Com o Laert Sarrumor visível pelo celular, através da videoconferência, a participar ativamente do esforço da banda. Ensaio do Boca do Céu na residência de Osvaldo Vicino. 29 de janeiro de 2023. Acervo e cortesia: Wilton Rentero. Click: Luiz Domingues
Voltamos a nos encontrar no dia 22 de janeiro de 2023, e desta feita avançamos mais sobre a balada: "Instante de Ser" e também sobre o Folk-Rock, "Desprogramação". Um solo final foi sugerido para "Instante de Ser" e nos soou muito interessante. Outro fator que muito nos animou nesse dia, ou melhor, alguns dias depois, foi que ao colocarmos vídeos desse específico ensaio no grupo da banda no Whatasapp, o Laert ouviu e gostou das formulações harmônicas, ou seja, se dirimiu a sua dúvida sobre alguns acordes, o que o deixou mais confortável para cantar.
Ficamos felizes por essa declaração da parte dele, pois, dessa forma mais um impasse foi resolvido. De minha parte, eu sentia que a harmonia proposta por nossos guitarristas, Osvaldo e Wilton, estava bem adequada às demandas melódicas da canção e mais do que isso, mostravam aquela riqueza que a aproximava muito do espectro de canções do "Clube da Esquina" e muitos exemplos de músicas oriundas de trabalhos de bandas de Rock Progressivo com proximidade com a música Folk, dos anos setenta e neste caso, a mesma influência dos geniais mineiros citados acima e também influenciados pelas mesmas fontes. Mas faltava o Laert dar o seu aval como vocalista, ao se sentir plenamente amparado para cantar.
Sobre a canção, "Desprogramação", nós mais uma vez trabalhamos a parte de introdução proposta pelo Wilton, mediante o uso de um "ukulelê", ou seja, a imprimir muita identidade Folk-Rock com viés vinte-trintista para a canção, o que particularmente eu sempre achei algo adorável por afeição estética e assim, claro que apreciei tal resolução. Essa canção tinha tudo para se tornar uma peça doce, a lembrar baladas melódicas de artistas como a The Band, Lovin' Spoonful, Arlo Guthrie, Leon Russell, e muitos outros dessa seara com mais proximidade com os Estados Unidos do que com a Europa em linhas gerais.
Em mais um avanço substancial, enfim conseguimos ouvir a versão do Língua de Trapo e "tirarmos" o samba: "Na Minha Boca", ou seja, foi um ensaio produtivo. Surgiu de imediato a ideia de criarmos sutilezas e provavelmente com intenção dentro do campo do Blues, para diferenciar a nossa versão dessa canção da maneira pela qual o Língua de Trapo a gravou nos anos 1980.
Da esquerda para a direita: eu (Luiz Domingues), Wilton Rentero e Osvaldo Vicino. Ensaio do Boca do Céu na residência de Osvaldo Vicino. 22 de janeiro de 2023. Acervo e cortesia: Wilton Rentero. Click: automático
No ensaio subsequente, de 29 de janeiro, a boa nova foi que adentramos uma nova etapa, com o Laert a participar diretamente pela videoconferência. Sabíamos que ensaiar dessa forma era uma atividade um tanto quanto sofrida, haja vista a questão do áudio defasado a produzir o atraso (delay) que muito dificultava a melhor performance de lado a lado, principalmente no quesito da pulsação, pois era praticamente impossível haver sincronia nesse aspecto.
Laert Sarrumor visível pelo telefone celular, ao lado do laptop sobre a mesa. Ensaio do Boca do Céu na residência de Osvaldo Vicino. 29 de janeiro de 2023. Acervo e cortesia: Wilton Rentero. Click: Luiz Domingues
No entanto, com três membros a trabalhar de forma presencial e apenas um a distância, e claro, mediante bastante paciência ante a dificuldade técnica inerente, se tornou mais ameno haver um entendimento entre os quatro componentes.
Wilton Rentero e Osvaldo Vicino trabalhavam a interagir com o Laert Sarrumor pelo celular. Ensaio do Boca do Céu na residência do Osvaldo Vicino. 29 de janeiro de 2023. Acervo e cortesia: Wilton Rentero. Click: Luiz DominguesE foi assim que de uma forma bastante feliz, que nós conseguimos avançar e mediante a excelente participação do Laert, enfim destrinchamos as três partes básicas da balada Soul: "1969". Pois esta era a última música que faltava resgatarmos para darmos cabo à fase B do projeto e assim fechar o repertório de quatorze músicas que conseguimos resgatar do nosso velho repertório construído nos anos setenta.
Wilton
Rentero e Osvaldo Vicino em um momento de trabalho. Ensaio do Boca do Céu na residência do Osvaldo Vicino. 29
de janeiro de 2023. Acervo e cortesia: Wilton Rentero. Click: Luiz
Domingues
E soou tão bonita a música, que já se criou ali mesmo, diversas ideias para arranjos, incluso um solo de introdução baseado na própria parte melódica da balada e que ficou bastante promissor, mesmo ainda sob um formato rústico em tom de ideia repentina.
A letra original da música: "Revirada", em cópia datilografada pelo próprio Laert Sarrumor e por ele resgatada em janeiro de 2023
Nesse ínterim, o Laert havia remexido as suas gavetas e achado a folha datilografada a conter a letra original de "Revirada". Foi bastante emocionante tomar contato com esse valioso pedaço de papel a apontar tanto significado para nós. E na prática, a ideia proposta pelo Laert, e aprovada em unanimidade pelos demais, foi no sentido de tentarmos estabelecer uma simbiose entre a letra original e a mais recente (escrita em 2022), pelo Wilton em um esforço de sua parte para reconstruir a canção.
Osvaldo Vicino identificado pelo seu braço a ostentar um violão de 12 cordas e a interagir com o Laert Sarrumor
pelo celular. Ensaio do Boca do Céu na residência do Osvaldo Vicino. 29
de janeiro de 2023. Acervo e cortesia: Wilton Rentero. Click: Luiz
Domingues
Dessa forma, ficamos muito animados com a perspectiva de que estávamos a um passo de fecharmos as fases A e B do projeto, que tratou da arqueologia mais bruta, digamos assim, ao resgatarmos fragmentos de músicas tão remotas, escondidas em nossa memória, providenciar "enchimentos" para que se transformassem em músicas com começo, meio e fim e em alguns casos, até com certas ideias para arranjos que haveriam de prevalecer quando do fechamento definitivo.
Foi motivo de muito orgulho e regozijo, não tenho dúvida, e todos salientaram tais sentimentos praticamente em uníssono, pois realmente foi um feito incrível conseguirmos promover uma reconstrução assim, tantas décadas depois e mediante parcos recursos disponíveis em termos de memória para buscarmos as formulações originais de cada tema.
Wilton
Rentero e eu (Luiz Domingues), em momento de descontração no trabalho. Ensaio do Boca do Céu na residência do Osvaldo Vicino. 29
de janeiro de 2023. Acervo e cortesia: Wilton Rentero. Click (selfie): Luiz
Domingues
Dado esse passo muito significativo, o combinado entre nós foi fecharmos as últimas pendências da música, "1969", tentarmos a adequação da letra de "Revirada" (devidamente resgatada da sua versão de 1977), com o mapa construído em 2022/2023 e depois, iniciarmos a fase C do projeto a passar o pente fino nas quatorze músicas reconstruídas, fechar o mapa definitivo de cada uma e partirmos para a elaboração dos arranjos finais.
Da esquerda para a direita: Wilton Rentero, Osvaldo Vicino e eu (Luiz Domingues), ao final das atividades desse dia. Ensaio do Boca do Céu na residência do Osvaldo Vicino. 29 de janeiro de 2023. Acervo e cortesia: Wilton Rentero. Click: automático
Ou seja, a luz do final do túnel já começou a brilhar lá no fundo, a nos apontar uma gravação do material para um disco, ou a trocar em miúdos, a meta não atingida em 1977, a se pronunciar como viável, em 2023!
Continua...
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