Aconteceu no tempo da minha sala de aulas, por volta de 1992...
É fato cabal que nós vivemos em uma sociedade regida por paradigmas de toda ordem, que se enraízam e são perpetuados ad nauseam, até que alguém lute (e muito aliás), para quebrá-los e assim se estabeleça algum tipo de avanço para se mudar a mentalidade generalizada e dessa forma, trate por melhorar o panorama sociopolítico e cultural na civilização humana.
Matérias como antropologia, psicologia, sociologia e filosofia, entre outros estudos e especialidades, servem para estudar tais mudanças comportamentais e a apontar-nos novos caminhos mais avançados, mas o fato é que os estigmas demoram para serem superados.
Eu nem quero entrar nesse mérito, mas é público e notório o quanto os preconceitos arraigados causam sofrimento de toda a monta e no caso, a imagem do Rocker sempre entrou nesse mesmo rol de estigmatizações padronizadas.
E não importam as inúmeras graduações e até antagonismos entre as mais diversas tribos surgidas nesse bojo ao longo de muitas décadas, pois no imaginário popular, o Rocker, seja lá de que vertente ou época for representante, é sempre considerado um pária ante os olhos das ditas pessoas ''normais", regidas pelos usos & costumes de uma sociedade absolutamente padronizada e preconceituosa em diversos aspectos.
Posto isso, eu recordo-me que enquanto ministrei aulas de música entre 1987 e 1999, eu tive um relacionamento maravilhoso com muitos pais de alunos adolescentes com os quais eu lidei e em alguns casos, forjei até amizade com alguns desses progenitores de meus pupilos.
No entanto, eu sempre esperei reações de cautela como um modus operandi, principalmente da parte de pais de alunos recém-ingressos no meu curso e diga-se de passagem, como algo absolutamente natural, visto que como pai, eu não deixaria um filho meu frequentar a residência de um professor, sem certificar-me da idoneidade de tal profissional, obviamente.
Por sorte, em meio a um universo com mais de duzentos alunos que eu tive ao longo dos anos em que mantive tal atividade, nunca observei problemas com essa questão de natural desconfiança natural da parte dos pais de alunos e pelo contrário, só colecionei boas lembranças por conta desse relacionamento amistoso, cordial e muitas vezes a se transformar em amizade de fato.
Porém, houveram dois casos que foram amenos e não me aborreceram de forma alguma. Um deles, eu já relatei dentro da autobiografia oficial (disponível no capítulo "Sala de Aulas", nos meus Blogs 2 e 3 e também na versão do livro impresso: "Quatro Décadas de Rock"), a dar conta de um pai, por volta de 1990, que fez questão de acompanhar a sua filha em sua primeira aula para me conhecer e tudo bem, foi uma investigação velada, porém cordial na forma de uma visita social em minha residência.
A outra ocorrência foi menos invasiva, mas curiosa por conta da questão do preconceito que a envolveu. Pois eis que um então novo aluno, recém-ingresso em algum momento de 1992 e já depois de estar bem ambientado na minha sala de aulas, contou-me que o seu pai lhe indagara, logo quando ele iniciou os seus estudos comigo: -"qual é a desse tal de Luiz?"
Bem naquele espírito de um pai que estabelece uma comunicação direta com o filho e veja bem, eu acho esse tipo de abordagem bem salutar na relação entre pai & filho, o progenitor do meu aluno, avançou na especulação e quis saber que tipo de drogas eu, Luiz, usava costumeiramente, se bebia, tomava ácido ou até mesmo heroína pela via da introdução venosa (-"ele injeta nos canos?"), e se eu exibia muitas tatuagens no meu corpo.
As respostas negativas da parte do meu aluno ao seu pai, a dar conta que eu, Luiz, não mantinha tatuagens no meu corpo, não usava nenhum tipo de droga ilícita e nem mesmo lícita, ao colocar-me como abstêmio e não tabagista, foram comprovadas a posteriori por esse preocupado pai e não haveria como ser de outra maneira.
E o engraçado nessa história, foi que o senhor em questão ostentava tatuagens grafadas em seus braços e pernas e mantinha um histórico de alcoolismo com gravidade, além de ser um tabagista inveterado.
Portanto, não me queixo dele, que inclusive foi sempre gentil comigo a posteriori, enquanto o seu filho estudou comigo, visto que eu achei legítima a sua preocupação inicial de querer me investigar e ter a segurança de que eu não seria uma dita "má companhia" para o seu filho adolescente.
A minha estupefação foi institucional na realidade, pois mais uma vez o estigma do Rocker drogado se fez presente. Nesse âmbito, se o sujeito toca em uma banda de Rock e não corta os seus cabelos como uma "pessoa de bem", só pode ser um vagal errante à margem dos bons costumes regidos pela sociedade e certamente a se colocar como um contumaz usuário de drogas, não é mesmo?
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