sexta-feira, 22 de junho de 2012

Um Épico do Caju ao Recreio - Por Marcelino Rodriguez

A cena não me sai da memória, como se eu estivesse participando de um filme épico, percorrendo lugares ermos, buscando um sinal que lembrasse-me a civilização.

Era como se eu estivesse nos países mais pobres da África ou da Ásia. Mais estava no Brasil, numa viagem de ônibus que vai do Caju ao Recreio dos bandeirantes, via Avenida Brasil.
O trajeto abunda em outdoors, indústrias, comércios variados,
favelas, muita pobreza no ar, o que já deprime.
Mais um fato que chamou-me a atenção sobremaneira foi que até
chegar-se ao Barra Shopping, em mais de hora de viagem, olhando pela janela do ônibus, tentando entender aquelas paisagens amorfas, não se avista uma livraria sequer.

Fiquei pensando na violência, nas relações genéricas de um país
continental que não cultua livros como gênero de primeira necessidade.

Como se relaciona a população sem leitura?  Como pensar um povo sem cultura? Que futuro pode haver? Descobri a pólvora nesse dia: falta cultura de livros no Brasil.

Ou seja, o livro precisa ser descoberto.
A população simplesmente não sabe que através do conhecimento poderia sanar parte de seus problemas. Não se relaciona livro com poder e dinheiro, curioso... Assim que a informação passou a ser meramente decorativa, com "bacharéis" sem literatura,
daí a péssima qualidade do funcionalismo e das trocas sociais em
geral, incluindo um comércio cego e imediatista, religiões pitorescas,
e a vida vazia do faz de conta do vídeo, com indivíduos abaixo da crítica, doentes.

Monteiro Lobato , "descobridor do petróleo no país", provavelmente com senso livresco, dizia que um país se faz com Homens e livros.

Eu diria que os homens se fazem com livros ou valores, pois são essas qualidades que alçam a humanidade acima do reino animal.

Mais livros e se teria mais disciplina, menos violência, se gastaria
menos em drogas e jogos, diminuiria a gravidez prolixa de pobres e
adolescentes.
Livro ensinaria a lei da consequência e a descoberta do outro. O livro é uma ponte entre o humano e o divino. Ou será que se pode pensar a humanidade sem livros? Eu diria até que certos homens
são dispensáveis; livros, não.

Aqui está a pólvora do mal brasileiro: pensa-se ser possível chegar a algum lugar sem informação.  Onde fica esse lugar mesmo? Aliás, o que é lugar?

Quem quiser descobrir um país ( ou inventá-lo ) tem que começar pelos livros.

A falta de cultura é o que engendra todos os males no país da minha mãe.

Marcelino Rodriguez é colunista sazonal do Blog Luiz Domingues 2. Escritor, cronista e difusor cultural, já tem diversos livros publicados , entre eles, "Bom Dia, Espanha" e "O Tigre de Deus em seu Jardim". Nesta crônica, escrita em 2005, expressa seu desalento em relação à dramática situação da educação e cultura no Brasil, onde o hábito da leitura inexiste, simplesmente.

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