Começo uma nova etapa da minha autobiografia, ao publicar as histórias dos trabalhos avulsos que realizei na música. Por atuar como side-man ou a participar de projetos de bandas que não deram certo, realizei diversos trabalhos paralelos às bandas onde atuei de forma mais contundente, no âmbito do trabalho autoral. Passo a enfocá-los aqui no meu Blog 2, para conferir continuidade ao relato. Como já ficou claro no início da narrativa, no tópico "Boca do Céu", meu início de fato na música, com instrumento, mesmo ao não saber tocar nada, foi em 1976, na formação dessa primeira banda que teve vários nomes, e quando definiu-se como "Boca do Céu", em março de 1977. Segui firme com essa banda, ao aprender a tocar um instrumento a duras penas, e só lá pela metade de 1979, quando a banda estava a diluir-se, aceitei fazer o meu primeiro trabalho paralelo. Para explicar isso, preciso recuar um pouco no tempo.
Logo que me mudei-me para o Tatuapé, bairro da zona leste de São Paulo, no início de 1977, tornei-me amigo de uma série de amigos de meus primos, os irmãos Turci, que já moravam lá, há bastante tempo. Eram freaks em sua maioria, muitos deles músicos e por serem mais velhos, tocavam sob um nível técnico melhor que o meu, ou o da minha banda naquele instante. Fiz amizade com vários, e logo tornaram-se companhia em shows de Rock e a realizar intercâmbio com discos e livros emprestados. Entre eles, fiquei muito amigo de um rapaz chamado, Alcides Trindade, vulgo Cidão, que era baterista e tinha uma bela coleção de vinis.
Ele tocava sob um nível mais alto, pois eu engatinhava ainda no aprendizado musical.
Sua banda desmanchou ainda em 1977, mas logo no início de 1978, conheceu uma garota que era atriz, e ele, por sua indicação entrou em um grupo teatral, para participar como músico e com direito a pequenas intervenções como ator, visto que em tese, ele não tinha essa técnica. Por volta de maio de 1978, fui assistir a montagem de "Mais Quero Um Asno Que Me Carregue, Do Que Cavalo Que Me Derrube". Na verdade, o nome certo dessa peça é : "Auto de Inês Pereira" e foi escrito pelo dramaturgo português, Gil Vicente, no século XVI. O grupo teatral chamava-se, "Vereda" e era liderado pelo diretor / ator / pianista, Tato Fischer.
A fachada do Teatro João Caetano, na zona sul de São Paulo
Assisti o espetáculo no teatro João Caetano, na Vila Clementino, zona sul de São Paulo, e fiquei impressionado com a desenvoltura do Cidão Trindade, a tocar e atuar. Visto hoje em dia com a experiência que tenho agora, não foi nada demais, mas naquela época, diante de minha visão infantojuvenil, achei ótimo.
Como o Cidão (aliás, orientado pelo Tato, ele trocou o apelido aumentativo e prosaico pelo nome artístico, "Cido Trindade", doravante), enturmou-se bem com o grupo teatral Vereda, prosseguiu em cartaz com aquele espetáculo que citei. Mas o Tato tinha em mente montar um show para avançar na sua carreira musical. Como ele era cantor, pianista e compositor, começou a ensaiar seu show com o mesmo time de músicos que fez parte musical da peça, Cido incluso na bateria, e incorporou um tecladista, para que ele pudesse ficar livre no palco, apenas a cantar e interpretar as canções.
Por volta de outubro de 1979, o Cido procurou-me, e queria saber se eu aceitaria entrar nesse grupo de apoio, pois havia feito alguns shows, e os músicos da banda não estavam contentes com o baixista que estava na formação. Mas fez uma ressalva : eu teria que fazer um teste. Não ofendi-me, pois sabia que ele tinha desconfiança sobre o meu nível técnico e antes de indicar-me, queria estar seguro para não sofrer nenhum constrangimento, caso eu não correspondesse.
Marcou comigo um som na casa dele, em um dia de semana à tarde.
Ao chegar lá, tocamos por meia-hora aproximadamente. Cido puxou vários ritmos, com andamentos diferentes; viradas e dinâmicas, a testar-me. Pus-me a tocar, sem demonstrar insegurança, e a ofertar o melhor de mim, no que eu podia fornecer naquela altura. Ao final, a mostrar-se até surpreso, elogiou-me, ao dizer-me que eu havia evoluído muito, e que por ele, estava na banda, e só faltaria comunicar seu parecer ao Tato.
Ao chegar lá, tocamos por meia-hora aproximadamente. Cido puxou vários ritmos, com andamentos diferentes; viradas e dinâmicas, a testar-me. Pus-me a tocar, sem demonstrar insegurança, e a ofertar o melhor de mim, no que eu podia fornecer naquela altura. Ao final, a mostrar-se até surpreso, elogiou-me, ao dizer-me que eu havia evoluído muito, e que por ele, estava na banda, e só faltaria comunicar seu parecer ao Tato.
Fiquei muito eufórico, pois o Cido conhecera-me como um aspirante a músico, terrivelmente ruim em 1977. Em 1978, a título de improviso, Cido Trindade tocara em um show do "Bourrèbach" (o "Boca do Céu" com novo nome), e fora um desastre.
A má impressão foi inevitável naquela ocasião. Aprovado pelo Tato, comecei a ensaiar, indo à casa dele tirar as músicas de uma forma intensiva, só com ele ao piano, e ensaios com Sérgio Henriques (o tecladista do trio de apoio), e Cido Trindade.
O último show com o baixista antigo, seria realizado em 28 de outubro de 1979, na cidade de Cubatão, litoral de São Paulo.
Continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário