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sábado, 16 de janeiro de 2016

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 135 - Por Luiz Domingues


Pedra em Ribeirão Preto em janeiro de 2009. Acervo de Junior Muelas

Passada a tentativa de contarmos com uma abertura sem precedentes através de uma revista de circulação nacional do mundo "mainstream" e já a sabermos que não lograria êxito por fatores alheios à nossa vontade e também da parte do jornalista, Sérgio Martins, estávamos novamente a enfrentarmos a nossa realidade underground e permeada pelos seus obstáculos inerentes. 

Os meses de fevereiro e março foram escassos em termos de oportunidades e só houve um show agendado, do qual logo mais eu o analiso. 

O que animara-nos um pouco foram as matérias e resenhas a exaltarem o CD Pedra II, mas naquela altura, com a internet solidificada e a maioria das pessoas a gastarem o seu tempo nas Redes Sociais, notadamente o Orkut (este já desgastado em 2009 é bem verdade, mas ainda com relativa força), publicações impressas tradicionais estavam a perder espaço e por ter sido assim, uma boa resenha foi comemorada por nós, logicamente, mas não repercutiu como em épocas passadas, infelizmente. Eis alguns exemplos:

 
1) Roadie Crew n° 120 

Logo no início de 2009, através de uma enquete promovida pelos colunistas da revista Roadie Crew, o jornalista Antonio Carlos Monteiro citou-nos duas vezes entre os melhores de 2008 em sua opinião, nas categorias: "melhor álbum" e "melhor capa".

2) Roadie Crew nº 123

"O som é calcado no Rock dos anos 60 e 70, com o maravilhoso órgão Hammond, à frente - se bem que a turma não se constrange em colocar em vários momentos aquele groove gentilmente cedido por gêneros como Soul Music e Funk. Já as letras são em português e vez por outra enveredam por temas que tem tudo a ver com a psicodelia dos mesmos anos 60 e 70. E aí que vem a questão : como fazer tudo isso funcionar sem soar datado, sem gosto de comida requentada ou cheiro de naftalina? 

Pois é isso o que faz o segundo disco do quarteto paulistano ser especial ser especial. Rodrigo Hid (guitarra, vocal, violão e teclados), Xando Zupo (guitarra e vocal), Luiz Domingues (baixo e vocal) e Ivan Scartezini (bateria) são veteranos na cena rockeira brasileira, e já aprenderam, na base da abnegação, do sacrifício e de uma autêntica paixão pela música, como operar esse tipo de, digamos assim, pequeno milagre. Então, "II" consegue evocar aqueles tempos que, para muitos, foram determinantes e inesquecíveis na história do Rock deixando claro que se trata de uma produção do Terceiro Milênio. Ousado, o Pedra se permitiu até mesmo abrir o disco com "Filme de Terror", tema do "maldito" Sérgio Sampaio, compositor à frente do seu tempo e que jamais conseguiu o seu devido reconhecimento.

Como se o repertório impecável, a execução irretocável, e até uma produção eficientes não bastassem, a banda ainda se deu ao luxo de ser diferente na "embalagem", que vem em formato inovador e traz uma história em quadrinhos assinada pelo ilustrador Diogo Oliveira.

Nota 9,0"

Antonio Carlos Monteiro 


Bem, já falei diversas vezes ao longo da minha autobiografia que tenho muita consideração, respeito e uma admiração enorme pela categoria do jornalista Antonio Carlos Monteiro. Ele, nessa altura, 2009, já acumulava muitas resenhas de discos meus através de bandas diferentes, desde 1985, sempre a enxergar com o seu olhar clínico cada obra e com isenção ética exemplar, visto que a nossa amizade pessoal desde os anos 1980, ele nunca obscureceu a sua opinião sobre qualquer resenha, entrevista ou matéria que escreveu sobre diversos trabalhos que eu realizei e não foi diferente nessa resenha sobre o CD Pedra II. 

Outro ponto que eu já destaquei quando citei-o em capítulos anteriores, trata-se do fato de que por trabalhar em publicações mais fechadas no nicho do Heavy-Metal (Revista "Metal", Revista "Rock Brigade" e Revista "Roadie Crew"), Tony Monteiro mantinha por hábito situar ao seu leitor padrão, duas questões que são verdadeiras obsessões para os adeptos do Heavy-Metal: cantar ou não em português, e aparentar ser "datado".

Não foi por culpa dele, naturalmente, mas eu compreendo a sua necessidade de sempre tocar nesses dois pontos que são nevrálgicos para os amantes do Heavy-Metal e só lastimo que isso o fizesse perder espaço na lauda a que tinha direito, para poder eventualmente falar de outros aspectos do nosso disco e sei que ele gostaria de assim proceder. Fora isso, só tenho a agradecer por uma resenha tão bem escrita e a enaltecer a nossa obra.

3) Revista Guitar Player nº 155

"Se o trato visual de um disco fosse suficiente, Pedra II estaria no topo das paradas. A banda caprichou e colocou o CD dentro de uma história em quadrinhos. mas, como o que conta é a qualidade das músicas, vamos em frente. No caso do Pedra, a banda já havia mostrado a sua competência no trabalho anterior. A banda é a mesma : Rodrigo Hid (guitarra , voz e teclados), Xando Zupo (Guitarra , voz), Luiz Domingues (baixo e voz) e Ivan Scartezini (bateria). Os principais compositores das 12 faixas, são os guitarristas Zupo e Hid, mas há faixas de outros músicos, como "Filme de Terror", de Sérgio Sampaio- figura lendária da música brasileira. Tudo bem que há o "II" no título do disco, mas Pedra II vai além de apenas uma continuação.Está repleto de boas ideias e vitalidade. 

A sonoridade do repertório está mergulhada na sonoridade dos anos 1970. O Rock do Pedra mantém seu peso, mas ganha o groove de Soul, a ginga do baião, pitadas de Folk e a sombra do Deep Purple. Se "Rock'n Não" tem um solo cuspindo faísca, a balada "Longe do Chão" se desenrola no belo riff amarrado por um solo denso. A dobradinha de solos em "To Indo a Mil", também ficou legal. No miolo do disco está a instrumental "Megalópole", que emoldura alguns dos predicados técnicos da banda. O suingue da levada nos encara a encarar a saraivada de solos. O clima é meio Tommy Bolin. Depois, Zupo e Hid se alinham em uma elegante sequência de guitarras harmonizadas. Uma música que chama atenção".

H.I.S.


Uma excelente resenha escrita pelo colunista cujas iniciais não consegui identificar (desconfio tratar-se de Henrique Inglêz de Souza). Ele exaltou a capa, a sonoridade, o potencial técnico e a qualidade das músicas, além de realçar a ideia de conter uma releitura de Sérgio Sampaio. 

Revista especializada em guitarra, claro que ele prestou mais atenção nesse quesito e no caso, os seus protagonistas em nossa banda, caso de Zupo e Hid. Mas ao contrário do que pensar-se-ia, não exagerou em analisar com minúcias tal quesito e a sua resenha foi construída sob um formato tradicional, sem ater-se apenas à performance dos guitarrista e seus equipamentos e instrumentos usados etc.

4) Revista Rock Brigade nº 259

"A alquimia ficou popular por misturar elementos da química, física, astrologia, arte, metalurgia, medicina, misticismo e religião. E a música, seja como límpida expressão artística ou como força particular interior, continua cada vez mais como uma espécie de elixir da vida. Seja na tradição da Yoga ou da própria alquimia, a busca do elixir da imortalidade provém de práticas de purificação espiritual- que pode ocorrer através da música. 

Num mar de energias e emoções, a música da banda Pedra transmuta metais inferiores em ouro; criando uma panaceia musical universal. Se depender dessa Pedra II, todos os males musicais que atormentam o mundo atual serão erradicados de forma sublime e prazerosa. Os capitães dessa missão são Rodrigo Hid (violão, guitarra, teclados e voz), Xando Zupo (guitarra e voz), Luiz Domingues  (baixo e voz) e Ivan Scartezini (bateria e voz). Em seu segundo registro, o Pedra traz um som único, esbanjando frescor pelos poros, como na instrumental, "Megalópole", ou no clima único de "Longe do Chão", uma faixa com mais de sete minutos de pura inspiração e com uma linha de baixo como há muito não se vê por aí...

"Projeções" tem um leve aroma de Rock Rural, só que com um viajante som de cítara para embalar; enquanto que "Jefferson Messias" nos remete aos deliciosos e incomparáveis anos sessenta. Se recusando a ficar amarrado nas influências do passado, o Pedra avista o horizonte com "Letras Miúdas", se recusando a acreditar em algo que não venha do coração. 

Outra agradável surpresa é a versão da banda para a clássica "Filme de Terror", peça chave da carreira de um dos nossos maiores compositores, Sérgio Sampaio. Falando em música brasileira, "Meu Mundo é Seu" é um exemplo vigoroso da qualidade da música que continua sendo cunhada aqui na Terra do Sol. Acompanhando as vibrações sonoras, o Pedra alarga ainda mais as possibilidades interativas desse novo ainda século, fornecendo também uma história em quadrinhos que acompanha o CD, cortesia do artista multimídia, Diogo Oliveira. Para esse grupo paulistano, a busca pela Pedra Universal, ou pelo Santo Graal chegou ao fim. Não é exagero dizer que Pedra II é a Opus Magna da banda; ou seja, sua grande e mais definitiva obra".

B.A.


Bem, aqui eu sei quem é o resenhista e "B.A." a designar a persona de Bento Araújo, um jornalista de grande poder cultural, que eu admiro muito e tenho o prazer de manter amizade pessoal. Editor da espetacular revista Poeira Zine, nessa época ele assumira o cargo de editor da revista Rock Brigade, que passava por profunda reformulação em sua redação. 

Alheio aos maneirismos do mundo do Heavy-Metal, que sempre caracterizaram a linha de conduta dessa publicação, Bento não ateve-se aos paradigmas típicos de jornalistas desse nicho, tampouco de seus leitores padrão, portanto, não tocou em tópicos "tabu" como o fato de "cantarmos em português" ou sermos ou não "datados".

Por ser uma persona fora desse nicho, tais questões nem passavam pela sua cabeça e assim, a sua resenha foi escrita como se estivesse a publicar em outro tipo de revista, quiçá na sua própria, o "Poeira Zine". 

Outro fato a ser destacado, trata-se de que esta resenha é uma das mais poéticas que eu já li. Inspirado ao extremo, Bento fez várias citações subliminares a trechos de letras de nosso disco, e a evocar aspectos místicos, a sua linha mestra de raciocínio, a falar em alquimia/busca da elevação via Santo Graal, justificou-se. 

Ao ir além, creio que a inspiração nesses aspectos, digamos, "iniciáticos", ficou muito bonita ao meu ver, embora eu faça a ressalva de que o Pedra nunca desfraldou tal bandeira e se houve misticismo embutido na nossa obra, foi sutil e perpetrado pelas letras do Rodrigo nesse sentido, poucas aliás, pois o Xando não gostava dessa linha de criação. 

Mas em suma, gostei muito que o jornalista Bento Araújo tenha tido essa visão do Pedra II e convenhamos, apesar de alguns aspectos destoantes, há sim um misticismo implícito, não só pela canção "Projeções", mas também pela capa, por conta de alguns signos desenhados pelo Diogo Oliveira, principalmente a mandala. 

Sobre as considerações mais musicais, Bento foi preciso e isso não surpreendeu-me, pois eu sabia de antemão e de muito tempo, aliás, sobre a sua avassaladora cultura sobre o Rock das décadas de sessenta e setenta e por isso, ficara óbvio que a sua antena aguçada notaria diversas influências nas nossas músicas e arranjos, nesse aspecto.

Por fim, foi quase um voto de esperança para que o Pedra atingisse os seus objetivos, mas a estender a de uma súplica para que dias melhores viessem para a música (e se em 2008/2009, esteve difícil de aguentar o panorama mainstream, o que dizer de 2016, quando escrevo este trecho e vemos com estupefação uma queda vertiginosa em relação ao panorama da época que citei?). 

Sempre foi um teste de resiliência e tanto para quem cresceu a absorver a música em geral e o Rock em específico, sob patamares estratosféricos. 

Não por que falou bem, pois o leitor atento que leu toda a minha autobiografia, sabe muito bem que eu aceito crítica negativa, desde que com embasamento e senso construtivo, mas esta resenha foi uma das melhores que eu já tive sobre um trabalho meu e creio que para o Pedra, também em sua história.

5) Revista Guitar Player nº156 

Uma excelente entrevista específica com nosso guitarrista, Xando Zupo, na qual perguntas técnicas foram feitas, a se honrar as tradições de uma revista setorizada, obviamente. Todavia, com bastante espaço para o artista falar sobre os aspectos mais subjetivos da criação da banda e do novo álbum como foco, naturalmente.

Continua...

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 98 - Por Luiz Domingues

A história da música:  "To Indo a Mil" é interessante, pois diz respeito a uma etapa anterior da minha carreira e a de Rodrigo Hid, também. 

Essa canção que de sua composição há muitos anos, na verdade foi uma criação que ele trouxe logo no início dos trabalhos do Sidharta, banda que nós fundamos juntos em 1997. 

Nessa ocasião, ela chamava-se: "Estar Feliz Consigo". Tratava-se de uma música bem ao estilo do R'n'B da velha guarda, estilo "Motown", com três partes bem construídas.

No tempo do Sidharta, ela foi arranjada nesses moldes da Black Music clássica e foi uma das nossas maiores esperanças de êxito para a carreira da banda, no futuro que projetávamos. 

Quando o Sidharta fundiu-se à Patrulha do Espaço, essa canção acabou por ficar de fora dos planos iniciais da banda, mas particularmente, eu sempre acreditei no potencial Pop que ela possuía.

Tanto foi assim, que eu e Rodrigo providenciamos a gravação de uma demo-tape em que apenas eu e ele participamos, ao visarmos inscrever tal canção no Festival que a Rede Globo lançou em 2000. 

O Rolando Castello Junior não quis entrar em estúdio oficialmente, mas não opôs-se ao nosso esforço isolado e assim, nós gravamos de uma forma muito caseira, a utilizarmos um port-studio com oito 8 pistas e o uso de uma indefectível bateria eletrônica. 

Claro que foi uma gravação simples, com aspecto caseiro, mas mesmo assim, acredito ter ficado digno o resultado e suficiente para o envio ao festival. Apesar dessa confiança auto adquirida, claro que não fomos classificados, mas acredito que nem se a tivéssemos gravado oficialmente com a banda inteira e mediante o uso de um estúdio de qualidade, teríamos logrado êxito, visto que em meio a um festival desses, a possibilidade das cartas marcadas foi grande. 

E por que mandamos, mesmo assim, se sabíamos tratar-se de algo quase impossível? 

Ora, na dúvida, a única certeza que temos na realidade é que só não ganha mesmo na loteria, quem não faz uma aposta.  

O tempo passou e essa canção culminou em não ser mesmo aproveitada pela Patrulha do Espaço. Quando o Pedra iniciou as suas atividades, o Rodrigo também não lembrou-se dela por ocasião do primeiro disco, mas quando começou a movimentação em prol do segundo, ele a resgatou da gaveta. 

Eu entusiasmei-me, é claro, pois sempre apreciei-a e acreditava muito no seu potencial Pop. Acreditava inclusive que ela encaixar-se-ia ainda melhor à mentalidade do Pedra, do que mesmo ao Sidharta e certamente mais em relação à Patrulha do Espaço.

Todavia, a música passou por algumas modificações estruturais, principalmente na questão da letra que foi totalmente reformulada e também na melodia que ganhou modulações bem diferentes. 

A estrutura rítmica permaneceu na estética da Black Music clássica, contudo, embora de minha parte, a linha do baixo tenha mudado um pouco, ao acompanhar a criação do Ivan Scartezini, diferente do que o Zé Luiz Dinola fazia no tempo do Sidharta.

A letra teve a colaboração do Xando, que sempre gostava de participar ativamente desse quesito, mas houve também uma sutil colaboração da atriz/cantora Lu Vitaliano, que inspirou um frase na construção da letra. Tal inspiração foi considerada vital e daí, o seu nome ter sido incluído como parceira na composição. A música entrou enfim no "Pedra II" e tornou-se bem requisitada nos shows da banda.

O áudio de "Tô Indo a Mil", do disco:
Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=w4KdYfcmjfU

Continua...