quinta-feira, 17 de abril de 2025

Autobiografia na música - Boca do Céu - Capítulo 163 - Por Luiz Domingues

Eu (Luiz Domingues) a gravar o baixo de: "E o que resta é a canção". 3ª sessão. Boca do Céu no estúdio Prismathias de São Paulo. 10 de dezembro de 2024. Click, acervo e cortesia: Carlinhos Machado

Uma semana depois, nos reunimos novamente nas dependências do estúdio Prismathias de São Paulo. Com a bateria das novas músicas concluídas, imediatamente iniciamos a 3ª sessão com a gravação do baixo para ambas.

Optei por gravar primeiro a balada: "E o que resta é a canção", Dessa forma, no uso do Fender Jazz Bass, alcancei um belo timbre grave no amplificador e na soma com o sinal da linha, ficou absolutamente semelhante ao timbre de baixo usado pelo saudoso, Dee Murray, baixista que gravou os melhores discos de Elton John e que muito admiro. Modéstia a parte, creio ter sido uma escolha acertada e sobretudo uma inspiração bem escolhida para essa música tão delicada em sua tessitura harmônica e melódica.

Aliás, era para ter tido uma outra feição essa música, algo mais próximo do conceito do Rock Rural setentista brasileiro, logo que começamos a trabalhar com ela entre 2021 e 2022, mas eis que ela ganhou na verdade uma feição mais pop, algo entre o Soft-Rock e o "Sunshine Pop", esta, uma obscura vertente que misturou conceitos do Folk-Rock com a música Pop quase popularesca a flertar com o Country, pode-se afirmar. Se em princípio pensávamos no som do Jim Croce ou Gram Parsons como inspiração ou mesmo do Tavito para ficar no conceito do Rock Rural brasileiro, na prática a música ganhou a feição do Bread, digamos assim.

Eu (Luiz Domingues) a gravar a música "Instante de Ser". 3ª sessão. Boca do Céu no estúdio Prismathias de São Paulo. 10 de dezembro de 2024. Click, acervo e cortesia: Carlinhos Machado

Já para gravar "Instante de Ser", eu optei pelo uso do Fender Precision, pois sabia que precisava atingir o som de Roger Waters na parte A da música, em 4/4 e na parte B, eu pensei em emular uma sonoridade mais pesada, a aproveitar o andamento rápido em 6/8 para "passear" mais na linha e ante tais frases mais elaboradas e permeadas pelo improviso, eu calculei que a ranhura médio-agudo marcante desse modelo de baixo, seria a mais adequada.  É claro que a minha inspiração foi o som de Arnaldo Brandão com os Doces Bárbaros e Rubão Sabino a tocar com Gilberto Gil, ou Dom Salvador & a Abolição, entre outros trabalhos incríveis que ele fez (Toni Tornado, sem me esquecer).

No caso de "E o que resta é a canção", foi uma tomada apenas, muito tranquila e com apenas uma correção pontual gravada antes mesmo da audição geral, pois eu sabia aonde havia falhado exatamente. Gostei demais do timbre, da linha construída com bastante simplicidade e com apenas duas intervenções bem pontuais que eu criei, a conferir um toque melódico sutil e que eu (e também os companheiros), gostaram muito.

Eu (Luiz Domingues) a gravar o baixo de: "E o que resta é a canção". 3ª sessão. Boca do Céu no estúdio Prismathias de São Paulo. 10 de dezembro de 2024. Click, acervo e cortesia: Carlinhos Machado

E sobre "Instante de Ser", a linha da parte A  foi construída sob a égide da extrema simplicidade a marcar a tônica de cada acorde e acentuar a sua respectiva oitava. Porém, a ideia foi de fato me inspirar nesse tipo de condução super característico do estilo do Roger Waters em tema de andamento lento, a cimentar a parte rítmica com a bateria e consequentemente abrir espaço para as guitarras viajarem embaladas pelo som do órgão Hammond. Em síntese, o típico estilo "Space-Rock" do Pink Floyd e de tantas bandas congêneres (Frumpy, Jane, Nektar, Soft Machine etc).

Eu (Luiz Domingues) a gravar o baixo de: "E o que resta é a canção". 3ª sessão. Boca do Céu no estúdio Prismathias de São Paulo. 10 de dezembro de 2024. Click, acervo e cortesia: Carlinhos Machado

E claro, com um timbre vigoroso de Fender Precision, o peso que isso haveria de ganhar, logicamente aliado ao timbre metálico da frequência média-aguda, isto é, algo meticulosamente planejado, ficou assegurado como eu planejei.

Sobre "Instante de Ser", por ter sido gravado em duas etapas, foi uma gravação um pouco mais demorada, mas igualmente tranquilo. Gravei muito tranquilamente a parte A com aquele vigor que eu imagina e que casou-se de uma forma incrível com a bateria. O peso que a "cozinha" ganhou e com ambos os instrumentos com timbres belos, muito nos animou ao término da sessão de audição.

E na parte B da música, a ideia foi buscar uma linha bem mais agressiva e livre, com toque da Soul Music e sob uma generosa dose de improviso. 

E como sobrou bastante tempo, de imediato partirmos para a gravação das guitarras base de Osvaldo e Wil!

Continua...

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