Estávamos nos bastidores, e
bastante animados por verificarmos que o público chegava aos borbotões, por todos
os portões do Parque. De fato, o peso do dinheiro investido pela
empresa cervejeira fez-se visível, com a divulgação caprichada
a surtir efeito.
O Ave de Veludo abriu o evento, com seu
Blues-Rock ao sabor 1960 / 1970. Eu achava agradável o trabalho deles, mas
como já salientei anteriormente, foi uma banda deslocada naquela década
polarizada entre o Pós-Punk, "queridinho da mídia", e o Hard-Heavy
"farofa" e / ou peso-pesado. O Gozo Metal veio a seguir, e
sinceramente, a despeito de seus membros serem bons múiscos e pessoas bacanas, e o seu baixista ,
Orlando Lui, um exemplo de empreendedorismo, o seu som não despertava grandes
emoções. Parecia ser um combo montado às pressas para surfar em uma onda, e
de fato, acho que não estou a exagerar na minha percepção. Com
relação ao Platina, que foi a terceira banda da noite, o seu som era o
Hard oitentista, com muitos toques de virtuosismo, pois os três
instrumentistas eram / são exímios músicos, muitas milhas acima da média
nacional. Os irmãos Busic; Andria no baixo, e Ivan, na bateria, tocavam
de uma forma sincronizada e virtuose, que dava a impressão que teriam aprendido a tocar os seus respectivos instrumentos, desde o berço. Mas na realidade, foi assim mesmo a trajetória deles, pois ambos são filhos do
trompetista de Jazz, André Busic.
No caso do guitarrista, Daril
Parisi, certamente que não ficava atrás. Excelente guitarrista e
tecladista, Daril também era muito acima da maioria nesse meio do
Hard / Heavy e por conseguinte, passava como um trator pela turma do
Pós-Punk, e sua ruindade congênere (existe as honrosas exceções, Miguel
Barela, é um deles). E ainda havia a exótica presença do
vocalista / halterofilista, Seman, que tinha um vozeirão, é verdade, mas
chamava mais a atenção pelo seu físico musculoso, como fisiculturista. Bem,
o Platina agradou bem mais a plateia pelo seu potencial técnico mais
avantajado, e de certa forma, as suas firulas virtuosísticas,
aproximava-se bastante do som d'A Chave do Sol, nessa época do EP,
principalmente. A diferença, foi que o Platina optou muito mais
pelo Hard-Rock oitentista e sob teor americano, ou seja, a buscar o
elemento Pop. Já em nosso caso, o Jazz-Rock setentista e firulento, que
fazíamos nos nossos primórdios, mesclara-se agora a um peso mais
"Heavy-Metal" e nesse caso, estávamos mais para o Metal britânico, digamos, ainda que não perfeitamente sincronizado com tal escola. O
caminho do Hard-Pop oitentista, seria adotado por nós, sim, mas através de uma
terceira guinada de nossa carreira, ainda no decorrer de 1985, porém
a acentuar-se para valer nos anos de 1986 e 1987. Falta muita coisa para
eu contar, antes de chegar nesse ponto.
Enfim, com o término da
apresentação do Platina, o público mostra-se enorme e começara a escurecer,
a possibilitar-se o uso de iluminação, elemento que nas edições anteriores da
Praça do Rock, não ocorrera, por falta de verba.
Subimos ao
palco e tocamos com muita energia. A frustração da noite anterior, onde
não conseguíramos estabelecer contato com o público, estava superada
totalmente, pois nesse domingo, a interação foi total. A responder aos estímulos do nosso vocalista, Fran Alves, o público foi inteiramente arrebatado. Lembro-me
das primeiras fileiras, perto da grade de proteção, estar com uma enorme quantidade de braços esticados em nossa direção, ao demonstrar uma vibração típica
de show, permeado pela emoção coletiva. A resumir : a tal da sinergia que faltara no Sesc Pompeia...
Cerca
de cinco pessoas estiveram no evento, segundo a observação da Polícia
Militar. Eu acho, particularmente, que essa avaliação foi muito modesta,
e em minha opinião, houve um número bem maior de pessoas ali presentes.
Tanto foi assim, que eu lembro-me bem que a aglomeração tomou toda a frente da
concha acústica, até a beirada do Lago, e as duas laterais estavam
inteiramente tomadas até uma distância enorme, quase na metade de cada
respectivo pavimento, que forma a pista de cooper do Parque. Portanto, foi uma
multidão incrível. O som estava bom, com a monitoração muito
melhor do que a da noite anterior, apesar de ser um show onde o
soundcheck foi feito na base da correria total, por ter sido um show ao ar livre
e daí, ultra corrido. Saímos de alma lavada, pois o nosso show arrancou muitos aplausos; gritos e urros do público. O nosso próximo compromisso seria em um salão, na zona leste de São Paulo, e esse show tem boas histórias para ser narradas...
No entanto, antes disso, preciso contar a história paralela da gravação do EP, que também contém fatos interessantes para ser descritos.
Continua...
Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
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