sexta-feira, 1 de julho de 2022

Autobiografia na Música - Boca do Céu - Capítulo 76 - Por Luiz Domingues

Na sala de ensaio do estúdio Mecanix, da esquerda para a direita: o baterista convidado, Nelson Laranjeira, eu (Luiz Domingues), Osvaldo Vicino e Wilton Rentero. Ensaio do Boca do Céu no estúdio Mecanix de São Paulo em 6 de março de 2022. Acervo e cortesia: Wilton Rentero. Click: Leandro Soares Silva

Finalmente nos encontramos para providenciarmos a gravação de um ensaio com um áudio um pouco mais caprichado das seis primeiras músicas com as quais trabalhamos desde 2020, porém de uma maneira mais regular, quando a pandemia nos permitiu, a partir de junho de 2021. Conforme o planejado, foi no estúdio Mecanix, localizado no bairro da Vila Sonia, na zona sudoeste de São Paulo, em 6 de março de 2022, que tal gravação de um ensaio mediante recursos um pouco melhores, foi concretizada.

Nesse aspecto técnico, a providência adotada foi microfonar os dois amplificadores de guitarra, enviar o som do direct box do amplificador de baixo direto para a mesa, microfonar o bumbo e caixa da bateria, além de providenciar um microfone overall e claro, dois microfones para as vozes do Osvaldo e minha, Luiz. Em suma, nada muito sofisticado, mas o suficiente para prover uma gravação de áudio de ensaio, melhor que as das câmeras de telefone com as quais estávamos a filmar os ensaios anteriores.

Com duas horas agendadas, o tempo se revelou escasso para tal finalidade, porém, conseguimos registrar duas versões de cada canção e em alguns casos mais do que isso (foram cinco versões de "E o que Resta é a Canção"), embora no caso do "Diva, tenhamos registrado apenas uma versão dessa balada em específico.

Relevamos erros, pois o objetivo foi mais do que tudo, termos versões das canções com o mapa que construíramos nesses meses todos de preparo, principalmente para que o Laert pudesse enfim ter acesso ao material e poder opinar em todos os sentidos, com maior ênfase no trabalho de aprimoramento das melodias e também na reestruturação das letras.

No afã de preparar a máquina para filmar, eu (Luiz Domingues), cliquei uma foto involuntária. Ao fundo, Osvaldo Vicino e encoberto, Wilton Rentero. Ensaio do Boca do Céu no estúdio Mecanix de São Paulo em 6 de março de 2022. Click e acervo: Luiz Domingues

Com o apoio do técnico e proprietário do estúdio Mecanix, Leandro Soares Silva, a ideia foi estabelecer uma "levantada" básica do som e com uma pré-mix bem simples, deixar o gravador ligado e assim ocorreu, com o registro de uma hora e dez minutos de ensaio gravado.

Fizemos duas versões de "Serena" e a despeito do nosso convidado, o baterista, Nelson Laranjeira não ter decorado um trecho que apresentava uma desdobrada rítmica, em uma das versões ficou bem satisfatória tal passagem ao se considerar a finalidade da gravação, mas evidentemente longe de um ponto ideal acaso fosse a gravação de uma demo-tape, logicamente.

Osvaldo Vicino comanda a "selfie" na sala técnica do estúdio Mecanix de São Paulo. Atrás, da esquerda para a direita: eu (Luiz Domingues) a usar máscara anti-Covid-19, Wilton Rentero, o técnico e proprietário do estúdio Mecanix, Leandro Soares Silva e o baterista convidado, Nelson Laranjeira. 6 de março de 2022. Click (selfie), acervo e cortesia: Osvaldo Vicino 

O Osvaldo estava a conduzir a voz principal dessa canção e eu introduzi livremente a ideia de um contraponto inspirado em trabalhos de bandas sessentistas tais como o "Jefferson Airplane", "It's a Beautiful Day" e "The Mamas and the Papas", que trabalhavam com tal recurso normalmente em suas respectivas obras. 

Claro que o Osvaldo e eu não éramos cantores e assim, a nossa performance nessa gravação ficou muito abaixo do ideal, no entanto, mais uma vez é preciso ressalvar que a ideia foi mantermos uma guia base para o Laert ouvir e propor as suas modificações e naturalmente assumir a voz principal a seguir, em uma nova fase de preparo dessas canções.

Acima, dois "stills" de vídeo a mostrar o baterista, Nelson Laranjeira, Wilton Rentero e Osvaldo Vicino, em ação durante o ensaio do Boca do Céu em 6 de março de 2022, no estúdio Mecanix-SP. Still da câmera de Wilton Rentero e cortesia de Osvaldo Vicino para a captação e postagem 

Mas no cômputo geral, ficamos felizes pelo balanço que a música apresentou e já a demonstrar que em uma gravação mais categorizada, ficaria muito boa, com o "swing" que certamente não conseguimos apresentar em 1976, dada a nossa falta de recursos musicais generalizada nessa ocasião.

O Rock, "Centro de Loucos", soou muito bem com as suas partes A e B, um interlúdio, solo com mais um prolongamento e final apoteótico que o Nelson também não havia decorado com exatidão, mas que se mostrou razoável na gravação 

No comando da "selfie, Wilton Rentero, com a minha (Luiz Domingues) presença atrás a usar máscara anti Covid-19, o técnico de som e proprietário do estúdio Mecanix, Leandro Soares Silva, o baterista convidado, Nelson Laranjeira e Osvaldo Vicino. 6 de março de 2022. Click (selfie), acervo e cortesia: Wilton Rentero 

Já em "O Mundo de Hoje", o sentido do Blues sessenta-setentista se fez presente, exatamente como gostaríamos de soar em 1977, quando defendemos essa canção em uma eliminatória do festival Fico. A condução de guitarras se mostrou muito boa, o mapa agradável e a nossa condução vocal, eu na principal e Osvaldo a apoiar nos backing vocals, bastante razoável para a finalidade, obviamente.

Testamos uma entrada mais rápida no compasso 6/8 para o solo do Osvaldo fluir e fizemos um final ao estilo "fade out", mas a forçar esse recurso "na mão", obviamente.

Em "Mina de Escola", o mapa da música nos pareceu agradável. Eu me perdi um pouco na condução da voz principal ao ler a letra na estante de partitura, mas a gravação "deu para o gasto" nesse aspecto. A convenção final se revelou muito interessante, apesar de não ter sido executada com perfeição nessas duas versões que ali registramos.

Na sala de ensaio do estúdio Mecanix, da esquerda para a direita: o baterista convidado, Nelson Laranjeira, eu (Luiz Domingues), Osvaldo Vicino e Wilton Rentero. 6 de março de 2022. Acervo e cortesia: Wilton Rentero. Click: Leandro Soares Silva  

Em "Diva" tivemos um desempenho bem razoável. Na minha performance da voz principal, eu acrescentei um vocalise em um interlúdio, exatamente para demarcar a ideia de introduzir um mellotron nesse trecho para uma eventual gravação oficial. Ficou notável o solo do Wilton, embora o Osvaldo tivesse esquecido de fazer o arpejo ao estilo "pinkfloydiano' que criara em ensaios anteriores e que nos entusiasmara por tal criação de sua parte.

E para encerrar, gravamos mais versões de "E o que Resta é a Canção" para termos sobretudo uma amostra perfeita da entrada do solo final do Wilton, o que conseguimos quase perfeitamente na última versão.

Wilton Rentero comanda a "selfie", com a minha presença, atrás e a usar máscara anti-Covid-19, o técnico de som e proprietário do estúdio Mecanix, Leandro Soares Silva, o baterista convidado, Nelson Laranjeira e Osvaldo Vicino. Boca do Céu na sala técnica do estúdio Mecanix de São Paulo em 6 de março de 2022. Click (selfie), acervo e cortesia: Wilton Rentero 

Passado esse ensaio gravado, o esforço foi do Osvaldo em separar as faixas do áudio bruto enviado pelo técnico do estúdio Mecanix, Leandro Soares Silva e dali em diante, estabelecermos um intenso diálogo através do nosso grupo criado no aplicativo WhatsApp, entre os três membros das cordas da banda para eleger as melhores versões e encaminharmos tal material finalmente para o Laert ouvir, opinar, criar as suas possíveis modificações e assim, se integrar definitivamente ao esforço de resgate das músicas, em sua fase A.

E claro, já darmos início imediato à fase B do projeto, ao abrir campo para resgatar mais quatro ou cinco músicas que faltavam em meio às canções passíveis de serem resgatadas do nosso velho repertório dos anos setenta.

Por conta dessa gravação do ensaio de 6 de março de 2022, lembro-me de ter comentado com Wilton e Osvaldo que estava muito feliz por ouvir essas músicas com um corpo definido a conter início, meio e fim e muito mais que a concretização de uma fase desse resgate iniciado em 2020, eu estava muito emocionado por saber que a despeito das falhas dessa gravação, tais músicas até então perdidas no limbo do tempo existiam de novo a conter um registro sonoro muito melhor do que jamais havíamos conseguido registrar naquela década e pior ainda, por termos perdido o armazenamento, com todas as fitas K7 a conter gravações toscas de ensaios daquela época, desaparecidas invariavelmente. 

Da esquerda para a direita: o baterista convidado, Nelson Laranjeira, eu (Luiz Domingues), Osvaldo Vicino e Wilton Rentero. Ensaio do Boca do Céu no estúdio Mecanix de São Paulo em 6 de março de 2022. Acervo e cortesia: Wilton Rentero. Click: Leandro Soares Silva

Nesses termos, já não restava dúvida que nesse esforço em prol do processo de resgate, já tínhamos gravações de ensaios, fotos e vídeos em profusão, a registrar uma quantidade gigantesca de registros em comparação ao parco material que conseguimos concretizar e manter sobre a atuação da nossa banda nos anos setenta, ou seja, somente por tal aspecto, já podíamos considerar o esforço pós-2020, como amplamente vitorioso.

Na sala técnica do estúdio Mecanix de São Paulo, a banda reunida e com a presença do baterista convidado, Nelson Laranjeira e do técnico e proprietário do estúdio, Leandro Soares Silva, a ouvir um trecho da gravação do ensaio, com a música "Serena" a soar. 6 de março de 2022. Filmagem: Osvaldo Vicino

Eis o link para assistir no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=MV4Ekw-4U_c

No entanto, queríamos mais e assim prosseguimos a trabalhar nesse sentido.

Continua...

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