sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Entrevista: Rubão Sabino - Por Luiz Domingues

Rubão Sabino é um grande artista. Sei disso desde os anos setenta quando tomei contato com sua atuação brilhante em discos e shows ao vivo com grandes artistas da MPB, todos verdadeiramente sensacionais com os quais ele tocou com o seu baixo super "swingado", sendo um dos maiores, senão o maior baixista brasileiro especializado em Black Music em geral. 

Rubão é mestre nos estilos da Soul Music, R'n'B, Funk; Rock'n' Roll e ao mesclar tudo isso à MPB, ele verdadeiramente arrebentou ao gravar dúzias de discos de grandes astros da música brasileira, ao nos legar arte, beleza e portanto, a escrever o seu nome na história. 

Ao visar elaborar uma matéria para a Revista Bass Player, da qual eu fui colaborador, eu o entrevistei e assim como ocorrera com o grande Carlão Gaertner, a entrevista ficou tão rica, que independente da matéria condensada para a revista, faço questão de publicá-la na íntegra, aqui no meu Blog 2.

Mais que um extraordinário músico, Rubão Sabino é um Ser Humano incrível. As nossas conversas reservados pela Rede Social Facebook revelaram-me um outro lado do artista que eu já admirava, ao se mostrar como uma pessoa sensacional. 

Solícito, bondoso e de uma humildade cativante, se eu já gostava dele como artista, a minha admiração aumentou em 100% depois que conheci o lado humano dele, também.

"Alegria, alegria: é manhã de um novo dia, podes crer, amizade!"

Com vocês, o mestre do swing no Baixo, o grande Rubão Sabino:

Blog Luiz Domingues 2 - Fale-me um pouco do seu interesse inicial pela música, na infância e adolescência

Rubão Sabino - Começou assim: meu pai João Sabino adorava musica e tocava muito bem sanfona de 8 baixos. Quando ele tocava pra mim o que eu ouvia primeiro era os ritmos que que viam dos baixos. Ele também tinha um acordeon, e um violão e me ensinou uma musica que ela em si era uma linha de contra baixo, mais, eu comecei fazendo ritmo com ele tocando pandeiro nos baile que ele tocava lá em Cachoeiro do Itapemirim (Espírito Santo), cidade onde nasci. Com 11 anos fui para o Rio de Janeiro,e entrei no clima das escolas de samba, tocando repinique passei pela Independente de Padre Miguel; Arranco do Engenho de Dentro, e arrastão da rua onde morava. Com 13 pra 14 anos, começou a loucura... as únicas referências que eu tinha no subúrbio, eram o rádio, TV e vitrolas. 
 
Nos nossos discos dava para selecionar e desenvolver um gosto por musicas mais elaboradas, mais a TV e o rádio, eu ia no bolo...ouvia tudo nesta época e comecei a frequentar os bailes com altas bandas. Apoiado por meu pai, junto com os meus colegas resolvemos montar uma banda da qual eu era o guitarrista. 
Blog do Luiz Domingues 2 - Conte-me sobre quando começou a tocar efetivamente o baixo 

Rubão Sabino - Com 15 anos um colega me levou no centro do Rio, no Largo da Carioca pra conhecer uma gafieira que tinha baile todo os dias, isso em 1965, e lá não tinha contra baixo, o dono do "Máximo Dance", abriu um crediário pra mim e eu comprei o meu primeiro contra baixo, um baixo Phelpa, e naquele momento não tinham baixistas disponíveis, era uma novidade o baixo eletrônico, estava tudo no começo e já tinha muito bons guitarristas na praça então optei escolhendo o contra baixo definitivamente, e fiquei fixo na gafieira tocando de sexta, sábado e tocando em outros lugares aos domingos, tipo "Estudantina" da Praça Tiradentes em termos de gafieira, junto a Máximo Dance eram as principais, e então eu toquei em todas as gafieiras do Rio, onde eu aprendi e desenvolvi um conhecimento em todos os tipos de musicas dançantes e seus ritmos 
Blog do Luiz Domingues 2 -  Fale-me da cena musical de quando entrou efetivamente na música

Rubão Sabino - Em 1966 e eu entrei para uma banda e ela era basicamente de Rock e onde ensaiávamos tinha uma quantidade enorme de discos de toda turma americana de 1950 a 1965, então pude ouvir tudo que eu podia de Rock. Tinha muitos bailes, ótimos músicos, musicas de boa qualidade, os clubes promovendo música ao vivo com domingueiras.
 
Em 1967, 1968, toquei em muitos bailes com diferentes bandas : Som OK 5 (de Taubaté-SP), Conjunto Serenade (de Volta Redonda-RJ) e outras grandes bandas do Rio, onde destaco o grande Ed Lincoln, e a super banda Fórmula 7, com Hélio Delmiro e Cristovão Basto, além de Gerson King Combo Banda..
Blog do Luiz Domingues 2 - Conte-me sobre sua atuação com Dom Salvador e Abolição

Don Salvador me viu e ouviu em um programa de TV, fui ensaiar e durante o ensaio ele sorria de felicidade porque ele tinha encontrado a pulsação e ponte entre a harmonia e ritmo. Com a sua orientação entrei no universo complexo das gravações. 
 
Com Dom Salvador gravei muitos artistas da Odeon e CBS e outras gravadoras entre eles Elza Soares, Tony Tornado, além de participarmos do Festival da Canção, fazendo muitos shows na noite do Rio, filmamos pra TV com a grande Elis Regina.
Rubão Sabino a tocar com Dom Salvador e Abolição com participação de Elis Regina em 1971, em meio a um especial de TV. Rubão arrebenta no groove do seu baixo Fender Precision...
Blog do Luiz Domingues 2 - Fale a respeito de sua atuação ao lado de Toni Tornado

Rubão Sabino - O Toni Tornado era muito ligado em James Brown. Quando ele sentiu a minha pulsação, pirou. Gravamos um LP e Compacto, e entre as musicas, "Podes Crer Amizade" um soul de primeira gravado no Brasil.  
 
Em 1970, eu tinha 21 anos de idade e queria saber de tudo um pouco. Em 1971, por motivos ideológicos o grupo deu um tempo e voltou em 2012, em  3 apresentações relâmpagos em São Paulo, quando gravamos um especial para a TV...
Rubão Sabino arrebenta no Power Soul: "Podes Crer Amizade", clássico do repertório de Toni Tornado, uma música que eu, Luiz Domingues, ouvia em 1971, quando nem sonhava em tocar baixo e ficava enlouquecido a ouvir o groove inacreditável do Rubão Sabino

Blog do Luiz Domingues 2 - E com outros artistas, notadamente Gilberto Gil, quais discos gravou e quais histórias boas tem para contar? 
Rubão Sabino - Com o grupo Abolição fiz show e disco com fantástico Jards Macalé, "Aprendendo a Nadar". E o Jards era ligado ao Gil, que me viu no show. 
 
O Gilberto Gil é fantástico, musicalmente, com bom gosto harmônico, e tem o dom da fala, com ele fiz shows no Brasil inteiro, em várias capitais do Brasil. Talvez tenha gravado 80 por cento das suas obras em disco, foram muitas turnês. 
 
Teve uma que durou 5 anos partindo de Paris, França para várias cidades. América, capital e varias cidades; Alemanha, capital e varias cidades; Itália, capital e várias cidades; turnê no Japão; shows em Israel; Argentina...
 
Quando eu estava agregado à família do Gil, moramos em Los Angeles, e lá gravei disco e me diverti muito ao lado dele.
Rubão Sabino gravou muitos discos e excursionou muito pelo mundo inteiro com Gilberto Gil
Acima, a tocar ao vivo com Gilberto Gil em 1978, na Suíça, no Festival de Montreux. Ao lado de um super banda (Pepeu e Jorginho Gomes dos Novos Baianos, Mu Carvalho da Cor do Som e o percussionista Djalma Correa), destrói com seu baixo

Blog do Luiz Domingues 2 - Sobre o baixo, especificamente, fale sobre seu estilo Soul de tocar e quais baixistas internacionais e brasileiros o inspiraram, a criar o seu estilo  
Rubão Sabino - Na minha influência de baixistas brasileiros vem o Sebastião Neto do "Brasil 66", de Sérgio Mendes, e Tião Marinho, baixista de estúdio fixo na época da gravadora Odeon e que me ensinou a ler cifras, além do meu fã Luizão Maia, meu amigão que ficou assombrado comigo e me assistiu gravando várias vezes.
 
Ele adorava o meu balanço em forma de condução. No soul e derivados, James Jamerson, no Jazz, Ron Carter; no Pop, Abraham Laboriel, que é meu meu camarada, e sem exceção, todos os baixistas que eu ouvi na vitrola. Mas eu tenho um sentimento que meu groove vem de Luiz Gonzaga, das suas primeiras gravações que eu ouvi quando criança. 

Blog do Luiz Domingues 2 - Fale a respeito desse feito que considero muito importante, em ter sido considerado o primeiro baixista a usar baixo Fender com pulsação e ser tão preciso no tempo. E acrescente um dado: usava Fender Jazz Bass, ou Precision, ou ambos? 
Rubão estraçalhando com um baixo Fender, a tocar na "Companhia Paulista de Rock", a espetacular banda que acompanhava Erasmo Carlos, nos anos setenta

Rubão Sabino - Usei baixo Phelpa, Giannini, Snake, Music Man, GL, Yamaha, Ibañez, Fodera. Mas os baixos da Fender, Precision e Fender Jazz Bass, que pra mim são os que representam a sonoridade perfeita em termos da eletrônica a sonoridade básica, e em relação ao baixo eletrônico. É o "Land Rover"...Vai em todas!!

Nota do editor: como baixista que sou também, concordo inteiramente com a impressão do Rubão: Fender é o baixo ideal para se tocar Black Music e fim de papo!
Blog do Luiz Domingues 2 - Conte-me sobre outros trabalhos realizados, gravações, bandas paralelas e produção musical de outros artistas com os quais envolveu-se até os dias atuais

Rubão Sabino - Tive banda com Marcelo Yuca (ritmos africanos e Jamaicano), tive também banda instrumental/fusion com Léo Gandelman, Willian Magalhaes e já fiz uma apresentação com dois contrabaixos: Rubão e Nico Assumpção.

Blog do Luiz Domingues 2 - Explique-me sobre o documentário sobre sua carreira, feito com apoio da Secretário de Cultura do Espírito Santo e qual é a participação de Diego Scaparo nessa produção. 
Acima, Rubão a conversar com membros da produção do documentário em sua homenagem e a se observar o visual de sua cidade, a bela Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo.
 
Rubão Sabino - Diego Scapara é um cineasta de Cachoeiro do Itapemirim e quando jovem ouvia muito o Gil. E o Gil fez uma musica pra mim que tem o nome do meu pai, João Sabino, e cita Cachoeiro. 
 
Ele foi na internet/google e puxou os meus trabalhos e pirou! São muitos, uma ficha enorme ligando-me aos grandes cantores; cantoras; músicos antológicos brasileiros com que eu tive a honra de trabalhar. 
 
Ele fez um projeto e enviou para a Secretaria de Cultura do Espírito Santo e o projeto foi bem recebido pela Secretaria. Do começo até o fim levou 3 anos, foi muito legal por que fazia 40 anos que eu não voltava à minha cidade natal.

Blog do Luiz Domingues 2 - Quais os seus baixos e set de equipamento na atualidade?

Rubão Sabino - Tenho dois amplificadores: um Acoustic e um Yamaha. Um baixo acústico e à minha disposição, um Music Man, um Fender Jazz Bass e um Ibanez de seis cordas 
Eis acima um entre inúmeros discos clássicos da MPB setentista que teve o brilho do espetacular baixo de Rubão Sabino registrado para sempre!

Blog do Luiz Domingues 2 - Como define sua escolha de instrumentos/equipamentos e timbre? 
Acima, a faixa título de um outro grande disco de Gilberto Gil em que o Rubão Sabino muito brilhou, ou melhor: Realçou!

Rubão Sabino - Poxa Luiz, eu sou um musico bem simples. Quando eu comecei não tínhamos muitas opções como temos hoje, pra mim funciona assim de acordo com a "gig", dependendo de quando eu vou ganhar, os baixos que eu tenho no momento servem para manter a me manter em forma por hoje no show business. É tudo muito complexo, além do som envolver o visual e o momento, tendências. Comecei a gravar em 1968 e estamos indo pra 2017 e me sinto dentro de todos os contextos atuais em relação ao baixo.

Nota do editor: músico simples? O  Rubão é genial e demonstra ser muito grande com essa humildade cativante! Os realmente grandes são humildes, não tenho dúvida e Rubão faz parte desse seleto rol.
             "Rubi no Sabão" e o swing total de um mestre

Blog do Luiz Domingues 2 - Fale de seus planos atuais e para o futuro.

Rubão Sabino - Meus planos atuais são de tocar muito contrabaixo, estudo piano, guitarra, canto e compor. Tenho um trabalho praticamente pronto com exceção da bateria que é o Ronaldo Silva que gravou e eu toco todos os outros instrumentos e canto...tenho um disco instrumental raridade, "Rubi no Sabão".

O Blog Luiz Domingues 2 agradece pela entrevista, simpatia a história, a música o groove e o baixo Fender muito bem tratado pelas mãos de um gênio chamado: Rubão Sabino!
Ouça acima, Rubão Sabino a arrebentar no swing com Dom Salvador e Abolição em "Uma Vida"!

2 comentários:

  1. Excelente o trabalho e a contribuição do Rubão Sabino para nós. E também sua excelente ideia de entrevistá-lo. Mandou muito bem Luiz!

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    1. Exatamente, Lourdes !

      O legado desse grande artista para a música brasileira, é imenso. E fico contente em ter feito essa entrevista com ele e ainda mais por saber que você gostou.

      Grande abraço !!

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