuamente, eu diria, que haviam-nos conhecido ali no show, portanto, ficou a impressão de que muita garotada ali presente, esteve presente apenas pelo embalo da ocasião e surpreendeu-se com uma banda inteiramente desconhecida aos seus parâmetros, mas que haviam apreciado.
Sinal dos tempos, certamente, uma banda a fazer a sua turnê de despedida da carreira, com quarenta e um anos de labuta e uma discografia enorme... enfim, se fôssemos norte-americanos ou europeus seria um outro nível de interesse, mas o Brasil era/é isso aí...
Bem, o show prosseguiu e ao final, gerou-se uma comoção, a confirmar as minhas impressões anteriores, isto é: houveram fãs verdadeiros da Patrulha do Espaço e uma garotada despreparada, mas interessada e nessa soma improvável, a ovação concretizou-se e motivou um pedido para um duplo "bis" e para a nossa satisfação, a sensação final de que foi prazerosa e muito bem sucedida a nossa performance.
Instantes finais do espetáculo. Patrulha do Espaço em Ponta Grossa-PR, no dia 13 de abril de 2018. Clicks, acervo e cortesia de Cristiano Rocha Affonso Costa.
Não é uma filmagem primorosa e o áudio é muito precário em alguns momentos, mas eis um apanhado do show em Ponta Grossa que a TV Educativa de Ponta Grossa-PR, produziu e que foi ao ar, cerca de um mês depois do show. Louvo a boa vontade da equipe dessa emissora em ter feito tal filmagem, certamente por tratar-se de um registro que há de entrar para a história da banda, em seus momentos finais
Eis o link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=FQA5HYC5PHg
Após o término do espetáculo e abordagem dos fãs nos bastidores, foi bem tumultuada a prejudicar a nossa evasão do local, pela obviedade de uma estrutura de show ao ar livre, em parque público. Faltou apoio policial ou com seguranças particulares, que fosse.
Aliás, eu falei em parágrafos anteriores, super bem da capital, Curitiba, que visitara no dia anterior e mesmo sob a pressa total e o cansaço instaurado, eu devo acrescentar que pelo pouco que observei, Ponta Grossa é uma cidade pujante, com muitos recursos, conforto, ótima infraestrutura e tudo mais, mas um aspecto eu percebi nas duas cidades e talvez seja uma falha do governo estadual do Paraná, pois a atribuição da segurança pública é do estado, mas o fato é que em ambas as cidades que eu visitei, achei o policiamento muito ausente.
E ali, na hora dessa saída, senti ainda mais a falta desse apoio fundamental para nós ali, sob forte assédio. Por sorte, foram fãs imbuídos das melhores intenções para conosco, mas o fato é que estivemos à mercê e se não fosse uma turma amistosa...
Após o encerramento e saída do Parque Manoel Ribas, fomos a uma boa cantina italiana da cidade e o jantar foi agradabilíssimo, entre amigos. E o repouso, no confortável hotel, foi o bálsamo para coroar a sensação do dever cumprido. Mais que isso, foi um recado bem dado aos fãs e para os novos fãs que ali angariamos, o fato de desconhecerem a nossa trajetória com "apenas" quarenta e um anos de carreira, naturalmente que não foi sua culpa, tampouco nossa, mas deste país que cuida muito mal dos setores da educação & cultura, portanto, artistas como nós, ficam à margem da difusão mainstream, e dessa forma, o nosso trabalho não tem como chegar à percepção deles.
Ao final do show, a banda no palco, perfilada em foto de Marina Semensati. E na segunda foto, a banda e a sua comitiva no restaurante, "La Gondola" em Ponta Grossa-PR. Do alto, no sentido horário: Rodrigo Hid, Jardel (roadie), Lorena Costa, Cristiano Rocha Affonso Costa, Rolando Castello Junior, Marta Benévolo, Suka Rodrigues, "Bolívia" (o motorista da van) e Luiz Domingues. Patrulha
do Espaço em Ponta Grossa-PR, no dia 13 de abril de 2018. Acervo e
cortesia de Cristiano Rocha Affonso Costa. Click: Garçom
No dia seguinte, não tivemos compromissos com a banda. Apenas voltaríamos para Curitiba, a fim de dispersar a comitiva. Eu e Rodrigo tínhamos voo marcado para São Paulo, para o início da noite, Marta e Rolando ainda ficariam por lá por mais alguns dias, por conta de compromissos particulares do casal.
Despedimo-nos na rodoviária de Curitiba e de lá, eu e Rodrigo fomos para o aeroporto Afonso Pena, onde ainda tivemos uma longa espera pelo nosso voo. Embarcamos e antes das 21 horas, eu já estava em minha residência, em São Paulo, para relaxar.
Dali em diante, a programação dessa turnê só previra um novo encontro em maio de 2018. Um show em São Paulo, no Sesc Pompeia e sob condições emocionais além da nossa própria despedida, pois a nossa apresentação estaria inserida no contexto de uma celebração da gravadora Baratos Afins, portanto, muitos signos em comum deveriam ser compartilhados nessa festa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário