Em um domingo com previsão para o tempo bom, dia 1º de dezembro de 2019, a nossa banda mais uma vez esteve escalada para atuar em uma apresentação ao ar livre, decorrente de uma feira de artes. Desta feita, tal apresentação fora marcada para fazer parte da 2ª Feira de Artes da Vila Leopoldina, na zona oeste de São Paulo.
Eu nunca tive uma grande proximidade com tal bairro, mas houve uma época de minha vida em que eu ali passei com uma certa constância, pelo fato de ter morado na Vila Pompeia, por dois anos (1966/1967), e por este ser um bairro da zona oeste, naturalmente que muitas pessoas deste e de outros bairros vizinhos, costumavam frequentar com regularidade o então chamado, "Ceasa" (anos depois mais conhecido como "Ceagesp"), que vem a ser a maior central de abastecimento de produtos agrícolas de São Paulo, localizado em tal bairro, portanto, a oferta por frutas, legumes, hortaliças e laticínios, vindos diretamente dos produtores rurais interioranos com qualidade e preços baixos, sempre foi um chamariz natural, visto que tal central não vendia apenas pelo atacado, mas também sob o regime de varejo.
Portanto, eu fui algumas vezes com o meu pai nesse entreposto gigantesco, isso sem contar que uma tradição ali forjara-se nesse ambiente rústico, em torno da sua famosa "sopa de cebola", que de tão famosa, tornou-se uma atração improvável, mas que solidificara-se, principalmente no período noturno e assim, tornou-se um programa exótico ir ao Ceasa para degustar tal prato, principalmente no período da madrugada, enquanto os trabalhadores descarregavam e carregavam centenas de caminhões com a carga de produtos, de uma maneira frenética em suas dependências.
Tal fama perpetuou-se e eu lembro-me bem, nos anos oitenta, já adulto e a atuar com A Chave do Sol, eu fui com os companheiros da banda e amigos, muitas vezes ao Ceasa para degustarmos a famosa sopa da madrugada, após a realização de shows. Porém, nessa fase oitentista, apesar do ambiente insalubre do complexo, a parte do restaurante havia sofisticado-se, justamente por ter tornado-se uma atração turística/gastronômica na cidade e por conta disso, apesar da sua famosa "sopa de cebola" ainda ser um chamariz, a diversificação de pratos já mostrava-se enorme, inclusive com o incremento de festivais da sopa, principalmente no período do inverno, com uma infinidade de outros sabores disponíveis, inclusive.
Já no avançar dos anos noventa e também nos anos dois mil, eu cheguei a ler matérias em jornais de grande circulação, a dar conta que o bairro da Vila Leopoldina havia passado por transformações urbanísticas radicais e que vários galpões que ficavam nas cercanias do Ceagesp (ex-Ceasa), haviam sido demolidos e que prédios residenciais de alto padrão estavam a erguerem-se em profusão. E também que outros tantos, foram transformados em modernas agências de publicidade e tecnologia, além de estúdios de cinema/produção audiovisual em geral.
Eis que eu cheguei ao bairro na tarde de 1º de dezembro de 2019 e de fato constatei que aquele bairro longínquo, repleto de galpões e caminhões carregados por frutas e legumes que lotavam as ruas nos dias de outrora, estava muito mudado. Fiquei bastante impressionado com a transformação radical ali efetuada e além dos prédios residenciais construídos sob alto padrão, o comércio sofisticado e a presença de restaurantes e cafés charmosos, tal constatação in loco não deixou-me dúvida de que estava tudo muito modificado ali.
Portanto, a ideia de uma Feira de Artes ao ar livre, caiu como uma luva para a Vila Leopoldina, nessa fase em que estávamos às vésperas dos anos vinte do novo século, com todo esse progresso ali observado.
A banda em ação! Kim Kehl
& Os Kurandeiros na 2ª Feira de Artes da Vila Leopoldina, em São
Paulo, no dia 1º de dezembro de 2019. Clicks, acervo e cortesia: Léo
Cabrera
Haviam dois palcos, um mais sofisticado e o outro mais simples, onde atuamos e apesar da sua simplicidade e tamanho diminuto (vide as fotos onde estamos retratados a tocar), o importante foi que o som estava bem conduzido pelo responsável pelo áudio e a resposta do público foi excelente.
Feira animada, nem mesmo o repentino surgimento de nuvens carregadas e que precipitou alguns pingos de chuva ameaçadores, tratou por estragar a festa e muito pelo contrário, simplesmente a chuva não prosperou e assim, o povo permaneceu ali presente.
O palco foi diminuto, mas a apresentação foi bastante animada! Kim Kehl & Os Kurandeiros na 2ª Feira de Artes da Vila Leopoldina, em São Paulo, no dia 1º de dezembro de 2019. Clicks, acervo e cortesia: Léo Cabrera
Dessa forma, ficamos muito contentes com a apresentação e eu ainda tive uma boa surpresa quando reencontrei um velho amigo, com o qual não encontrava-me desde os anos oitenta, na figura de Claudio T. de Carvalho, mais conhecido como "Capetóide", e que fora um amigo, colaborador e testemunha ocular da carreira d'A Chave do Sol, a minha banda nos anos oitenta.
Fiel amigo da banda, assíduo em nossos shows desde o primeiro, realizado no longínquo ano de 1982. Agora baixista de uma banda ("Alô Ayala"), onde atuava com o bom baterista, Léo Cabrera, foi um prazer conversar com ele nos bastidores e poder assistir boa parte da sua apresentação.
Missão cumprida na Vila Leopoldina e não por caso, Claudio "Capetóide" foi conosco ao Ceasa em algumas madrugadas dos anos oitenta, em momentos pós-show que A Chave do Sol cumprira, portanto, que coincidência agradável.
"A Noite Inteira" (Kim Kehl), ao vivo (apenas um trecho), durante a apresentação de Kim Kehl & Os Kurandeiros na 2ª Feira de Artes da Vila Leopoldina em São Paulo, no dia 1º de dezembro de 2019. Filmagem: Akemi Akishi. Apoio: Marcos Kishi
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=IIN9gjxGs60
"Eu Sou Duro" (Kim Kehl), ao vivo, durante a apresentação
de Kim Kehl & Os Kurandeiros na 2ª Feira de Artes da Vila
Leopoldina em São Paulo, no dia 1º de dezembro de 2019. Filmagem: Akemi Akishi. Apoio: Marcos Kishi
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=2CoyF-da_CE
Outro fato digno de nota, foi que esse show d'Os Kurandeiros realizado na Feira de Artes da Vila Leopoldina, marcou um significado extra para a minha carreira musical, pois representou o meu milésimo show!
No cômputo geral, desde que eu fizera a minha primeira apresentação oficial, em 12 de fevereiro de 1977, eis que por muitas bandas atuei e cheguei enfim a uma marca emblemática na carreira. Fiquei feliz, e mesmo ao ter plena consciência que artistas populares detém uma agenda infinitamente mais cheia do que eu jamais tive e portanto, justifica-se o fato de que demorei quarenta e três anos para chegar em um número que tais artistas alcançam em tempo muito menor, sei bem que na inversa proporção, a minha trajetória foi construída sob outros termos diametralmente diferentes e assim, na devida realidade em que sempre atuei e ainda atuo, esse número é grandioso, sem falsa modéstia de minha parte.
Fiquei feliz também pela prorrogação que obtive, após sobreviver aos graves problemas de saúde que sofri em 2015 e que ameaçou fortemente a possibilidade de que eu avançasse a trabalhar, portanto, eu comemorei internamente o meu feito pessoal sem no entanto comentar com os colegas, para que isso não fosse alardeado ao microfone durante o show e eu sei que eles teriam feito isso com muita alegria, certamente, mas eu optei por manter o sigilo da informação e apenas deixar para registrar a marca, aqui, neste texto autobiográfico. E aproveito para agradecer à todos, literalmente, que auxiliaram-me ao longo desses anos todos, para que eu pudesse atingir tal marca!
De volta a focar n'Os Kurandeiros, a nossa próxima missão foi em mais uma feira ao ar livre, e dessa forma a provar que 2019, foi um ano pródigo em shows dessas características para Kim Kehl & Os Kurandeiros.
Continua...
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