Não quero parecer chato, mas veja o texto desse serviço publicado na revista, "Isto é", uma das maiores do Brasil. Como assim, damos uma chance ao Jazz Rock, e ao Blues ? A ideia do release distribuído à imprensa fora clara : todas as vertentes citadas tinham a ver com o trabalho.
Os shows de lançamento do EP foram feitos com o foco máximo que podíamos
manter ante os nossos recursos. Digo isso, porque o clima estava estranho no âmbito interno, apesar
de estarmos mergulhados em um ritmo frenético, com tantos compromissos de mídia e
shows, porque sabíamos que o nosso vocalista, Fran Alves, estava chateado por conta dos sinais de rejeição que
eram claros, lamentavelmente, por parte dos fãs, principalmente, mas
também por pessoas ligadas mais diretamente a nós, em tom de seu
desagrado em relação à presença dele na banda. Mesmo chateados
com essa movimentação, e sobretudo por vermos o Fran entristecido, não queríamos que ele
saísse, em uma primeira instância.
Para nós, havia dúvidas em relação
ao posicionamento que adotáramos sobre o peso extra adquirido no
trabalho da banda, praticamente a aposentar o repertório antigo e
tradicional, mas mesmo que mudássemos tudo (que loucura, com um disco
novo recém lançado...), não cogitávamos ficar sem o Fran Alves entre nós. Gostávamos dele como cantor; frontman; artista; e Ser Humano, sem dúvida alguma. Enfim,
essa foi a nossa posição, mas ele detinha os seus sentimentos, e era natural
que buscasse os seus interesses pessoais. Digo isso ao basear-me no fato
consumado, pois na prática, no calor da ocasião, é claro que eu não
dimensionei isso. Aliás, nem ninguém poderia deduzir tal desfecho...
Bem, a despeito dessa energia
mais baixa que notamos em sua postura, o empenho nos ensaios foi total e também em relação à pré-produção do show. Fizemos tudo o que foi possível na época, para
divulgar os shows corretamente. Tínhamos um belo cenário pronto,
criado e produzido pela Elisabeth Dinola, e claro, com a providencial
mão de obra de seu irmão, José Luiz Dinola. As intervenções
performáticas tornaram-se mais simples desta feita, mas estavam ensaiadas a
contento, também. O técnico do Lira Paulistana era nosso amigo (Canrobert), e daí em
diante, tornou-se até o nosso técnico em muitos shows realizados fora do Teatro Lira Paulistana.
Enfim, tudo mostrou-se favorável para que efetuássemos ótimos shows... e assim concretizou-se ! Não
tenho lembranças específicas sobre cada um deles, que justificasse
alguma menção, especial, portanto, falarei genericamente sobre os três
dias em que atuamos.
Bem, o show começava com uma locução em off, com o poeta,
Julio Revoredo, a declamar um poema de sua autoria. Ele fazia essa
locução, pela coxia do teatro e causava um impacto inquietante, visto
que obviamente declamava um de seus poemas mais herméticos, com difícil
compreensão para o público em geral. Claro que isso causou um efeito, e lembro-me de que o jornalista, Antonio Carlos Monteiro, a representar as
revistas Roll e Metal, ter comentado que achara aquilo muito incomum
para um show de Rock "moderno", pois seria o tipo de intervenção
performática que não era mais comum, desde os anos setenta. Bem, nesse aspecto, particularmente eu tomava uma declaração dessas como um verdadeiro elogio, é óbvio.
Tocamos
todas as músicas do EP, evidentemente, além de "Luz" e "18 Horas" , do
compacto. Mas também tínhamos "Átila", no repertório, que continha bastante
peso, e intervenções dos três instrumentistas em momentos solo, foram
observadas no palco. E geralmente tais intervenções eram longas,
ao justificar a saída dos demais do palco, para voltar-se em momentos
combinados previamente, como "deixas". Para conceder uma diferenciação acentuada, em uma dessas ausências do Fran Alves, para a apresentação dos números instrumentais, criamos uma
intervenção com "atores".
A sketch foi mais uma intervenção inspirada no "Teatro
do Absurdo", com três atores a entrar em cena, ao final da música que
antecedia uma dessas saídas do Fran, e providenciar o seu "sequestro", mediante o uso de
força bruta, e sob a mira de uma arma de fogo. Tratava-se de uma
velha espingarda que o Rubens tinha em casa, que era mais uma peça
decorativa do gabinete de seu pai. Claro que não funcionava, mas era
real e antiga. Em tal número, os atores entravam mascarados e tiravam
o Fran com uma certa truculência encenada. Havíamos combinado que mesmo não
sendo uma ação feita por atores profissionais, que fosse contundente e
rápida, para suscitar a dúvida no âmago do público.
O efeito de tal ação realçar-se-ia com o fato de que mesmo diante de uma situação inusitada, a
banda continuaria a tocar, e assim a ignorar o ato. Nessa fração de segundos,
queríamos deixar o público atônito. Claro que esse sentimento duraria
poucos segundos, pois não haveria por demorar muito além do bom senso de
cada um. Porém, nos três dias, o efeito foi alcançado, e particularmente, eu adorava observar a reação das pessoas nesse momento do show. Na
parte final, outra intervenção semelhante ocorria, com o poeta, Julio
Revoredo, totalmente disfarçado, a usar um manto negro, entrava no palco e
caminhava de forma lenta e um pouco sombria.
Uma receita de bolo absurda, lida em off, e que desnorteava o público. Acervo e cortesia de Julio Revoredo.
Outra locução, desta feita
gravada em fita K7 (com a minha voz), foi disparada, para deixar o público novamente
atônito. Bem mais simples em relação aos shows de lançamento do compacto em 1984, como já havia salientado, no entanto tais sketches foram muito funcionais. Devo registrar que o cenário ficou lindo, mas recebeu críticas, e até motivou pilhérias, infelizmente. O
fato, deu-se por conta de que quando vimos a concepção da obra, dos primeiros esboços (rafs) da
Beth Dinola, até o seu lay-out final, não levamos em consideração a
malícia, uma manifestação inerente e típica do povo brasileiro. Pois a ilustração ao mostrar o homem a olhar o horizonte, sob o sol, foi retratado de costas, é bem verdade, todavia... inteiramente nu. A nossa
visão fora em torno de uma metáfora a retratar a humanidade, entretanto, piadas circulavam sobre o
show d'A Chave do Sol conter um homem "pelado" como cenário e portanto, ter
uma conotação "gay" como bandeira institucional. Rimos, é claro, dessa baboseira, mas
consideramos que aquilo jamais seria compreendido como algo filosófico,
a evocar o humanismo, a não ser que passássemos a cumprir shows na sede da
Palas Athena, ou da Sociedade Teosófica...
Embalagem de um saco de balões (aqui em São Paulo, chamamos isso como : "Bexiga"), que usamos no show. Acervo e cortesia do poeta, Julio Revoredo
Lamentamos bastante a
incompreensão do público, e somente usamos o cenário completo, nesses três
dias, para aposentar a ilustração da representação da humanidade, ou simplesmente do homem nu como alguns enxergaram, doravante. A partir daí, só passamos a usar a parte
externa da instalação, com a fechadura, e mesmo assim em poucas ocasiões, pois
tal cenário demandava uma estrutura de cenografia que nem todo lugar onde tocamos
doravante, possuía.
Esses três shows de lançamento do EP, ocorreram nos dias 27; 28 & 29 de setembro de 1985, no Teatro Lira Paulistana.
O público presente nos três shows foi composto por :
Dia 27 : oitenta pessoas
Dia 28 : cento e vinte pessoas
Dia 29 : noventa pessoas
Volto a falar sobre os aborrecimentos que o novo disco que lançamos, causou-nos, pelo fato da sua rotação alternativa, ter sido feita em 45 rpm...
Continua...
Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
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