Nessas fitas K7 citadas, eu encontrei trechos de jam-sessions, muitos fragmentos de ideias registradas com a intenção de se criar um banco de ideias para se coletar material a visar muitas funções diferentes para montarmos canções e tentativas de se polir trechos em específico, a se buscar a excelência musical.
Muitos desses riffs, ideias de levadas rítmicas ou sequências harmônicas, não foram aproveitadas para se criar novas músicas, a ficarem abandonadas como possibilidades. E houve também o caso de tentativa de construção de músicas inteiras, caso de "Vestido Branco", cuja resolução foi alcançada, mas que lamentavelmente nenhuma cópia dessa canção foi preservada na sua íntegra. Portanto, como fiquei contente por pelo menos achar um trecho de sua construção bruta, para que haja uma pálida ideia, que seja, da sua existência para a história da nossa banda.
Eu vou além e reafirmo que cortá-la do repertório foi um grande erro e neste caso faço o meu exercício de "mea culpa", pois eu forcei a mudança do repertório ao final de 1984, completamente iludido com notícias não comprovadas de que haveria oportunidade para bandas que professassem um outro tipo de sonoridade e no afã de adequar o nosso grupo para essa suposta realidade que abrir-nos-ia portas para avançarmos ao mundo mainstream da música profissional, eis que influenciei mal os meus companheiros na ocasião e assim, o rumo que adotamos logo a seguir não nos acrescentou nada e pior ainda, para nos livrar de estigmas adquiridos que foram inevitáveis nessa investida errônea, perdemos tempo e como agravante, a nos levar para uma terceira reformulação forçada em tempo recorde. Enfim, só estou a contextualizar, pois no meu primeiro livro autobiográfico, essas passagens estão descritas com muitos detalhes.
Em suma, hoje em dia eu me arrependo muito dessa guinada que demos ao final de 1984, e que por conseguinte, nos subtraiu muitas músicas com potencial artístico, casos de "Vestido Branco", Intenções", "Superstar", "Reflexões Desconexas", Utopia", "A Dança das Sombras", "No Reino do Absurdo", "Átila", entre outras, que foram sacadas do nosso repertório, não reaproveitadas jamais na história da banda e consequentemente sem registro nos discos que gravamos posteriores ao compacto de 1984.
Tudo bem que quase todas que eu citei acima são peças instrumentais baseadas nos trâmites do Jazz-Rock, portanto sem intenção Pop radiofônica, a nossa meta na época e isso ameniza a minha consciência, no sentido de que a escolha teve esse amparo de consenso entre os colegas, em prol de um sacrifício necessário.
No entanto, "Vestido Branco", "Superstar" e "Utopia" fugiam desse estereótipo da música anti-comercial. E se amenizada, até "Intenções" poderia se remodelada sem tantas partes e neste caso a ficar "quase" palatável nesses termos.
E sim, no caso de "Vestido Branco", além do caso da letra criada pelo poeta, Julio Revoredo, ter sido um raro caso de poesia de sua parte sem o seu hermetismo intelectual costumeiro, o fato é que a sua estrutura musical em termos de estilo, se baseara no melhor da Soul Music sessenta-setentista, ou seja, no meu caso em particular, a se tratar de um dos estilos que eu mais gosto desde sempre, sob o ponto de vista pessoal, portanto, tê-la suprimido foi um desprazer e o meu castigo "cármico" foi ficar sem uma versão completa dela, ainda que fosse uma audição pobre no tocante ao áudio, registrada em um ensaio, sem nenhum requinte de gravação.
Para finalizar então esse meu lamento, eis que agora pelo menos eu tenho um esboço, com o registro de um momento no qual a banda esteve a compô-la em seu estado bruto, com todo mundo a errar, bem naquela fase de criação livre mediante jam-session e com o esqueleto da canção ainda super indefinido.
Melhor que nada, hoje em dia eu não reclamo, mas valorizo esse achado e a oportunidade de colocar esse áudio na internet via YouTube e quiçá, um dia lançá-lo como peça rara em um eventual disco com caráter "bootleg".
Continua...
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