sexta-feira, 17 de abril de 2020

Crônicas da Autobiografia - A Pirotecnia no Estúdio Fotográfico - Por Luiz Domingues


                        Aconteceu no tempo d'A Chave do Sol, em 1985

Quando nós fomos preparar as fotos de cada componente da banda, para compor o lay-out da contracapa do EP homônimo que lançamos em 1985 (no imaginário dos fãs, esse álbum foi apelidado como: "Anjo Rebelde"), a certeza de que a minha foto em específico, já estaria previamente definida, descartou praticamente a necessidade de marcarmos uma sessão oficial para obtermos fotos posadas. 

A minha foto não detinha uma grande qualidade técnica, no entanto, e assim se mostrou como uma peça extremamente expressiva, no sentido de que fora capturada ao vivo, em um momento de alta performance de minha parte, durante um show que realizáramos no Circo Voador, do Rio de Janeiro, meses antes, em outubro de 1984.

Então, eu exerci a minha dita "mão-de-ferro" nesse sentido e ao mesmo tempo, conclamei os companheiros a pesquisarmos por fotos igualmente significativas dos demais. 

Dessa forma, empreendemos uma busca nesse sentido através do nosso acervo, no entanto, apesar de termos achado fotos bem expressivas dos outros três membros da banda em ação ao vivo, por um motivo ou por outro, nenhuma ficou tão marcante ao ponto de ser aprovada com entusiasmo, a conclamar a unanimidade e nesses termos, uma sessão foi marcada para que os companheiros, Rubens Gióia, Zé Luiz Dinola e Fran Alves, fossem clicados, na esperança de que nós conseguíssemos extrair de tal sessão, uma boa foto de cada um, a compor então o painel para fechar o lay-out da contracapa do nosso álbum. 

Entretanto, um fator absolutamente inusitado ocorreu para complicar sobremaneira tal missão, no sentido de que por conta da minha foto ter sido capturada ao vivo, as demais deveriam simular tal situação, para que houvesse um equilíbrio temático à proposta. E se não fosse dentro dessa prerrogativa, não haveria sentido para manter a minha foto com tal característica e as demais posadas, pois nesse caso, a minha foto deveria ter sido cancelada e uma sessão normal com os quatro componentes a ser realizada com a predisposição de compor fotos posadas e quiçá, da banda reunida no mesmo enquadramento e não individualmente.

Enfim, por gostarmos da minha foto em específico e a mantermos a ideia das fotos com a expressividade de uma performance ao vivo, resolvemos simular um ambiente de performance de palco para fotografar os companheiros a tocar e cantar. 

Para o Rubens e também para o Zé Luiz, pela força de buscarmos simular que eles tocassem os seus respectivos instrumentos, tal resultado foi até facilitado pela postura de ambos a portarem-se em seus instrumentos com bastante fidedignidade, mas no caso do Fran, para ele simular estar a cantar, o ato de se soltar na sessão de fotos, foi um pouco mais difícil, mesmo com o nosso som a tocar alto no estúdio, mediante o uso de uma cópia em fita K7 do trabalho ainda inacabado, a apontar para a conclusão da mixagem final do nosso novo álbum. 

Então, eis que surgiu uma ideia inusitada, mas que, apesar de assustar o fotógrafo e certamente a gerar furor na vizinhança, surtiu lá o seu efeito. Resolvemos usar o recurso pirotécnico para provocar explosões, mediante o uso de caixas com pólvora estratégicas para tal função, exatamente como usávamos nos shows ao vivo e assim proporcionar ao Fran, uma certa eloquência visual mais próxima de uma situação real de show, mesmo por que, não havia iluminação de teatro no estúdio do rapaz, obviamente, mas apenas a iluminação normal de um estúdio fotográfico, ou seja, adequada para tal função, no entanto, nós queríamos a simulação de um espetáculo no palco. 

Em suma, o rapaz foi solícito ao aceitar a nossa planificação e mediante o uso de lentes e filtros, tentou burlar a luz branca e assim imitar o efeito de uma iluminação para um espetáculo musical, com diferentes tipos de spots e as suas respectivas "gelatinas" a condicionarem o uso de diferentes cores. 

Bem, no caso do Fran, é claro que houve uma tratativa prévia para que o rapaz aceitasse a ideia de se promover explosões dentro de seu estúdio e de fato, tal expediente seria e o foi, extremamente perigoso. 

Isso sem deixar de mencionar a repercussão inevitável a ser gerada na vizinhança, pois o resultado sonoro de um efeito pirotécnico, em nada divergia de uma explosão provocada pela intenção beligerante, portanto, além de convencer o dono do estúdio, seria prudente avisar a vizinhança, para tranquilizá-los, se é que tenha sido possível, visto que inevitavelmente a polícia seria acionada de pronto para gerar uma confusão difícil de explicar para o delegado, a posteriori. 

Tudo pela arte! Fran Alves a levar susto com as explosões pirotécnicas geradas dentro de um estúdio fotográfico, em 1985. 

E assim procedeu-se, com a nossa produtora, Eliane "Lili" Daic a comandar o painel das explosões e o Fran a levar muitos sustos em meio à fumaça gerada. 

Ironia do destino, tais fotos dele em específico, não ficaram tão boas e assim, nós voltamos a cogitar usar uma genuinamente ao vivo, portanto, escolhemos a chapa em que ele está absorto em um momento dramático de sua performance, a sua marca registrada no palco, mas não individualmente como desejávamos. 

Eu mesmo, Luiz, faço parte do enquadramento, embora ele, Fran, tenha sido o destaque do fotógrafo (tudo bem, na minha foto da contracapa, o Zé Luiz Dinola aparece ao fundo, igualmente). 

E quanto aos demais, sim, foram escolhidas boas fotos de ambos, oriundas dessa sessão improvisada. Já no encarte do disco, mais fotos foram utilizadas, desta feita sem grande especificação, ao escolhermos clicks ao vivo de diversos shows, fotos da gravação desse próprio disco e até sobras da sessão de fotos realizada em 1984, para compor o material do disco anterior, lançado no mesmo ano em questão.  

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