sexta-feira, 22 de junho de 2018

O Cantor que não Suportava ser Chamado pelo seu Próprio Nome - Por Luiz Domingues

-“Como canta bem aquele rapaz!”

Esse costumava ser o comentário recorrente da parte de quem assistia as performances de um cantor com talento nato, cujo nome mostrava-se exótico: Sincarlos. De fato, desde a tenra infância, nas festinhas infantis e nos festivais colegiais das quais apresentou-se a cantar, Sincarlos despertava a atenção e sobretudo a admiração contumaz de quem o via em ação. Mas havia um problema, porque ao ostentar tal nome exótico, esse fator o envergonhava acintosamente. 
 
O seus pais eram pessoas simples e quando ele nascera, acharam que a junção da palavra, “Sim”, com o nome próprio tradicional, Carlos, que gostavam por conta do “Rei”, Roberto Carlos, haveria de despertar admiração ao seu filho, pois eles quiseram que a positividade dessa afirmativa, expressa por tal palavra, designasse que a vida seria boa para o seu bebê. 
 
De fato, Sincarlos nasceu com o talento para o canto e mesmo que não quisesse seguir pela vida artística com propósitos sérios no futuro, no mínimo, haveria por angariar simpatias por onde quer que atuasse, nem que fosse para cantar amadoristicamente nas festas corporativas de final de ano no ambiente de empresas, cultos religiosos ou nas reuniões familiares.
Mas não foi o caso, pois a música arrebatou Sincarlos de tal maneira que o talento latente apenas potencializou a sua determinação em fazer disso a sua carreira. 
 
Rapidamente, desde os pequenos conjuntos de garagem, sendo ainda um adolescente imberbe, Sincarlos já estava a receber convites para gravar e atuar em bandas maiores, para atingir o grande público.
 
Tudo isso fora metafórico e empolgante para ele, no entanto houve um componente desagradável, que fora a sua sina desde o berço, isto é, a questão do nome exótico a suscitar confusões generalizadas no tocante ao seu entendimento, fora a questão desagradável sobre as piadas prontas e debochadas, fruto dessa situação que o vitimara com o inevitável “bullying”, desde muito pequeno. 
 
Agora ele estava diante de um dilema, ao demarcar o seu nome para exercer a sua arte, portanto: assumiria o seu nome real, criaria um “nome artístico” ou um apelido?
Ele optou então pelo apelido, “Simca”, que lembrava vagamente o seu nome real, para não perder totalmente o vínculo. Mas não adiantou nada, pois mesmo tendo o apelido oficializado nos encartes dos discos que gravara e todo material publicitário relativo a isso, o público, por carinho da maioria e desdém dos debochados, insistia em chamá-lo pelo nome próprio. E nem mesmo o sub-apelido evidente, “Chambord” (a alusão ao antigo carro da marca Simca Chambord), o ajudara a amenizar seu problema.

Todavia, traumatizado desde a infância pelas brincadeiras maldosas, sempre que identificava alguém a chamá-lo assim, com a segunda intenção de desdenhar, ele perdia a cabeça e brigava. Xingava e ia às vias de fato sem parcimônia e tal fator inerente de sua personalidade agregou-se à sua imagem pública a gerar um efeito retroalimentador, e assim tornou-se um prato cheio para os seus detratores. 
 
Então, muitos elementos mal-intencionados infiltravam-se nas suas apresentações com a intenção deliberada de provocá-lo, só para sabotar os seus shows, visto que ele não suportava engolir desaforos, e mesmo que a imensa maioria estivesse ali porque adorava a sua voz refinada e sua excelente performance de palco, sabotadores em potencial sempre compareciam apenas com tal determinação torpe.
Certa vez, inserido em um grande festival de música, o público estava a delirar com a performance de sua banda e dele, Sincarlos, em específico, quando um sujeito gritou sozinho, ao aproveitar-se de um raro momento de silêncio generalizado entre as músicas e com o público a respirar:

-“Sincarlos, cantorzinho do nome ridículo, por que não muda para Nãocarlos?“

Não demorou um segundo, nem mesmo para para o autor rir de sua própria galhofa deselegante e o sujeito levou um violento impacto bem no meio da testa. Fora desferido pelo próprio, Sincarlos, mediante o uso seu pedestal de microfone como uma arma. Enlouquecido, Sincarlos mudara o seu semblante  de forma similar com a qual o Dr. Bruce Banner porta-se normalmente quando contrariado e quem conhece o universo Marvel, sabe o que costuma acontecer em tais circunstâncias...
Sincarlos cantava muito, era adorado por seu fãs, mas não suportava piadas motivadas pelo seu nome estranho. Portanto, essa questão revelara-se complexa pelos seguintes aspectos:

1) Não teria sido melhor controlar o seu temperamento explosivo, por tratar-se de uma pessoa pública?

2) Sempre há a presença de gente mal-intencionada a procurar a diversão por vias inconvenientes, ou seja, a querer zombar de alguém como se todos fôssemos idiotas a servirmos os galhofeiros de plantão, o que faz dessa gente, execrável em essência.

3) Quando for registrar um filho no cartório, pense nas consequências que essa pessoa terá pelo resto da vida por uma escolha equivocada de sua parte ou de seu cônjuge...

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