Eis que
chegamos em outubro de 2019 e um convite foi formulado-nos para que
apresentássemo-nos novamente em um show ao ar livre. Tratou-se da 10ª Feira de
Artes e Cultura da Lapa, um tradicional bairro da zona oeste de São Paulo.
Melhor ainda tornou-se, em minha percepção pessoal, quando eu soube o exato
local onde seria realizada tal apresentação, a tratar-se da Praça Cornélia, um
logradouro público onde eu tive uma forte conexão afetiva em minha infância, e mais do
que isso, creio que tal singelo ambiente silvestre foi o local onde eu tive um
dos mais significativos impulsos iniciais para passar a apreciar a música mais
detidamente, lá pelos idos de 1966 e 1967. Portanto, fiquei muito contente por
saber que tocaria ao vivo em tal local, que tão importante papel cumprira em
minha remota infância.
Bem, em
dezembro de 2017, a nossa banda já havia tocado em uma edição desse festival do
bairro da Lapa (a oitava edição, portanto), e desta feita, com o palco
proporcionado por um caminhão ao estilo de trio elétrico e que ficou
estacionado entre as ruas Faustolo e Tibério. No trecho do texto autobiográfico concernente
à esse acontecimento, eu já havia narrado tal reminiscência e nessa ocasião, o
palco ficara localizado a distância de um quarteirão exatamente, onde eu residira nesses anos
citados.
Paróquia São João Maria Vianney, na Praça Cornélia, em São Paulo
Pois agora, em 2019, eis que eu estaria a tocar em dois quarteirões adiante, mas em
tal praça onde eu mantinha também, reminiscências muito fortes e como já
comentei anteriormente com detalhes.
Por aqui apenas reforço que aos domingos daquela época entre 1966 e 1967, o
padre da paróquia ali existente, “São João Maria Vianney”, costumava agregar
a comunidade do bairro, ao colocar um sistema de som na Praça Cornélia. Por
conta dessa predisposição e principalmente pela sorte de que quem comandava a
discotecagem que devia ser jovem e muito bem antenado, o melhor do Rock e da MPB em
voga, ali no calor dos anos sessenta, era executado por horas a fio, até as
seis da tarde quando encerrava-se o expediente para a missa ao final da tarde, poder ocorrer em
paz.
Dentro dessa realidade, por exemplo, foi nessa praça que eu escutei o LP "Rubber Soul"
dos Beatles, recém lançado e na íntegra, pela primeira vez na vida, portanto,
um fato aparentemente prosaico que no entanto marcou-me de uma forma indelével.
Dessa maneira, tocar exatamente ali, em 2019, seria um prazer recôndito, a revelar-se na prática, um elemento a mais
para motivar-me.
Tarde fria, surpreendentemente para um dia de outubro em plena vigência da primavera, eis que eu cheguei acompanhado do meu amigo, Kim Kehl, à Praça Cornélia. Lá estava a velha Paróquia, com a sua arquitetura inalterada, mas o velho chafariz não existia mais (aliás, há muitos anos), e o astral observado, é óbvio que não foi mais o de 1966, com o som dos Beatles (e outras tantas bandas sessentistas sensacionais), a ecoar entre as árvores, como outrora, mas eu estava ali, feliz da vida por tocar em um praça onde jamais imaginei tocar verdadeiramente, quando ali transitei, nos remotos anos sessenta.
Tarde fria, surpreendentemente para um dia de outubro em plena vigência da primavera, eis que eu cheguei acompanhado do meu amigo, Kim Kehl, à Praça Cornélia. Lá estava a velha Paróquia, com a sua arquitetura inalterada, mas o velho chafariz não existia mais (aliás, há muitos anos), e o astral observado, é óbvio que não foi mais o de 1966, com o som dos Beatles (e outras tantas bandas sessentistas sensacionais), a ecoar entre as árvores, como outrora, mas eu estava ali, feliz da vida por tocar em um praça onde jamais imaginei tocar verdadeiramente, quando ali transitei, nos remotos anos sessenta.
Bem, na realidade de 2019, a alegria por estar ali também foi boa por
reencontrar amigos da música, muitos aliás, e até novas amizades formam firmadas,
quando eu conheci o baterista do grupo “The Spark's”, Edison Della Monica, a
tratar-se de uma banda veterana, que fora fundada em 1964, por ele mesmo.
Simpático, Edison contou-nos várias histórias da sua trajetória na música e
agraciou-me com uma cópia do último álbum do grupo, lançado recentemente.
Ora,
que positivo constatar uma banda versada pelo estilo do Rock instrumental sob a inspiração
de grupos orientados pela dita “Surf Music”, tais como o The Ventures e o The Shadows, ainda em atividade e cheia de energia.
O The Spark's foi contemporâneo d’Os Incríveis, Jet Blacks e outras tantas bandas
significativas da história do Rock brasileiro.
Na primeira foto, um álbum do The Spark's, no início dos anos sessenta e na segunda foto, o disco que recebi gentilmente, a tratar-se do último lançamento do grupo, denominado: "Beyond the Stars"
Parece que a
tarde foi marcada pelas reminiscências mais profundas, pois eis que um amigo
que eu conhecia apenas virtualmente, abordou-me e ali travamos uma longa
conversa sobre a sua atividade pregressa como gerente de loja de discos nos
anos setenta e a conversa foi longe a abranger sobre a indústria fonográfica, a
distribuição antiga feita pelas gravadoras e sobretudo pelo Rock Progressivo e
a música erudita, estilos de seu apreço mais detalhado. Tratou-se de Vinício
Meira, que trabalhou muitos anos na loja Hi-Fi e também foi distribuidor de
discos, a serviço de pequenos selos europeus, quando trabalhou com a produção da
música erudita.
Não pude
ouvir todos os grupos ali programados para tocarem, mas os que eu pude assistir,
gostei muito, como por exemplo, "Encruzilhados", um Power-Trio afiado, que fez um set muito bom, baseado em Blues-Rock
texano da melhor qualidade, incluso com muitas músicas do grande, Johnny Winter,
em seu repertório.
Ora, que sensacional, se eu mantivera a lembrança dessa praça
por ter ouvido The Beatles, The Rolling Stones e The Kinks, nos idos de 1966 e 1967,
agora, em 2019, ouvir Johnny Winter a soar naquela praça foi uma espécie de elo bom a ser restabelecido com o passado.
Veio a seguir a competente banda, “Pompeia 72”, e mais uma série de covers internacionais do Rock setentista foram
destilados com ótima fidedignidade ali naquela praça.
Uma sequência com fotos individuais dos componentes d'Os Kurandeiros durante o show realizado na Feira da Lapa. Foto 1: Nelson Ferraresso e Luiz Domingues. Foto 2: Carlinhos Machado. Foto 3: Kim Kehl. Foto 4 : Kim Kehl e Phill Rendeiro. Kim Kehl & Os Kurandeiros na 10ª Feira de Artes e Cultura da Lapa, em São Paulo. 20 de outubro de 2019. Clicks, acervo e cortesia: Marcos Kishi
Então,
chegou a hora d'Os Kurandeiros entrarem em ação e apesar do frio, o público não
dispersou com o fim da tarde e início da noite e assim, com um som bem razoável
em termos de equipamento, fizemos um ótimo show, bem animado mesmo e até posso afirmar que a
superar as nossas expectativas.
Desta feita como um quinteto, a contar com o
talento do ótimo, Nelson Ferraresso aos teclados, o som ficou encorpado e
animado, pois houve uma margem de improvisação para que o Kim, Nelson e o
guitarrista, Phill, revezassem-se em solos.
Kim Kehl em destaque, com Luiz Domingues e Carlinhos Machado na retaguarda. Kim
Kehl & Os Kurandeiros na 10ª Feira de Artes e Cultura da Lapa, em
São Paulo. 20 de outubro de 2019. Clicks, acervo e cortesia: Carlos Dutra
Noite avançada,
frio e garoa, e assim, de certa forma só reforçou a minha lembrança sobre o bairro e o
bom período em que ali morei, na tenra infância (e sem suspeitar nessa época,
que morava a poucos quarteirões da residência dos irmãos Dias Baptista, das famílias Carlini, Paolillo e Vecchione, ou seja, entre Os Mutantes, Tutti-Frutti e Made in
Brazil, todos em fase embrionária nessa época).
Aliás, cabe a explicação que ali
naquele ponto, é um quadrante do bairro da Lapa, que é na verdade um subdistrito
chamado: Vila Romana, com várias ruas do entorno a evocar em seus nomes, imperadores e figuras
proeminentes da cultura do Império Romano. E pela proximidade total com a divisa de bairros
com a Vila Pompeia, os três bairros na verdade, misturam-se no imaginário dos
moradores locais.
Tocamos no Festival da Lapa, mas ali é tecnicamente a Vila
Romana e para muitos, uma extensão da Vila Pompeia, capisce?
"A Noite Inteira" (Kim Kehl) - Kim Kehl & Os Kurandeiros na 10ª Feira de Artes e Cultura da Lapa, em São Paulo. 20 de outubro de 2019. Filmagem: Carlinha Manha
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=63w7LzyuXRg
"P'ro Raul (Kim Kehl/Osvaldo Vecchione) - Kim Kehl & Os Kurandeiros na 10ª Feira de Artes e Cultura da Lapa, em São Paulo. 20 de outubro de 2019. Filmagem: Carlinha Manha
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=0CkwIS8Y7JY
"A Galera Quer Rock" (Kim Kehl) - Kim Kehl & Os Kurandeiros na 10ª Feira de Artes e Cultura da Lapa, em São Paulo. 20 de outubro de 2019. Filmagem : Carlinha Manha
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=8pFnYaHyHoY
Em síntese,
uma tarde/noite plena de lembranças, com muito Rock sessenta/setentista para
embalar os sonhos de um velho Rocker e sim, com uma boa apresentação d'Os Kurandeiros,
para contabilizar na história e ser relembrada no futuro, com carinho.
Ali na
silvestre Praça Cornélia, em 2019, eu toquei com o sentimento bom ao estilo:
"Veni; Vidi & Vici", para honrar as tradições da Vila Romana
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