quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 209 - Por Luiz Domingues


Chegamos cedo ao Parque da Aclimação, mas mesmo assim, já havia um público significativo, que chegara antecipadamente para garantir lugar próximo ao palco. Apenas à primeira vista que obtivemos, ainda na rua, tivemos o deslumbre de que o evento estava mesmo bastante aditivado em relação às edições anteriores. Foi impressionante o número de caminhões da empresa patrocinadora, que vimos pelas cercanias do Parque, e a movimentação de seus funcionários, a montar barracas. De fato, tratava-se de uma empresa de refrigerantes e cervejas, que veio apoiar com uma verba forte, e a disponibilizar a sua infraestrutura logística. Muitas barracas foram armadas para comercializar os seus produtos, e um material pesado de merchandising foi montado. Tudo bem que fora um tanto quanto espalhafatoso, mas impressionava ver o poder de organização e mobilização desses funcionários todos. A outra constatação visível e ainda mais interessante para nós, deu-se em relação ao equipamento de P.A. locado. Ao contrário das edições anteriores, onde o equipamento fora de segunda linha, quiçá terceira, desta feita, com a verba da cervejaria, os organizadores contrataram uma empresa forte do mercado, daquelas acostumadas a sonorizar grandes artistas do patamar mainstream, e também atrações internacionais. 

Bem, com essa infraestrutura toda, claro que ficamos bem animados e se o show da noite anterior, no Sesc Pompeia havia  causado-nos um certo dissabor, certamente que a visão do Parque, com essa movimentação toda, dissipara a nuvem de melancolia que pairava. Assim como o festival do Sesc, esse evento também chamara a atenção. E para aumentar a sensação que o Rock pesado estava com exposição maciça naquele final de semana, também estava a acontecer um festival com bandas pesadas no autódromo de Interlagos, onde inclusive os amigos do Platina estavam escalados para atuar, e eles também participariam da Praça do Rock. Portanto, não fora apenas A Chave do Sol que obtivera um final de semana mediante agenda cheia e exposição na mídia, significativa. As outras bandas que participariam da Praça do Rock foram  : Ave de Veludo e Gozo Metal. 

O Ave de Veludo detinha uma característica que aproximava-nos. Tanto quanto nós, essa foi uma banda que destoou da cena oitentista e não encaixara -se nos principais nichos daquela década. O seu trabalho era calcado no Blues-Rock do final dos anos 1960. Mais pareciam com o Fleetwood Mac, da fase Peter Green, ou mesmo com os Yardbirds. Portanto, era difícil para eles, achar um ambiente favorável, porque não tinham nada a ver com o Hard  / Heavy oitentista, e muito menos com os derivados do Pós-Punk. Eram anacrônicos como nós. Eu achava o som deles bem parecido com bandas brasileiras setentistas e influenciadas pelo Blues, que não chegaram em grandes patamares no tocante à popularidade, tais como o Bagga's Guru; A Chave; Neblina; e o Burmah, todas muito boas, e a apresentar tais características do Blues-Rock. Até no visual, os rapazes não encaixavam-se. Costumavam apresentar-se  a usar jeans desbotados e simples como figurino, meio na onda do Free (ao referir-me à grande banda britânica dos anos 1960 & 1970), mas no ambiente oitentista, eram alvo de críticas por essa modéstia hippie e demodé. Bem esse foi o panorama dessa edição da Praça do Rock, de julho de 1985.

E à medida que aproximava-se o início dos shows, víamos a plateia a avolumar-se. Os shows ainda nem haviam começado, e o público já era muito maior do que nas edições anteriores. Essa tarde / noite prometeu !



Continua... 

Nenhum comentário:

Postar um comentário