Eu (Luiz Domingues) em 1967, aos sete anos de idade
Aconteceu em
1967, no tempo em que eu nem sonhava em querer tocar, mas o Rock já estava
a fisgar-me, sutilmente...
A minha
lembrança sobre os Beatles remonta ao ano de 1963, quando o radinho que ficava
em cima da geladeira da minha residência, tocava muitas de suas músicas, diariamente, enquanto
a minha mãe preparava o almoço da família. E posso afirmar, tocava muito e com variedade de
canções, não uma só.
Continuei a ouvir nos anos seguintes com a mesma profusão,
pelas ondas sonoras do rádio e isso somou-se ao bombardeio visual mediante fotos em jornais e
revistas e a seguir, através dos ditos “promos” (vídeos “promocionais”, daí o
prefixo “promo”, a se constituir da pré-história do vídeoclip), além do lançamento dos “Beatles
Cartoons” na TV e obviamente por estar no pleno usufruto da infância naquele instante, isso só reforçou a
minha simpatia pela banda, ao assistir os seus desenhos animados e
obviamente, sempre a conter as suas canções.
O sensacional, "Rubber Soul", um dos dois LP's que os Beatles lançaram em 1966
No entanto, o primeiro
álbum dos Beatles que eu ouvi na íntegra, assim que saiu, foi o “Rubber Soul”, em 1966 e foi mediante uma
situação para lá de prosaica. Nesse ano, eu morava no bairro da Vila Pompeia, na zona
oeste de São Paulo e bem próximo de uma praça chamada: “Cornélia”, com
uma de suas faces para a Rua Clélia.
Nessa praça e naquela época, o bucolismo
era enorme, ao parecer-se com uma pracinha interiorana. Aos domingos, famílias
reuniam-se ali e o padre da paróquia São João Maria Vianney, mandou instalar um
serviço de alto-falantes espalhados pelas árvores da praça e assim, sob um clima
de quermesse, tocava-se música o dia inteiro.
Predominava a MPB na maior parte
do tempo, mas também bastante artistas dito jovens do movimento da “Jovem
Guarda” e do Rock internacional (pasmem!), e foi por conta dessa fortuita oportunidade que eu ouvi os dois lados do LP
“Rubber Soul”, muitas vezes, a denotar que o padre delegara a função da escolha
e controle dessa discotecagem para algum jovem “antenado”, pois só tocavam-se
coisas boas ali, a grosso modo.
Ainda a morar no
mesmo endereço, em 1967, lembro-me que em uma certa manhã desse ano, o radinho estava
ali em cima da geladeira, a todo vapor a embalar as tarefas domésticas de casa,
quando subitamente o céu começou a escurecer.
Não fora, no entanto, algum sinal de uma
tempestade a aproximar-se, mas um eclipse, um fenômeno astronômico que no alto
de meus quase sete anos de idade naquele dia, eu já entendia o que significava,
mas nunca havia visto, ao menos nessa proporção tão impressionante, pois ainda
que rápido, o céu do meio dia tornou-se igual ao da meia noite, praticamente.
Pelo rádio,
o locutor falava em tom solene (e naquela época, todo mundo falava com esse tom
grandiloquente no rádio e na TV), ao emitir o boletim sobre o eclipse e as suas
consequências como por exemplo, a rede pública de iluminação que fora ligada para dar
suporte, entre outras providências.
Mas o locutor também falou de um fenômeno paralelo que
estava a ocorrer em diversas lojas de discos, ao menos nas mais badaladas e
modernas da cidade, na ocasião. Chamara a atenção da imprensa o fato de que
filas kilométricas de clientes foram formadas em tais lojas, pois tais estabelecimentos
estavam com o estoque pronto para a venda, do novo álbum dos Beatles que chegara
às suas prateleiras. Tratara-se
de um álbum com um nome comprido e inusitado, mas nessa altura, todo mundo só esperava
loucuras vindas dos Beatles, convenhamos...
E não foi apenas do mais novo álbum dos Beatles que fez com que os fãs enfrentassem uma fila na porta das lojas, em 1967, mas simplesmente, uma obra-prima, que tornou-se um marco do século XX, sem exagero algum...
E foi assim então, em um dia atípico, com
escuridão ao meio dia, que o rádio anunciou eclipse e filas formadas por
ansiosos fãs dos Beatles na porta de lojas paulistanas de discos.
Ao pensar
agora como adulto, eu gostaria de haver tido alguns anos a mais em 1967 e não apenas sete anos de idade nessa ocasião, para poder ter
aproveitado a década de sessenta com maior intensidade, sem dúvida, mas não
posso reclamar, pois mesmo criança e sem acesso total ao que ocorria no mundo e sobretudo
pela falta de um poder de assimilação mais maduro, ainda assim, sinto-me
privilegiado por ter vivido aquela década e possuir tais lembranças comigo.
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