O Boca do Céu em foto promocional realizada em março ou abril de 1977. À esquerda, com óculos escuros, Laert Sarrumor, atrás, agachado, Fran Sérpico, atrás, ajoelhado, Wilton Rentero, ao lado direito, com a guitarra no colo, Osvaldo Vicino e à frente, com o baixo sobre as pernas, eu (Luiz Domingues). Click: desconhecido, mas há a desconfiança generalizada da parte dessas personas retratadas, sobre ter sido da parte de Adelaide Giantomaso
Ah, o Boca do Céu... a minha primeira banda, da qual eu guardo um carinho imenso não apenas por ter representado o impulso inicial para a minha construção de carreira, mas sobretudo, pela lembrança sempre inspiradora a respeito da energia incrível que proporcionou-me para que eu pudesse canalizar a loucura que o Rock acometera-me, paulatinamente, desde o final dos anos sessenta, ainda criança, e em vertiginosa escalada a partir dos anos setenta, em pleno avançar da minha adolescência.
Pois é, o Rock não fora apenas um mero gênero musical para catalogar discos em prateleiras de lojas de vinis, mas algo muito maior, a amalgamar-se com questões culturais, certamente muito mais amplas e sobretudo por unir-se aos valores da contracultura & afins.
Embevecido por tal grandiosa magnitude, a minha completa inaptidão para a arte, e a música em específico, fora um empecilho monstruoso para que eu pudesse canalizar tamanha volúpia que consumia-me as entranhas, no entanto, eis que um dia, um colega da minha classe da 8ª série, chamado, Osvaldo Vicino, formulou-me o convite para que formássemos uma banda de Rock e este foi o impulso mágico que deu-me a chance para vencer as minhas barreiras, então intransponíveis e finalmente vislumbrar a materialização do sonho.
O troféu que o Boca do Céu recebeu, por ter ganho o 2º lugar no Festival Femoc, em agosto de 1977
Bem, caminhamos até onde foi possível, a compreender-se as nossas dificuldades à época, e posso afirmar, fizemos conquistas. A dispersão da banda foi escalonada e ao final, dos membros originais, somente eu, Luiz, cheguei ao final das atividades da banda, juntamente ao Laert, embora ele não tenha sido da primeiríssima formação, por uma questão de poucos meses, apenas.
Pelo fato de que eu, Luiz, e Laert termos seguido juntos quando da formação do Grupo de Poesia e Música da Faculdade Cásper Líbero, em junho de 1979 (apenas dois meses após o final oficial do Boca do Céu e nesse instante, com o grupo já bastante desfigurado), e embrião do que veio a tornar-se o Língua de Trapo, significou que a priori, nos anos posteriores ao Boca do Céu, foi com o Laert que eu mais tive convivência e atuação, por conta de eu ter sido membro do Língua de Trapo em duas oportunidades (da fundação do grupo, em 1979 até 1981 e posteriormente, entre 1983 e 1984).
Por conta dessa realidade, eu passei anos sem saber notícias sobre os outros ex-companheiros do Boca do Céu.
Osvaldo Vicino e Laert Sarrumor, durante a festa de aniversário do Laert, em São Paulo, no ano de 2015. Acervo e cortesia: Laert Sarrumor. Click: Marcia Oliveira
Por volta de 2012, o Laert reencontrou o Osvaldo Vicino, virtualmente, através da extinta Rede Social Orkut e daí fez a ponte para que eu também restabelecesse o contato. Em 2015, eu fui convidado a participar de mais uma festa de aniversário do Laert e o Osvaldo, também foi convidado.
Infelizmente, eu estava a convalescer, após ter submetido-me à duas cirurgias de emergência e não pude estar presente. Todavia, a despeito da minha falta, Osvaldo e Laert reencontraram-se, após trinta e sete anos, o que foi algo extraordinário.
Ainda em 2015, o Osvaldo visitou-me em uma apresentação da Magnólia Blues Band, grupo em que toquei entre 2014 e 2016, e foi um reencontro muito feliz entre amigos que não viam-se pessoalmente, desde 1978.
Eis o Link para assistir o vídeo no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=LHiL27bRGOs&feature=emb_logo
Ao final de 2016, reencontramos o baterista, Fran Sérpico, na Rede Social Facebook e algum tempo depois, na semana do Natal e Reveillon, ele deu-nos um presente maravilhoso: a digitalização e postagem no Portal YouTube, de uma filmagem que a nossa banda houvera feito em junho de 1977. Histórico, emocionante e sem dúvida a mostrar-se como um tesouro de valor incalculável, trata-se do único registro da banda em ação, mesmo que neste vídeo, não haja o áudio original, a contar com o som real que produzíamos na ocasião.
Osvaldo visitou-me posteriormente em outras ocasiões, em shows de Kim Kehl & Os Kurandeiros, em pelo menos três ocasiões e casas diferentes. E sempre que reencontramo-nos, o assunto sobre um possível encontro com todos os membros do Boca do Céu, veio à baila. Já pensou? Seria algo verdadeiramente sensacional reunir a banda inteira, após tantos anos.
Luiz Domingues e Osvaldo Vicino, em reencontros de 2015 (fotos 1 e 2, no Magnólia Villa Bar) e 2017 (foto 3, no Santa Sede Rock Bar), em São Paulo. Click, acervo e cortesia de Lara Pap (fotos 1 e 2). Foto 3: acervo e cortesia de Osvaldo Vicino. Click: acompanhante de Osvaldo
Pois foi ao final de 2019 que a perspectiva de um reencontro a envolver todos os ex-membros da banda ganhou força, e tanto foi assim que motivou a criação de um grupo a promover a conversa reservada através do inbox da Rede Social Facebook, aliás criado por eu mesmo, Luiz, o qual foi batizado como: "Boca do Céu/Reencontro do Século XXI".
Pois é, quando ouvíamos a canção: "21st One Century Schizoid Man", do King Crimson, ali no calor dos anos setenta, tínhamos a noção sobre o século XXI, como algo que aproximava-se, mas ainda a estar muito distante, portanto a configurar-se como uma visão do futuro, baseada naquela perspectiva fantasiosa que a nossa imaginação havia sido induzida pelo paradigma em torno dos filmes e seriados ao estilo "Sci-Fi", ou seja, a elucubrarmos os anos 2000, sob parâmetros espaciais, cibernéticos etc.
Mas o século XXI chegou, avançou para a sua segunda década e o Boca do Céu, quem diria, abriu uma bela perspectiva para acrescentar mais histórias em minha autobiografia. Portanto, essa banda estava prestes a ofertar-me um segundo sonho, na verdade...
Continua...
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