domingo, 1 de julho de 2018

Bichos Ameaçadores - Por Luiz Domingues

Quando ainda não temos o poder do raciocínio formado e somos movidos meramente pelas reações abruptas, motivadas pelos sentidos externos e mediante a ação do instinto, tudo que move-se, causa apreensão, em tese. 
 
Tirante os humanos grandes com os quais acostumamo-nos até que rapidamente e identificamos como os nossos benfeitores diretos (nem sempre, eu sei que nem todo bebê tem essa sorte na vida), o contato com animais domésticos, eventuais insetos, e a depender-se de onde for a morada do bebê, animais com grande porte (e até mesmo os ameaçadores), torna-se um fator de medo, a gerar stress e angústia.
Ao falar de um cenário mais urbano e asséptico, ambiente mais comum à maioria, claro que depende muito da realidade social de cada família, mas digamos que em uma casa limpa e organizada, gerida por humanos responsáveis e com condições financeiras boas, a tendência é a de haver o animal doméstico da família, geralmente dócil, mesmo se tiver um porte avantajado, caso de certas raças caninas. 
 
E claro que aquele Ser com aparência assustadora, é um potencial gerador do medo e nos primeiros tempos, gera angústia. Mesmo os gatos, menores e geralmente quietos, tem seus rompantes de agressividade com as garras ameaçadoras, mandíbula com dentes pontiagudos e movimentos acrobáticos quando submetidos à situação de stress, fora os ruídos assustadores que emitem quando empreendem por tais momentos. 
 
Todavia, preso no bercinho e sem entender a dinâmica do convívio entre humanos e tais Seres irracionais, tudo é ameaçador, incluso as pequenas criaturas que podem aproximarem-se, assustadoramente. 
 
É o caso dos insetos em geral, naturalmente e pequenos aracnídeos. O pavor ante a iminência de um contato físico com tais criaturinhas pequeninas, mas do qual o bebê nem consegue entender o que realmente representam, despertam o pavor, certamente. Não é nada fácil fazer parte deste mundo.
Passado esse momento inicial sob torpor absoluto, quando o raciocínio começa a funcionar ainda que rudimentarmente, somos influenciados a identificar animais e associá-los a características humanas que são irreais na verdade, mas que tendemos, culturalmente a falar, a imputar-lhes características irreais, ao humanizá-los, indevidamente.  

No caso dessa influência dos adultos na formação do bebê, a carga acentua-se com o bombardeio impingido pela própria sociedade, naturalmente formatada por interesses comerciais, ao usar signos culturais para lucrar a todo custo. 
 
Falo sobre a enorme carga de produtos oferecidos para suprir as necessidades básicas dos bebês e crianças em geral, sob motivações com animais e muitas vezes, a idealizar animais selvagens e notadamente com comportamento agressivo no meio da natureza, como “bonzinhos”. 
 
O urso, é o maior exemplo disso, acredito, com a sua imagem a ser bastante distorcida para o imaginário infantil, vide a simpaticíssima figura do personagem dos desenhos animados, “Zé Colméia” (“Yogi Bear”), e também do seu amigo, igualmente super gentil, o “Catatau” (“Boo Boo Bear”), dois ursinhos bonachões e com postura “zen”. 
 
Outros exemplos com personagens baseados em animais ferozes, que apresentam personalidade amistosa nos desenhos animados e nas histórias em quadrinhos, são múltiplos e nem vou citá-los para a crônica não ficar enorme, mas o leitor certamente está com eles na ponta da língua, eu sei (eu não seria amigo de um jacaré, normalmente na vida real, mas do Wally Gator, com certeza que eu fui...)
 
De volta aos insetos, demora, é claro, para notarmos que somos muito mais ameaçadores (pelo nosso porte, força e inteligência), para eles próprios, os insetos, do que o contrário. 
 
Porém, ali naquela condição como um frágil bebê, ao ser violentamente picado por um pernilongo, que nada mais é do que um pequeno ser alado e vampiresco, realmente é uma sensação muito angustiante. 
 
É o mesmo caso de se ver um pequeno réptil, ágil e medonho, que geralmente locomove-se pelo batente da porta do seu quarto. Aquela minúscula criatura, sobre a qual denominamos como: “lagartixa”, é nesse instante, para a percepção do bebê, um dinossauro assustador, isso sim. 
 
E assim começa a nossa percepção de que não estamos sós no mundo, mas o dividimos com uma infinidade de Seres vivos, e muitos deles, realmente ameaçadores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário