Foto promocional d'A Chave do Sol, de abril de 1985. Click: Tirteu
Aconteceu no tempo d'A Chave do Sol, em 1985...
Aconteceu no tempo d'A Chave do Sol, em 1985...
O tradicional político
geralmente usa táticas populistas para angariar apoio, fomentar simpatia e
amealhar correligionários, cabos eleitorais e o que mais interessa-lhe como
moeda a perpetuá-lo na vida pública: votos. Não acho exagero afirmar que a sua
sanha é tamanha que tende a não tratar as pessoas como cidadãos, mas
enxergá-los como meros eleitores, manipuláveis a fim de que cumpram a única ação
que deles deseja: ser parte da passiva massa de manobra a ofertar-lhe poder.
Portanto,
basta uma manifestação popular de qualquer ordem, seja cultural, esportiva,
religiosa, social ou de outra monta qualquer a ocorrer, que logo os seus tentáculos
ávidos por explorar, aparecem para estudar a melhor maneira para aproximar-se e
aproveitar-se do evento, assim, como “quem não quer nada”, a usar de sua eloquência
adquirida em plenário, para usufruir ao seu favor, como puder.
Quando o
evento “Praça do Rock” (que acontecia ao ar livre na concha acústica do Parque
da Aclimação, no bairro homônimo, localizado na zona sul de São Paulo), começou a dar
mostras de crescimento, foi natural que tenha gerado a atenção da mídia e a cada edição aumentou
o seu contingente de público presente.
E assim, políticos que tinham tal bairro e
adjacências como o seu “reduto eleitoral”, logicamente estudaram o fenômeno e
aliás, por dois lados antagônicos. Alguns ao tentar aproximarem-se da equipe de
produção e dos artistas emergentes que ali estavam a apresentarem-se, certamente
a apostar na possibilidade de angariar a simpatia de uma juventude que já
votava ou estava a chegar à idade para obter o seu primeiro título eleitoral e também contar com a simpatia de artistas e com extensão a setores mais progressistas
da mídia e jornalismo cultural em geral.
E uma outra linha de parlamentares
mais conservadores, a buscarem a parceria dos moradores do bairro, insatisfeitos
com o som “barulhento”, presença de uma multidão de cabeludos e possivelmente
os problemas todos inerentes que uma multidão jovem e irreverente poderia
causar ao parque e aos seus frequentadores, dentro daqueles paradigmas preconceituosos, sempre aventados por pessoas com mentalidade de viés conservador etc.
Eu (Luiz Domingues), com A Chave do Sol, em ação na "Praça do Rock" (com a presença do guitarrista, Rubens Gióia, ao fundo na foto, semi-encoberto), Parque da Aclimação em São Paulo, agosto de 1984. Click de Carlos Muniz Ventura
Eu já havia tocado com minha banda nessa década, “A Chave do Sol”, no evento, “Praça do Rock”, e claro que eu era um entusiasta de sua existência, exatamente por ser uma oportunidade para a divulgação de bandas com pouca chance na mídia grande, a dita “mainstream”.
Eu já havia tocado com minha banda nessa década, “A Chave do Sol”, no evento, “Praça do Rock”, e claro que eu era um entusiasta de sua existência, exatamente por ser uma oportunidade para a divulgação de bandas com pouca chance na mídia grande, a dita “mainstream”.
Portanto, eu admirava a luta de seus organizadores, nas
figuras de Dalam Junior, o casal de jornalistas e editores do jornal do bairro,
Myrna e Roberto Casseb, além de Orlando Lui e Antonio Celso Barbieri, que em
suma, foram as principais lideranças envolvidas na organização e sucesso do
evento.
Certa vez, eu até testemunhei a presença de um deputado federal em uma
reunião dos organizadores com representantes de bandas que participariam de uma
edição (na qual a minha banda também estava escalada) e de forma hilária, o
parlamentar subira em uma mesa e ao achar-se no plenário do Congresso Nacional, fez um
inflamado discurso.
No entanto,
foi durante uma edição em que eu não apresentar-me-ia com a minha banda e ali
estava apenas para prestigiar o evento, que eu tive uma experiência insólita
com um político e ele abordou-me sem suspeitar que eu fosse alguém que
conhecesse os produtores do evento e nem mesmo que eu fosse um artista, ainda que
locado no patamar underground, a ascender como emergente naquela altura, e ao ponto de flertar
com o mainstream, portanto, esse senhor tratou-me como um espectador ocasional, apenas. Por conta
disso, tornou-se ainda mais patente, pelo teor de suas perguntas, a sua
intenção ali como pesquisador do evento, a analisar as suas possibilidades para que ele angariasse dividendo político.
Foi assim que aconteceu: eu estava em uma lateral do palco, a manter certa distância dele, quando notei a aproximação de homens engravatados, certamente a chamarem a atenção em meio a uma multidão de jovens cabeludos e no uso de trajes a predominar a cor preta em sua profusão e leve-se em conta que a maioria ali detinha visual inspirado nos ditos “Headbangers”, os seguidores das tradições da vertente do Heavy-Metal, algo muito usual na década de oitenta.
Foi assim que aconteceu: eu estava em uma lateral do palco, a manter certa distância dele, quando notei a aproximação de homens engravatados, certamente a chamarem a atenção em meio a uma multidão de jovens cabeludos e no uso de trajes a predominar a cor preta em sua profusão e leve-se em conta que a maioria ali detinha visual inspirado nos ditos “Headbangers”, os seguidores das tradições da vertente do Heavy-Metal, algo muito usual na década de oitenta.
Logo eu reconheci o então Deputado Estadual, pois assim como também em relação ao mundo do futebol, eu sempre
observei a política em paralelo aos meus esforços dentro da música e do Rock,
em predomínio. Acompanhava-o nessa comitiva, a sua esposa, que anos depois também ingressou na
vida parlamentar e alguns assessores, munidos com pranchetas, a fazerem anotações.
E por
conhecer a política e os métodos nada recomendáveis da ação partidária no
Brasil, eu já intuí o que faziam ali, portanto, não surpreendi-me nem um pouco
com tal tipo de investida em meio a um evento aparentemente dispare, em relação ao gosto
pessoal dessas pessoas em questão.
Como fala-se popularmente, candidatos fazem qualquer
coisa para angariar simpatia e são conhecidos e folclóricos os seus métodos, ao
forçar comer pastel em feiras livres, tomar café de coador em bares de
quinta categoria, conversar sobre economia popular com senhoras idosas em
supermercados e a pegar crianças pobres no colo, entre outros métodos, instruídos
pelos seus “marqueteiros” e claro, imbuídos do mais alto grau de falsidade.
Foi quando o
deputado em pessoa deve ter escolhido-me a esmo e ao aproximar-se, forçou uma
conversa, dissimuladamente, em uma espécie de ação teatral medíocre, naturalmente
a achar estar a ser convincente em sua atuação velada para comigo.
Ele perguntou-me sobre o
evento, se este ocorria assim normalmente com tanta gente presente em toda edição, se eu sabia quem o
controlava, quais os prós e os contras em minha opinião etc.
Ao seu lado, um
assessor anotava tudo o que eu dizia e ao final, este parlamentar agradeceu-me e continuou a caminhar
com a sua equipe, a observar tudo com atenção. Tal parlamentar alcançou a Câmara Federal tempos depois e
está lá até os dias atuais (2018), por sinal, a emendar mandatos sucessivos e perpetuar o seu "foro privilegiado".
Mas que eu saiba,
ele não aproximou-se dos organizadores da Praça do Rock na ocasião e deduzo duas
hipóteses nesse caso: ou ele não vislumbrou nenhuma capitalização em seu favor
ali, ou apoiou a destruição do evento, a atender os moradores do bairro que
usaram outros políticos com perfis conservadores como o dele, para forçarem tal desfecho lastimável para a cultura.
De uma maneira ou de outra, a
intenção ali foi a mesma de uma ave de rapina, ou seja, tudo dentro da mais
absoluta normalidade, por tratar-se da mentalidade rasteira vinda da parte dos políticos populistas e não comprometidos com causas sociais neste
país, como o seu modus operandi.
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