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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Autobiografia na Música - Boca do Céu - Capítulo 13 - Por Luiz Domingues


Apesar desse baixo astral em ter tido contato direto com a repressão da ditadura, aquele período foi um dos mais luzidios que tive, culturalmente. Aliado à euforia de ver a minha banda em processo de crescimento (embora com a experiência adquirida de hoje em dia, é claro que eu considero as limitações artísticas que tínhamos), foi também uma época onde assisti dúzias de shows; cinema; teatro; exposições e palestras, as mais variadas. Quando não foi com o pessoal da banda, aconteceu com outros amigos ou com meus primos. Fora as inúmeras vezes em que ajudei o Laert a vender a sua revista, "Sarrumorjovem", em lugares estratégicos da cidade. Lembro-me que nesse mesmo mês em que vi os Novos Baianos no Tuca (em duas sessões), vi também uma sensacional maratona no Sesc Vila Nova, no Teatro Pixinguinha. Nessa noite, assisti artistas como : “Jorge Mautner”; “Made in Brazil”; “Bendengó”; “Papa Poluição”; “Flying Banana”, e “Hermeto Paschoal”.

Em um outro sábado, maratona de Rock no ginásio da Portuguesa de Desportos, com : “Mutantes”; “O Terço; “Made in Brazil”; “Sindicato”; “Novos Baianos”; “Joelho de Porco”...


Mas foi no final de maio, que enlouquecemos de vez. Um gigante do Rock aportava na terra tupiniquim : “Genesis”... tratou-se da tour do disco, "Wind and Wuthering", lançado em 1976, e o segundo trabalho sem o seu mítico vocalista, Peter Gabriel. Apesar da desconfiança inicial em torno do fato do baterista, Phil Collins, ter assumido o vocal solo da banda, essa continuidade do Genesis pós-Gabriel estava aprovada, pois o Collins deu conta do recado, pelo que apuramos ao ouvir os dois discos recém lançados. E nessa fase, a orientação da banda ainda era pelo Prog Rock que consagrara-a. Perdeu-se com a falta da teatralização toda, marca registrada do Peter Gabriel, mas o Collins revelou-se não só um excelente vocalista, mas também um frontman desinibido e muito carismático. 
Eu; Osvaldo Vicino e Laert Sarrumor fomos ao Ginásio do Ibirapuera na noite do dia 20 de maio de 1977. Já havia assistido o show de Rick Wakeman, em 1975, mas o Genesis foi demais. Ouvir "Supper's Ready", ao vivo, no alto de seus gloriosos vinte e três minutos de duração, foi um “desbunde”. Quando chegou naquele trecho em que canta-se, "Flower", duas flores infláveis imensas surgiram nas laterais do palco. E "desbundes" assim, só davam-me mais ânimo para sonhar com o Boca do Céu a ascender...

Lembro-me que apesar do frio de rachar, fui trajado a ostentar orgulhosamente uma camiseta que o Laert desenhara para mim, manualmente, com a capa do LP "Rising", do “Rainbow”. Assistimos na arquibancada, como pobres mortais, mas víamos na ala vip, Rita Lee e membros do Tutti-Frutti, o Jet Set do Rock Brasuca... outra lembrança incrível : foi o primeiro show de Rock no Brasil com um artista internacional a usar raio laser, como efeito especial. 


Nesse vídeo acima, um trecho filmado através de uma velha filmadora "Super-8", a conter uma música do show do Genesis no Ibirapuera

Esse é o link para assistir no You Tube :

E acima, o áudio do show de 21 de maio de 1977, no Ginásio do Ibirapuera de São Paulo, que um abnegado fã gravou e com boa qualidade. Bem simpático a postura do Phill Collins, a  esforçar-se para falar em português com o publico ali presente e a constatação que a banda vivia grande fase, com o som redondo, apesar dos ventos serem tenebrosos para o Rock Progressivo em 1977, mas aqui no Brasil nós nem percebíamos isso, naquele momento... ainda bem...

O link para ouvir esse show do Genesis em São Paulo, na íntegra :
https://www.youtube.com/watch?v=HfiWwN7TRPo 

Quando os raios laser foram acionados, o público teve uma reação de “Jeca Tatu”, ao soltar em uníssono um grito com a interjeição, "OOOOHHH", que foi engraçado, por exacerbar o nosso terceiro-mundismo envolto no atraso...


A banda só cometeu uma falha, mas na verdade quem errou feio o público brazuca, com seu fanatismo despropositado. Quando voltaram para o bis, estavam todos a usar camisetas do Santos FC. O raciocínio dos britânicos deve ter sido : qual é o time do Pelé ? Deve ser o mais popular, certamente... não contavam com a reação de repulsa dos corintianos; palmeirenses, e sãopaulinos na plateia...



Uma vaia mastodôntica deixou-os atordoados e rapidamente voltaram ao camarim para retornar então com as camisas amarelas da seleção brasileira... mais um atestado de “caipirice” que assinamos... mas alheios às nossas reações prosaicas, foi um grande show deles !
Continua... 

sábado, 21 de julho de 2012

Autobiografia na Música - Boca do Céu - Capítulo 12 - Por Luiz Domingues

Essa foto acima, é o mais remoto registro fotográfico da minha carreira na música. Trata-se da formação em quinteto do Boca do Céu, quando o guitarrista Wilton Rentero entrou para a banda, aproximadamente em março de 1977. Não tenho a data exata da foto, mas pelos trajes leves, deduzo ser ainda de março, mais tardar, no início de abril de 1977.

Foi clicada no corredor lateral de minha residência na época, que dava acesso independente à edícula onde realizávamos nossos ensaios, nessa fase da banda. Da esquerda para a direita : Laert "Sarrumor" Julio (voz e teclados); Fran Sérpico (bateria); Wilton Rentero (guitarra); Osvaldo Vicino (guitarra e voz) e eu, Luiz Domingues (baixo). A camiseta do Laert e a minha, foram pintadas manualmente por ele. Na dele, tem uma ilustração de seu próprio rosto, e na minha, apesar de pouco visível nessa foto, trata-se do logotipo da banda britânica, "Rainbow". Apoiado nas minhas pernas, está o meu primeiro baixo, que já citei anteriormente nesta autobiografia. Era um baixo Handmade, imitação de Hofner.

Continua...

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Autobiografia na Música - Boca do Céu - Capítulo 5 - Por Luiz Domingues

Ao entrarmos em 1977, ainda vivíamos sob a repercussão da carta ridicularizada pelos leitores da Revista : "Rock, a História e a Glória". Astuto, o Laert criou uma nova investida. 
Mandou para a redação da Revista uma carta direcionada ao crítico Ezequiel Neves, codinome "Zeca Jagger". Nela, falava sobre a mudança de nome do "Injeção na Veia" para "Boca do Céu" (sim, invertemos a ordem, ao deixar o prosaico "Céu da Boca", um pouco mais substancioso, digamos); sua entrada como novo vocalista / tecladista, e o golpe de mestre: a coleção completa até aquela época, de seu fanzine de cartoons, o "Sarrumorjovem".
O fato, é que os cartoons eram muito bons, cheios de sarcasmo, sátira de costumes e sátira política (um perigo naqueles anos de ditadura ferrenha, é verdade !), cultura underground, contracultura e referências rockers.
O Ezequiel respondeu, ao publicar que havia adorado os cartoons, a compará-los os traços do Laert, ao do grande Robert Crumb (para quem não sabe, um dos maiores cartunistas americanos, criador dos personagens "Freak Brothers" e uma das figuras mais reverenciadas pelos hippies sessentistas, além de ser capista de álbuns históricos, como por exemplo o "Cheap Thrills"da Big Brother & The Holding Company, banda de Janis Joplin).
Além disso, disse que adorava o nome, "Injeção na Veia", e que lamentava a troca para "Boca do Céu". Para surpreender-nos ainda mais, disse que aceitava ser "nosso padrinho" !
Em nenhum momento da carta, pedimos isso à ele, mas achamos o "maior barato" essa colocação espontânea e pública, por parte dele.


Eufóricos por termos Ezequiel Neves como nosso "padrinho", abusamos dessa condição, logo no início de 1977, e passamos vergonha por sermos tão ingênuos...
Mas isso, eu conto mais para frente, pois em fevereiro de 1977, ocorreu um fato muito importante para o "Boca do Céu", antes do episódio em que decepcionamo-nos com Ezequiel Neves. 


Continua...