Era um
lugarejo distante, eminentemente rural e cujos poucos colonos que ali
habitavam, viviam dos parcos recursos da atividade extrativista que garantia a
sua subsistência.
Acostumados a viverem de uma forma muito despojada, demorou anos
para que a energia elétrica fosse instalada e mais algum tempo para que
chegasse o rádio. E assim, o
rádio tornou-se a maior referência com o resto do mundo, no cotidiano daquela
gente simples e que vivia basicamente para trabalhar duro e na prática, não ter
uma grande perspectiva de fazer de seu suor, a esperança por dias melhores.
Distante da possibilidade de assistir um filme sequer, em uma sala de cinema,
visto que a cidade mais próxima nem dispunha desse tipo de equipamento
cultural, o rádio fora o único elo com o mundo, além dos jornais e revistas
velhas, que chegavam com incrível atraso naquele vilarejo.
Até que um dia, veio
a novidade: um aparelho de TV seria entregue, ao visar melhorar a vida daquelas
pessoas. Teoricamente, tal gesto haveria de repercutir de uma maneira
retumbante, portanto, claro que gerou uma expectativa enorme entre os seus
moradores, que mal esperavam a chegada do aparelho que seria instalado em uma
rústica instalação feita com madeira, uma espécie de “rack” pré-histórico, e colocado no
dito “centro” da localidade, para ser desfrutado coletivamente.
Contudo, mediante a tecnologia tosca a toda prova, eis que assim que foi ligado o aparelho, este apresentou uma
imagem horrorosa, sem definição alguma, plena de “chuviscos”; com o sinal de
“horizontal” indomável, sem esboçar parar de embaraçar as vistas das pessoas.
Indiferentes
aos “problemas técnicos”, as pessoas gritavam eufóricas, enquanto os técnicos
lutavam para tentar colocar aquele aparelho sob uma condição mínima de uso. Foi
quando um desses rapazes que haviam vindo da cidadezinha à qual o vilarejo
pertencia, falou ao seu companheiro, que achava que seria melhor colocar uma palha de
aço na antena para ver se melhorava a imagem.
Sem entender como um artefato usado geralmente na
limpeza doméstica poderia contribuir com uma questão que se julgava ser altamente
tecnológica, rapidamente crianças e adolescentes correram às suas casas para
procurar por tal produto prosaico. Foi quando um
menino entregou o material para um dos técnicos e este começou a envolvê-lo na
antena, que um sujeito gritou em meio a multidão, "que aquilo não funcionaria de maneira alguma".
Nesse ínterim, eis que um homem idoso e que parecia assistir toda a cena de forma catatônica, soltou
um grito inesperado e que impôs o silêncio e a atenção sobre si. Enquanto todos
olhavam-no estupefatos, eis que o idoso proferiu:
-“Deixa o homem colocar a
palha de aço na geringonça, porque assim vai garantir o nosso futuro".
Ora, visto assim de forma superficial, a intervenção do idoso poderia sugerir uma antevisão profética, a enxergar no advento da chegada da televisão para o usufruto daquelas pessoas, um autêntico “passaporte para o futuro”, ao abrir-lhes possibilidades culturais, sociais, reflexão, conexão com a modernidade e também com o mundo e a sociedade, enfim, uma verborragia previsível, mas ao se pensar friamente, será que a profecia do ancião procedera? A perspectiva aberta pela televisão levou-nos para o progresso, mesmo?
Ora, visto assim de forma superficial, a intervenção do idoso poderia sugerir uma antevisão profética, a enxergar no advento da chegada da televisão para o usufruto daquelas pessoas, um autêntico “passaporte para o futuro”, ao abrir-lhes possibilidades culturais, sociais, reflexão, conexão com a modernidade e também com o mundo e a sociedade, enfim, uma verborragia previsível, mas ao se pensar friamente, será que a profecia do ancião procedera? A perspectiva aberta pela televisão levou-nos para o progresso, mesmo?
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