O próximo passo após o show do Olympia, foi bem menos glamoroso.
Ainda a aproveitar a exposição na mídia de uma forma contundente, mediante shows
grandes; rádio & TV a executar-nos diariamente, o próximo compromisso foi
uma apresentação modesta no Bar "Pill 100 Bar".
Lá, dividimos a noite
com os donos do estabelecimento, a banda, "The Pills", gerida pelo empresário,
Jefferson, e uma outra, chamada : "Rose Avalanche". O Rose Avalanche era
bem influenciado pelo Guns'n Roses, é claro (por conta do seu nome, certamente), e o The Pills fazia um Pop Rock,
a apresentar elementos do indie Rock britânico então moderno, noventista.
Por ser localizado próximo à
represa de Guarapiranga, um endereço longínquo, no extremo da zona sul de
São Paulo, tivemos público fraco com apenas cinquenta pessoas, e contingente esse formado pelos amigos dos
membros do The Pills, e habitues da casa. Isso ocorreu no dia 19 de agosto
de 1994.
O empresário negociou e os proprietários da pocilga alegaram que todos os artistas que ali apresentavam-se, não costumavam reclamar daquelas condições apresentadas etc e tal. Claro, eu posso imaginar o naipe dos artistas que ali apareciam, normalmente...
Então tocamos, para um reduzido e atônito público com cerca de trinta pessoas, todas habitues, com exceção de meu aluno, Edil Postól e a sua esposa, Marilu, que gentilmente foram prestigiar-nos, naquele lugar insalubre. Voltaríamos contudo àquele estabelecimento medonho, pois o Jefferson fechou uma outra data, e desta vez a garantir-nos que o dono da casa melhoraria o equipamento. Ora, nem se colocasse um super P.A. e com a iluminação do Pink Floyd, adiantaria alguma coisa. Mas como estávamos a dar votos de confiança a ele, julgamos que o sacrifício valeria a pena, para assim visarmos dias melhores em termos de shows. Ao pensar com o distanciamento histórico, hoje eu penso que não havia nenhum cabimento em continuarmos com um empresário que detinha tais contatos completamente fora da nossa realidade. Estávamos com uma música a explodir na principal rádio Rock da cidade; dois clips na MTV; shows realizados no Ginásio do Ibirapuera & Olympia, portanto, que sentido fazia ir tocar no "Evidências Dancing" ?
Ocorreu no Aeroanta, dia 7 de outubro de 1994, com a presença do Pitbulls on Crack e do Neanderthal, entre as bandas convidadas, com o encerramento logicamente feito pelo Não Religião. Época ainda marcada por bom movimento para casas que só abrigavam bandas autorais, pois trezentas e cinquenta pessoas entraram no recinto, catraca adentro. Contudo, a seguir tivemos que cumprir então o show extra que o empresário fechou no horrendo, "Evidências Dancing". Para tentar melhorar a situação, o empresário convidou o "Não Religião", que lançava novo CD na ocasião e claro, por deter mais "status" que nós, tal banda ganhou destaque na filipeta.
Com o perdão do trocadilho infame, era "evidente" que seria uma outra grande noite perdida, naquela espelunca desoladora...
E foi mesmo, "evidentemente", mas aconteceu um fato insólito que salvou a noite de tanto que divertiu-nos. Quando chegamos ao local (além de dividirmos a noite com o "Não Religião", teríamos novamente a presença do "Phandora"), havia na plateia, um homem negro a usar um terno todo branco, e com um exemplar da Bíblia debaixo do braço.
Pensamos ser um fundamentalista com o intuito em fazer uma pregação para as pessoas que tencionavam assistir o show, ou coisa do gênero. O rapaz entrou e procurou-nos no camarim. Ao dizer-se adepto da religião Mórmon, não parava de falar que vivera em Salt Lake City / Utah, e que lá, apesar de ser Mórmon, apaixonara-se pelo Punk-Rock. Estava portanto ali no "Evidências", para ver o Pitbulls on Crack, e o "Não Religião", e em nosso caso, motivado pelo fato do Chris Skepis ser ex-membro do grupo Punk britânico, Cock Sparrer. E pasmem, quando o som mecânico da casa começou a tocar, esse rapaz correu para a pista, e passou a dançar violentamente, para chamar a atenção das pessoas que estavam a aguardar pelos shows. Foi bizarro vê-lo a dançar como punk, com aquele visual que ele tinha a denotar a sua religiosidade, munido pela Bíblia na mão etc. E como se não bastasse tudo isso, ainda houve o mais insólito : pois ao afirmar ser homossexual, disse estar interessado em nosso baterista ! Trancamo-nos no camarim, depois de saber disso, pois o rapaz insistia em voltar para lá, e aí seria uma confusão vermos o religioso / punk /gay, por ali a importunar-nos mais, e pior ainda seria para o nosso baterista, eu posso imaginar...
Isso ocorreu no dia 14 de outubro de 1994, e como os membros do Pitbulls eram humoristas por natureza, tornou-se assunto para uma semana aquela figura insólita a perturbar-nos. E quanto ao show, foi obviamente medonho com aquele equipamento disponibilizado. É claro que o dono do infame salão não colocou no palco um equipamento melhor, conforme prometera anteriormente. Dessa forma, fizemos um show de choque, e partimos dali, o mais rápido possível...
Continua...
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