quarta-feira, 1 de abril de 2020

Crônicas da Autobiografia - Se mexe aí, Baixista - Por Luiz Domingues

              Aconteceu no tempo do Pitbulls on Crack, em 1995 

Não foi a primeira vez que tal tipo de ocorrência ocorreu-me em meio à atuação dentro de uma banda de Rock, pois no tempo d'A Chave do Sol, isso já houvera acontecido em 1986 (narrei com detalhes tal situação, no capítulo nº 13 da minha história com A Chave do Sol, contido em meu livro autobiográfico: "Quatro Décadas de Rock"), mas o fato reincidiu, muitos anos depois, quando eu estava a atuar com o Pitbulls on Crack e para ser específico, tal novo acontecimento foi em 1995.

O baterista do Pitbulls on Crack, Juan Pastor, a ter ao fundo, Chris Skepis e Deca. Camarim da casa de shows Olympia, de São Paulo, em outubro de 1996. Foto: Marcelo Rossi 

Bem, o que ocorreu foi que o nosso baterista, Juan Pastor era radialista em paralelo à sua atuação com o nosso grupo e por conta das muitas conexões que detinha entre os seus contatos, ele recebeu o convite para encaixar a nossa banda em um teste de elenco, para eventualmente efetuar-se uma possível participação em um comercial de TV. 

Assim como ocorrera em 1986, eu detestei a ideia, a adotar os mesmos argumentos que eu usei em tal ocasião passada e de fato, naquela ocasião eu recusei-me a participar e somente os três companheiros desse outro trabalho, foram fazer parte de tal peça publicitária. 

Para resumir ao leitor que não teve acesso ao meu texto autobiográfico, a minha justificativa para não participar de um comercial de TV, levou em conta que a nossa banda (no caso, ao referir-me sobre A Chave do Sol), não seria citada em nenhum momento e nós somente participaríamos por conta de usarmos individualmente, o estilo de aparência "Rocker" e nesses termos, eu não desejei fazer parte, exatamente por não enxergar em tal atitude, algo positivo para fomentar a divulgação do nosso trabalho e muito pelo contrário, a expor-nos como anônimos, somente pelo fato de sermos "cabeludos".

No caso do Pitbulls on Crack, a situação seria igual, mas na prática, ganhou uma conotação diferente por duas questões e uma delas, muito particular que essa específica banda continha. 

Primeiro, por ser uma banda pautada pelo bom humor em seu bastidor, quase o tempo todo, por conta da personalidade humorística dos outros três membros (no entanto, não em meu caso certamente), portanto, a galhofa pautara o ambiente interno da banda e se eu não tinha (tenho) tal característica por natureza, por outro lado, eu admirava o senso espirituoso de meu colegas e sim, ria muito das piadas que eles criavam instantaneamente aos borbotões, durante os cinco anos em que convivemos. 

E o segundo aspecto, foi que ao contrário do que fora ventilado (erroneamente), pelos meus colegas d'A Chave do Sol, em 1986, o pessoal do Pitbulls on Crack jamais cogitou que fazer parte do comercial seria uma alavanca promocional boa para a banda e pelo contrário, nenhum deles sequer esboçou considerar que seríamos "aprovados" pelos diretores do teste de elenco para fazermos parte da figuração e nesse caso, a única motivação seria uma taxa monetária oferecida como uma espécie de ajuda de custo para participar do teste. 

Ou seja, bem na base da pilhéria que norteou tal grupo em sua carreira, a ideia foi: "ir lá no teste de câmera para ganhar um dinheiro e divertir-se sem compromisso". Ora, bem no espírito do tom de humorismo que sempre norteou a condução dessa banda, fomos ao estúdio televisivo, localizado no bairro do Brooklin, na zona sul de São Paulo.

Entre os membros da banda, o espírito foi esse, portanto, ao considerar ser uma grande brincadeira debochada e que eventualmente render-nos-ia um cachê simbólico. Dessa forma, confesso que mesmo a estar ali apenas para colaborar, visto que tudo foi ajeitado em cima da hora, e na impossibilidade de arrumar um outro simulador de baixista e sobretudo a considerar que se eu não fosse junto, eles seriam vetados para o teste, eu mantive-me incomodado para atuar nessa pantomima, mas compareci. Sem outra alternativa, participamos da ação, enfim. 

Os meus colegas mergulharam na brincadeira, ao melhor estilo "Spinal Tap", sem nenhum pudor e aliás, a divertirem-se muito com a farsa, mas eu... bem, eu não era (sou), um humorista em potencial como eles e acometido por um sentimento de contrariedade absoluta por estar a fazer parte daquela ação, não esforcei-me nem um pouco, por senti-me muito mal em estar ali a ser usado como um anônimo, somente por usar cabelos longos e saber segurar um instrumento musical com fidedignidade. 

Foi então que o diretor que conduzia a filmagem, parou tudo e cobrou-me mais "empenho". A filmagem reiniciou-se e o sujeito que ficou visivelmente irritado com o meu desânimo, passou a soltar gritos atrás da câmera, a exortar-me a "melhorar" a minha performance. 

Bem, é claro que eu não segui a sua orientação e certamente que em sua visão, nós já estávamos "desclassificados", mesmo com o "teste" ainda em pleno curso. O ponto, na verdade, foi que a banda não pleiteou participar de forma alguma e eu, ainda mais, não participaria nem que fôssemos "aprovados", por conta das minha convicções pessoais em torno do que representa esse tipo de ação publicitária.

E ao diretor que chamava-me com desdém a denominar-me como: "ô, baixista", genericamente, quando ele gritava: "melhora aí rapaz, se mexe"... eu só posso responder que eu fui (sou) um artista genuíno e mexia-me, sim, em uma apresentação verdadeira, ao sentir a vibração da notas que eu tocava, emanadas pelo meu amplificador, vibrava por ouvir a emanação dos instrumentos e das vozes dos meus companheiros, vindos dos monitores e de seus respectivos amplificadores, mas sobretudo, pela sincronia estabelecida com o público. 

Somente tal sintonia estabelecida espontaneamente cria a magia para a energia fluir a contento e o resto é falsidade em nome do "business", senhor diretor!

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