quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 210 - Por Luiz Domingues

Estávamos nos bastidores, e bastante animados por verificarmos que o público chegava aos borbotões, por todos os portões do Parque. De fato, o peso do dinheiro investido pela empresa cervejeira fez-se visível, com a divulgação caprichada a surtir efeito.

O Ave de Veludo abriu o evento, com seu Blues-Rock ao sabor 1960 / 1970. Eu achava agradável o trabalho deles, mas como já salientei anteriormente, foi uma banda deslocada naquela década polarizada entre o Pós-Punk, "queridinho da mídia", e o Hard-Heavy "farofa" e / ou peso-pesado. O Gozo Metal veio a seguir, e sinceramente, a despeito de seus membros serem bons múiscos e pessoas bacanas, e o seu baixista , Orlando Lui, um exemplo de empreendedorismo, o seu som não despertava grandes emoções. Parecia ser um combo montado às pressas para surfar em uma onda, e de fato, acho que não estou a exagerar na minha percepção. Com relação ao Platina, que foi a terceira banda da noite, o seu som era o Hard oitentista, com muitos toques de virtuosismo, pois os três instrumentistas eram / são exímios músicos, muitas milhas acima da média nacional. Os irmãos Busic; Andria no baixo, e Ivan, na bateria, tocavam de uma forma sincronizada e virtuose, que dava a impressão que teriam aprendido a tocar os seus respectivos instrumentos, desde o berço. Mas na realidade, foi assim mesmo a trajetória deles, pois ambos são filhos do trompetista de Jazz, André Busic. 


No caso do guitarrista, Daril Parisi, certamente que não ficava atrás. Excelente guitarrista e tecladista, Daril também era muito acima da maioria nesse meio do Hard / Heavy e por conseguinte, passava como um trator pela turma do Pós-Punk, e sua ruindade congênere (existe as honrosas exceções, Miguel Barela, é um deles). E ainda havia a exótica presença do vocalista / halterofilista, Seman, que tinha um vozeirão, é verdade, mas chamava mais a atenção pelo seu físico musculoso, como fisiculturista. Bem, o Platina agradou bem mais a plateia pelo seu potencial técnico mais avantajado, e de certa forma, as suas firulas virtuosísticas,  aproximava-se bastante do som d'A Chave do Sol, nessa época do EP, principalmente. A diferença, foi que o Platina optou muito mais pelo Hard-Rock oitentista e sob teor americano, ou seja, a buscar o elemento Pop. Já em nosso caso, o Jazz-Rock setentista e firulento, que fazíamos nos nossos primórdios, mesclara-se agora a um peso mais "Heavy-Metal" e nesse caso, estávamos mais para o Metal britânico, digamos, ainda que não perfeitamente sincronizado com tal escola. O caminho do Hard-Pop oitentista, seria adotado por nós, sim, mas através de uma terceira guinada de nossa carreira, ainda no decorrer de 1985, porém a acentuar-se para valer nos anos de 1986 e 1987. Falta muita coisa para eu contar, antes de chegar nesse ponto.

Enfim, com o término da apresentação do Platina, o público mostra-se enorme e começara a escurecer, a possibilitar-se o uso de iluminação, elemento que nas edições anteriores da Praça do Rock, não ocorrera, por falta de verba. 


Subimos ao palco e tocamos com muita energia. A frustração da noite anterior, onde não conseguíramos estabelecer contato com o público, estava superada totalmente, pois nesse domingo, a interação foi total. A responder aos estímulos do nosso vocalista, Fran Alves, o público foi inteiramente arrebatado. Lembro-me das primeiras fileiras, perto da grade de proteção, estar com uma enorme quantidade de braços esticados em nossa direção, ao demonstrar uma vibração típica de show, permeado pela emoção coletiva. A resumir : a tal da sinergia que faltara no Sesc Pompeia...

Cerca de cinco pessoas estiveram no evento, segundo a observação da Polícia Militar. Eu acho, particularmente, que essa avaliação foi muito modesta, e em minha opinião, houve um número bem maior de pessoas ali presentes. 


Tanto foi assim, que eu lembro-me bem que a aglomeração tomou toda a frente da concha acústica, até a beirada do Lago, e as duas laterais estavam inteiramente tomadas até uma distância enorme, quase na metade de cada respectivo pavimento, que forma a pista de cooper do Parque. Portanto, foi uma multidão incrível. O som estava bom, com a monitoração muito melhor do que a da noite anterior, apesar de ser um show onde o soundcheck foi feito na base da correria total, por ter sido um show ao ar livre e daí, ultra corrido. Saímos de alma lavada, pois o nosso show arrancou muitos aplausos; gritos e urros do público. O nosso próximo compromisso seria em um salão, na zona leste de São Paulo, e esse show tem boas histórias para ser narradas...

No entanto, antes disso, preciso contar a história paralela da gravação do EP, que também contém fatos interessantes para ser  descritos.

Continua...

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