sábado, 8 de setembro de 2012

Autobiografia na Música - Boca do Céu - Capítulo 15 - Por Luiz Domingues



Apesar dessa euforia toda pela profusão de coisas que vivenciávamos à época, incluso os progressos da banda, havia um ponto de preocupação. O nosso baterista, Fran Sérpico, demonstrava ser o músico da banda que menos evoluía em comparação aos demais e isso era um claro reflexo de seu menor entusiasmo. 
Tal fator preocupava-nos, pois estávamos por dar o máximo de nós, e ele parecia não ter a mesma energia, disposição. Mas enfim, sempre acabávamos a relevar, ao atribuir a fatores escolares e / ou familiares. Sim, porque na idade em que estávamos, essas questões norteavam o nosso livre arbítrio, ou falta de, na verdade. Com exceção do Laert, que já caminhava para os seus dezoito anos de idade, todos nós estávamos sujeitos às amarras familiares, e a banda corria riscos em perder membros, em casos de mudança de humor de nossos respectivos progenitores...




Mas, chegamos à conclusão de que no caso do Fran Sérpico, não havia esse tipo de impedimento, mas sim uma certa apatia pessoal da parte dele. Talvez apatia seja uma palavra muito forte. Digamos que o entusiasmo dele tivesse uma graduação menor em relação aos outros quatro. Dessa forma, convocamos o Osvaldo Vicino para conversar sob forma reservada com Fran, que era seu primo e assim, esclarecer o seu posicionamento.



Outro fato ocorrido nesse mês de maio, foi que o Wilton Rentero mostrou-nos um som de viola, com nítida influência nordestina, que havia composto. Na época, o Alceu Valença fazia sucesso com seu disco ao vivo, que convenhamos, era (é) visceral e com “pegada de Rock”, visto que sua banda na ocasião, era praticamente o "Ave Sangria" inteiro, uma ótima banda nordestina de Hard-Rock, que mostrava-se um tanto quanto obscura no sudeste / sul do país, mas que Rockers mais antenados, conheciam e apreciavam.



Infelizmente, o Osvaldo e o Fran rejeitaram essa sonoridade, por radicalismos, mas sob votação, eu e Laert apoiamos o Wilton. Desse riff de baião inicial, surgiu "Revirada", uma música com letra forte do Laert, a atacar a ditadura, ainda que com os devidos disfarces metafóricos que havia aprendido a usar com Chico Buarque, principalmente. 


E com uma parte "B", bem Rock'n Roll, composta posteriormente pelo Laert, eis que tornar-se-ia o nosso maior trunfo no repertório, nos meses seguintes.


Continua...

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