Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
domingo, 21 de dezembro de 2014
Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 215 - Por Luiz Domingues
Com as sessões de estúdio encerradas, e o disco tendo passado pelo processo industrial do "corte", o produtor, Luiz Calanca já encomendara à fábrica, a prensagem inicial, concomitante à gráfica que preparava a capa. Ainda em agosto, ambos os fornecedores prometiam fazer a entrega, e nessa expectativa, estávamos animados para ter enfim um novo álbum na praça, e que refletisse as mudanças que havíamos promovido, a fim de buscarmos enfim, uma melhor adequação à cena oitentista. Tínhamos esperanças em "Um Minuto Além", como balada, e que permitisse -nos transitar por rádios e TV; havia a presença de "Crisis (Maya), como legítima representante d'A Chave do Sol de 1982 / 1984; e as quatro músicas centradas na estética do Hard-Rock, para tentar abocanhar o público pesado oitentista.
Não demorou muito, e essa percepção tornou-se visível, e assim, ficar claro que a tentativa fora equivocada, mas logicamente que explicitarei esse detalhe no decorrer da narrativa, oportunamente.
Entretanto, de volta a falar sobre a agenda, o nosso próximo compromisso seria uma aposta, e rendeu uma boa história ! Estávamos a trabalhar constantemente com o produtor, Antonio Celso Barbieri, mas ele era um agente autônomo, e não empresário nosso, e nem de ninguém de uma forma específica e exclusiva. A Cooperativa Paulista de Rock, que começara com perspectivas animadoras no início do ano, esvaíra-se rapidamente. O produtor, Mário Ronco perdeu bem rápido o seu entusiasmo inicial, e depois daquelas ações que já descrevi, com matérias nos jornais e os shows no Teatro Arthur Azevedo, só trouxe uma novidade a mais, em maio, quando convocou as bandas para uma entrevista coletiva a visar uma matéria no jornal : "Shopping News"/ "City News", que fora desde os anos sessenta, o principal jornal de bairro de São Paulo.
Muito bem, a matéria saiu com destaque de página inteira, com fotos, mas com aquela abordagem pejorativa com a qual a imprensa grande havia tratado-nos anteriormente, em abril. Portanto, apesar de estarmos com muitas novidades a ocorrer, e com o disco no forno, não tínhamos naquele momento um empresário exclusivo e confiável, com o qual pudéssemos sonhar em vivermos dias melhores, ou que no mínimo, fosse esperto o suficiente, para aproveitar o "momentum", aquele raro e sutil instante onde um artista pode "acontecer".
Nesse ínterim, o guitarrista Cesar Achon, da banda, "Mammoth", com a qual havíamos tocado no Buso Palace, de São Caetano do Sul / SP, em junho, acenou com uma oportunidade diferente, e assim convidou-nos a participar, também. Ele conhecera um empresário, que não era do métier do Rock, mas detinha lá os seus contatos, e ao verificar a movimentação toda em torno do BR-Rock oitentista, ventilou tentar alguma coisa nesse mundo, todavia com uma proposta bizarra : ao tentar levar o Rock ao seu mundo, e não o contrário. Bem, não custou nada ao menos ouvir a proposta do rapaz, e assim, eu e Rubens fomos à Vila Formosa, na zona leste de São Paulo, onde encontramo-nos com o Cesar Achon, e um representante da banda, "Karisma", que também entraria nessa história.
O excelente guitarrista, Cesar Achon, em foto bem mais atual
O Cesar, que era (é) uma pessoa culta e bem articulada, portanto mantinha todo o bom senso possível, alertou-nos que o sujeito era um habitante do "mundo brega", mas desejava fazer uma experiência com shows de Rock nesse circuito de salões e clubes, onde vendia artistas populares. Até aí, tudo bem, não custava ouvi-lo, e quem sabe tentar uma experiência, e no máximo, na pior das hipóteses, teríamos uma história bizarra para contar no futuro, e certamente foi o que aconteceu, e aqui estou eu a concretizar essa previsão pessimista...
De fato, o rapaz era bem desse mundo, avesso ao nosso, mas dentro desse "planeta brega", detinha os seus contatos e vendia os seus artistas nessas circunstâncias peculiares. Foi o tal negócio : valeria a pena fazer show de Rock autoral nesse tipo de ambiente 100% avesso ? É claro que não, nem precisava conjecturar. Todavia, sabíamos que fãs de Rock, em todas as suas vertentes, existiam nos bairros da periferia, portanto, por quê não tentar atingir esse nicho, também ? Sendo práticos, é claro que seria uma oportunidade para tocarmos para Rockers mais humildes, que não tinham dinheiro para pagar ingressos em teatros ou danceterias de bairros nobres, onde costumávamos tocar. Sendo assim, Maomé iria até a montanha. Desprovidos de qualquer afetação, apesar de estarmos com exposição midiática acima da média para uma banda underground, e a ostentar uma agenda de shows significativa, embora não tivéssemos um empresário exclusivo, e dentro desse raciocínio todo, aceitamos fazer a experiência inicial.
Dessa forma, foi marcado um show para o início de agosto, no salão da "Sociedade Amigos de Vila Formosa", ou seja, uma associação de bairro. A Vila Formosa não é periférica, pelo contrário, é um bairro tradicional e bem estruturado da zona leste de São Paulo, mas se desse certo, os contatos do sujeito, apontavam aí sim, para bairros longínquos do extremo da zona leste da cidade, principalmente. Então, no dia 10 de agosto de 1985, tocamos no "S.A. de Vila Formosa", mas apesar da camaradagem entre as bandas, deu tudo errado, ao demonstrar que o rapaz deveria mesmo prosseguir com os seus artistas brega obscuros, e sem dúvida, com a proposta de shows realizados sob "playback", isto é, a famigerada dublagem...
Bingo... o sujeito recebeu uma lista de equipamento mínimo, mas no dia do show, o P.A. que havia no local, mostrou-se simplesmente horroroso, assim como a iluminação. Enfim, diante disso, perdemos a esperança em qualquer tipo de negociação posterior com o rapaz, assim como o Cesar Achon, que ficou chateado, também. O evento até ganhou um nome charmoso nos cartazes e filipetas : "Rock in Concert".
Mas além da estrutura ter sido péssima, o público esperado não compareceu. Apenas cento e oitenta pessoas pagaram ingressos, em meio a um salão que era bem grande, onde caberia entre oitocentas a mil pessoas, tranquilamente. Fizemos o show, mas com grande sacrifício, pois o equipamento realmente fora um desastre. Graças ao Cesar Achon, inclusive, ficou melhor, por conta de seus esforços de última hora para amenizar a situação, ao trazer reforço de equipamento seu, de casa. Contudo, foi duro tocar naquela reverberação de um salão grande, e semi-vazio, com aquele equipamento péssimo.
O próximo show, ainda em agosto, teria tudo para ser um desastre igual ou pior, mas revelou-se uma grata surpresa.
Continua...
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