Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2014
Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 213 - Por Luiz Domingues
E o que ocorreu foi que a última música a ser mixada tratou-se de : "Um Minuto Além". Estávamos a começar a levantar o som do baixo, quando notamos que infelizmente a 4 ª corda, "Mi", estava um pouco fora da afinação. Pareceu algo inacreditável, mas ninguém havia notado essa falha durante as gravações das bases. Ouvimos novamente por dezenas de vezes a mesma canção, durante as sessões de overdub da guitarra, e mais uma centena de ocasiões nas gravações dos vocais. De minha parte, eu sempre fui paranoico com afinação em sessões de gravação. Além de estar atento ao ouvido, checava constantemente a afinação do instrumento, com o afinador eletrônico.
Portanto, quase 13:00 horas de um domingo, onde estávamos a trabalhar exaustivamente desde as 18:00 horas do sábado, e um problema desses surge, do nada... pois até então, tínhamos ouvido incontáveis vezes a música, e só naquele momento, essa desafinação fora sentida. Tratou-se de um desnível muito sutil. Algo de menos de meio-coma (coma é uma subdivisão milimétrica de uma nota musical a definir-se com um conjunto de vibrações), mas claro que não poderíamos mixar a música daquela forma, e mandar prensar o disco com uma falha desse porte. Por outro lado, o Luiz Calanca precisava sair do Vice-Versa com a fita de meia polegada na mão, porque na segunda-feira, havia agendado a sessão de corte de acetato, no estúdio da RCA, com o Oswaldo Martins, o técnico que mais "cortou" discos no Brasil, por décadas.
Então, mesmo extenuado, prontifiquei-me para ir buscar o meu baixo. Se ele estivesse na casa do Rubens, teria sido muito rápido, com o trajeto entre os bairros de Pinheiros e Itaim-Bibi, a ser cumprido em poucos minutos, ainda mais em um domingo. Mas ele encontrava-se em minha residência, no Tatuapé, zona leste de São Paulo, e isso demandaria bem mais tempo. Sendo assim, o Zé Luiz, o técnico, ofereceu um baixo de sua propriedade, que segundo ele, estava bem regulado e com cordas novas e importadas instaladas (acho que eram da marca GHS, não lembro-me ao certo, mas eram de meu inteiro agrado, pois eu só usava cordas da marca GHS ou Rotosound nessa época). De pronto aceitei a oferta, para facilitar as coisas, visto que o baixo estava ali no estúdio. O Zé Luiz tocava baixo e bateria. O único problema, seria que tratava-se de um baixo... Giannini...
Naquela época, o preconceito com os instrumentos nacionais era enorme e de fato, infelizmente, eram instrumentos muito inferiores em relação às marcas consagradas internacionais. Claro que a ideia era regravar com o meu Fender Jazz Bass, mas não havia tempo hábil para outra solução, pois precisávamos apanhar o instrumento, levantar o som, regravar e voltar à mixagem. Bem, pois ele de fato estava impecável, com as cordas a "tinir", com aquele timbre característico de "novas". Eu gravei, e ficou perfeito. Esse segredo, ficou guardado por vinte e oito anos (este trecho foi escrito em 2013), até que eu começasse a contá-lo nestas linhas. Somente a banda; o produtor Luiz Calanca; o técnico Zé Luiz, e a namorada do Fran Alves à época, souberam disso ! Sem preconceitos, digo que o resultado ficou à altura do Fender que eu usei nas outras canções. Ninguém, nunca reparou que nessa faixa, eu tivesse usado outro baixo, e supostamente a ostentar um nível de qualidade inferior. Lembro-me que fora um baixo de cor vermelha, no tom "cherry", com o escudo branco e perolado.
Por volta das 18:00 horas do domingo, a mixagem foi dada por encerrada, a estabelecer uma maratona insana com vinte e quatro horas, e muito cansaço envolvido nesse esforço. Estavam encerradas as gravações e mixagens do segundo álbum d'A Chave do Sol.
No dia seguinte, o Rubens representou a banda na sessão de corte, nos estúdios da RCA, com o produtor, Luiz Calanca, presente também, naturalmente. O fotolito da capa já estava pronto, e após um teste de cor rejeitado (o vermelho da contra capa ficou desbotado na primeira prova da gráfica), finalmente o Luiz Calanca o aprovou, e encomendou a sua impressão. Sobre a questão dele ter sido lançado em 45 rpm, falo logo mais, e tenho histórias, algumas hilárias, sobre as confusões que essa decisão gerou...
Continua...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário