terça-feira, 5 de julho de 2016

A Conquista da Mobilidade - Por Luiz Domingues

Tudo é instinto nessa fase inicial da vida, e isso é tão forte, que mesmo quando vamos a aumentar o poder da racionalização, ainda os seguimos, simplesmente.
 
Nesses termos, desde que nascemos, nos movimentamos em alongamentos instintivos que visam dar vazão ao fenômeno do crescimento e mais do que isso, a preparar a musculatura e os ossos, para enfrentar a vida que é plena de movimentação por natureza e necessidade.
Fazemos isso desde o berço e na verdade já o fazíamos em estado de absoluto torpor, submersos no líquido amniótico, dentro do ventre materno, quando ao nos espreguiçarmos, chutávamos a nossa progenitora, mas sem maldade alguma, deduzo. Foi por puro instinto em curso.
 
Nascemos enfim, e somos mini humanos, mamíferos vertebrados, inteligentes, mas completamente inaptos para suprirmos as nossas necessidades básicas, por um longo período. 
Todavia, o instinto está ali em plena função para nos induzir à procura do movimento, sempre. E assim, um dia, o brinquedinho colorido que faz barulhinhos engraçados, fica longe do nosso alcance e mais forte que chorar para chamar a atenção do adulto mais próximo disponível que sempre vem nos auxiliar, o comando instintivo faz com que você tente alcançá-lo por sua própria conta.

E se está no chão e ainda que protegido por uma armação curiosa que os adultos colocam ao seu redor, você busca se mexer e aos trancos e barrancos, busca incansavelmente conseguir o deslocamento.
Através dessas primeiras tentativas, não somos muito diferentes de tartarugas que ficam às vezes com o casco para baixo e promovem assim esforços desesperados para reverter o quanto antes a situação desfavorável. 
 
E quando chegamos ao objetivo alcançado, os adultos vibram e o pequeno humano só absorve que tal euforia é prazerosa, mas nem deduz que é por conta de seu feito, um verdadeiro campeão atlético...
Não percebe tampouco que aquela conquista abrira campo para novas investidas. Você é um alpinista inconsciente e não sabe que ao se erguer por uns poucos centímetros do chão, abriu caminho para alcançar o cume do Everest, se um dia o desejar.

E assim, as suas investidas começam a ficar cada vez mais interessantes. Agora você consegue locomover-se de um cômodo a outro da sua residência! Os adultos comemoram e outros adultos são chamados para te ver a se esforçar por isso, quando todos sorriem para você.

Mas há o lado ruim nessa mobilidade adquirida:  o caminho é minado... existem muitos perigos à sua espreita. Conquistas enormes que os adultos chamam de “móveis”, podem ser perigosos. Objetos podem cair de cima desses obstáculos, fora que o tempo todo algum adulto lhe diz para não tocar em pequenas caixinhas colocadas nas partes baixas, que pelo tom de voz deles, parecem representarem terríveis fontes de perigo. 
Não sabia raciocinar ainda, mas por que aquilo existia se era perigoso colocar o dedo? O que é uma tomada? O que significa “energia elétrica?” Bem, tais respostas só viriam bem depois. O melhor a fazer foi acostumar-me com a advertência de não tocar naquilo e nada mais. 
 
Mais alguns meses e outros perigos entrariam nessa lista de proibições.
 
Definitivamente, o Lar era maravilhoso pelo seu conforto proporcionado pelos adultos a visar o seu bem-estar, mas já computava-se a ideia de que haviam aspectos negativos. 
Tal qual a realidade dura lá de fora, o lar já preparava a consciência para entender que a dualidade entre bem e mal norteia a vida.

Mas nada disso era inteiramente compreendido nesse instante.  O que importou nessa fase em que agora me encontrava, foi que eu conseguia deslocar-me e assim saciar a minha sede por experimentações, como um pequeno explorador deslumbrado em conhecer um novo planeta, ou uma outra estranha dimensão. 
Os adultos chamam essa mobilidade primitiva como: “engatinhar”.
Trata-se de um verbo. Engatinhar é na prática, o início da nossa independência.  
Daí a pedir a chave do carro para o pai, acontecem muitos fatos nesse ínterim e demanda tempo. Mas como tudo é ponto de vista, pode passar a voar, também. É uma questão de percepção sobre aproveitar o tempo de vida, o melhor possível.

8 comentários:

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    1. Mas que bom que apreciou, Christine !

      Seguimos em frente com essas observações sobre a primeira infância.

      Muito grato por ler e comentar !

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  2. Respostas
    1. Exatamente !

      Uma longa e produtiva jornada pela frente...

      Grato por ler e comentar !!

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    1. Grato, Kim !

      Fiquei contente por saber que apreciou.

      Grato por ler, comentar e elogiar !!

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  4. Assisti o filme "O começo da vida" no Netflix e recomendo. Esta época da vida de todos nós é mega importante. Adorei a crônica!

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    1. Maravilha de dica, Lourdes ! Vindo de você a referência, só pode ser coisa boa.

      Grato por ler, comentar e elogiar a crônica !

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