terça-feira, 6 de setembro de 2016

Banho & Elogios - Por Luiz Domingues

O ritual do banho nos acompanha desde que nascemos. Mal saímos do ventre materno e somos banhados, ao se estabelecer uma ação higiênica providencial, é bem verdade, mas que dá início a uma realidade que manteremos até o último dia de vida, ou seja, o nosso corpo precisa dessa profilaxia, constantemente.

Sem consciência alguma, o primeiro banho e os subsequentes por um longo tempo, nem causam tanta estranheza pela questão do contato com o elemento da água, visto que imersos estivemos em líquido no ventre materno, por meses.  
Contudo, à medida que a vida avança e passamos a ter as nossas primeiras percepções, tal ato passa a conter outros contornos. Por exemplo, as primeiras sensações de conforto e desconforto ante o choque com a água, ao falar primeiramente de temperatura, logicamente.

Entretanto, o contato com produtos também provocam sensações. Haja vista a questão olfativa, ao mencionar higienizadores tais como: sabonete, shampoo, cremes hidrantes, pomadas e talco, quando o aroma perfumado de tais produtos nos fazem associar a ideia do banho a uma sensação prazerosa.
Não só por isso, mas o contato com a água, geralmente induz o bebê ao fator lúdico, estimulado pelos adultos a interpretar isso como uma brincadeira como um fator agregado e não apenas a visar o aspecto da higiene. 
 
Bem, nem todo mundo gosta do contato com a água, é verdade, mas a tendência principalmente em um país de características tropicais como o Brasil, é a de logo associarmos tal contato com o efeito refrescante.
Houve época que os shampoos, mesmo os infantis, ainda não haviam desenvolvido fórmulas que evitassem que certos componentes químicos causassem ardência ocular. Sou dessa época e portanto, da minha geração para trás, fui um bebê que associava a lavagem dos cabelos à dor e reclamava, via choro, quando a mamãe insistia em passar aquele líquido desagradável na minha cabeça, ao chorar, mesmo antes que acontecesse o inevitável e claro que eu sei que a minha mãe esmerava-se para não deixar acontecer, ao aplicar pouca quantidade e assim tentar inibir o contato do produto com os meus olhos. 
 
Todavia, revelara como algo muito interessante, pois já havia portanto a associação de ideias mesmo nos primeiros meses, hoje eu sei, pois apena por olhar o tubo do shampoo, eu já sabia que aquele líquido causar-me-ia um transtorno desagradável.
 
Fim do banho e o ritual do enxugamento era bom, igualmente. O contato com a toalha felpuda, o posterior ritual da colocação da vestimenta limpa e cheirosa, o rápido pentear, visto que pouco cabelo havia, enfim, tudo agradável.
Algo igualmente muito engraçado, certamente que o comportamento dos adultos, notadamente a mãe que era a principal agente desse ritual, mas de outros tantos igualmente, que pareciam alegres quando tudo consumava-se. Revelava uma sensação alívio da parte deles, que instaurava-se entre todos, como se uma missão difícil acabasse de ser cumprida e todos rejubilavam-se ante a conquista.

E você ali, a ser elogiado por estar limpo e cheiroso, não deixava de reforçar o signo do banho como algo além do necessário para o ser humano, mas absolutamente prazeroso e digno de nota entre todos.

Quando crescemos fica óbvio que um mundo sem a incidência de odores fétidos é desejado pela maioria, mas o banho torna-se algo menos glamorizado, ao adentrar uma rotina, como se ligar o piloto automático... ou você concebe a ideia de elogiar alguém, ou ser elogiado pela iniciativa de tomar um banho?
Bem, em certos casos, dá até para pensar na ideia...       

8 comentários:

  1. Hahahahahah adorei!!! Mas pera lá...na nossa época não tinha shampoo Johnson, só tinha o sabonete! e vc nunca foi esfregado de toalha, rapidamente??? sua mãe não tinha unhas compridas que, inadvertidamente, as vezes arranhavam? rss ótimas, lembranças...o último comentário, muito engraçado...

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    1. Que maravilha que tenha gostado da abordagem desta crônica !!

      Agora, sobre o Shampoo, já existia sim...mas como descrevi, não havia uma linha infantil com fórmula que evitasse componentes que gerassem ardência nos olhos. Portanto, usávamos shampoos normais de adultos que haviam no mercado e estes nem esses eram pensados para evitar tal malefício às vistas. Muitos anos depois, quando começaram a surgir shampoos não agressivos aos olhos, isso foi objeto de propaganda da indústria dos cosméticos e logo a Johnson lançou a linha da "Turma da Mônica" para a criançada não chorar mais no banho...

      A questão da unha longa feminina da mamãe a arranhar-me, nunca aconteceu comigo, mas você tem razão, isso é um fato, no geral.

      E sobre o último comentário...tem uns tipos que quando tomam banho, muito de vez em quando, merecem que comemoremos !!

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  2. Eu só tenho lembrança de minha mão penteando minha "juba", era um horror, muito cabelo e cacheado, e quanto a elogio por tomar banho é engraçado mesmo, o elogio que recebemos agora é pelo perfume. "Nossa, como estas perfumada(o)!"

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    1. Adoro quando o leitor motiva-se a lembrar de suas próprias experiências pessoais. Um dos objetivos dessa linha de crônicas que tenho lançado, visa isso mesmo, ou seja, despertar a auto reflexão, acionando a memória mais remota de cada um, e ao olhar para a primeira infância, buscar a emoção das primeiras descobertas da vida, que geralmente esquecemos, mas que são muito importantes.

      Sobre o que falou ao final do seu comentário, tem toda a razão ! Tornou-se clichê exaltar perfumes quando os sentimos vindo dos outros.

      Grato por ler e comentar !!

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  3. Eu continuo associando o banho a prazer e relaxamento, com óleos, xampoos, cremes cheirosos, um momento particular maravilhoso!!����

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    1. Excelente !!

      São poucas as pessoas hoje em dia que pensam no banho como um momento de relaxamento e prazer proporcionado pela água e contato com os variados aromas dos cosméticos. A tendência é tomar banho automaticamente e com toda a pressa, como se isso fosse um estorvo a nos atrapalhar no cumprimento das tarefas básicas do cotidiano.

      Super grato por ler e postar seu comentário !!

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  4. Oi, Luiz

    Muito interessante o teu artigo.
    Fez-me voltar ao passado.
    Eu não me lembro muito bem. Minha mãe falou que lavava meus cabelos com sabão de coco!!! Segundo ela, os cabelos ficavam ótimos. Macios e com cheiro de coco.
    Se tinha shampoo Johnson, eu não sei. Mas, para filha de operários, devia ser caro.
    Eu não encaro, atualmente, o banho com um momento relaxante, porque tem que ser rápido, para não gastar muita água. rs*** Mas, adoro tomar banho!!!
    Parabéns, pelo artigo.

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    1. Que bom que gostou, minha amiga Janete!

      De fato, não existiam shampoos infantis com aromas adocicados e propriedades que inibissem a ardência nos olhos, antigamente. Usava-se o shampoo de adultos que não tinha a preocupação dos fabricantes em evitar irritação nas vistas, ou o que você disse, sabão de coco (diga-se de passagem uma solução muito boa), ou ainda, o sabonete comum.

      Tem razão, não havia pensado nisso, fora o banho de imersão na tradicional banheira com água parada, nos dias atuais pensar no banho como uma experiência de prazer é proibitiva, com a questão da economia de água que se faz premente como ação de cidadania.

      Super grato pela participação sempre gentil !!

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