Eis que certa vez em uma casa de orientação espírita, haveria uma sessão de consulta mediúnica, com várias pessoas a buscar tal tipo de tratamento. Entretanto, um dos mais experientes médiuns que ali trabalhavam nessa ação voluntária, faltara bem nesse dia, ao alegar um problema súbito que teve em sua residência e que o impedira de comparecer.
Sem ninguém ali presente para prover tal lacuna, alguém lembrou de uma pessoa que ali comparecia sazonalmente. Então ligaram para a casa desse homem. Ele atendeu o telefone com a seguinte reação, ao ser solicitada a sua presença:
-“Mas não tem outro para ajudar, mesmo? Justo agora? É que falta pouco para... enfim, está bem, eu vou se não tem outro jeito”.
Para o dirigente da casa, a solução foi improvisar com a substituição do médium ausente feita por essa outra pessoa a fim de compor a equipe de trabalho, mas esse homem, apesar de ser veterano sob o ponto de vista cronológico, não era tão atuante nessa função, e assim, apesar da sua idade, nesse específico quesito ele simplesmente não possuía muita experiência.
Bem, eis que feita a preparação básica de abertura dos trabalhos, o “seu” Nelson como era conhecido na casa este senhor chamado às pressas, entrou em transe mediúnico sem maior dificuldade, no entanto, assim que um espírito obsessor que atormentava a vida do paciente ali assistido foi interpelado, algo não usual aconteceu.
Os demais médiuns seguiam o protocolo da casa para esse tipo de abordagem, ao conversar com o obsessor no sentido de convencê-lo a seguir um caminho de maior retidão moral e assim deixar de praticar maldades, aceitar os ensinamentos de Jesus Cristo e se regenerar etc. e tal, mas o “seu” Nelson não seguia as normas de conduta no procedimento usual daquele centro espírita.
E não era por rebeldia de sua parte ao contestar a metodologia, ou por querer impor o seu jeito de ser, nada disso. Ele simplesmente deixava fluir livremente a sua atuação, sem se preocupar com regras, ou seja, a agir de forma espontânea.
Foi então que o tal espírito obsessor começou a emitir ruídos através do médium com o qual estava sintonizado e o “seu” Nelson não teve dúvida ao lhe interpelar de uma maneira nada usual em uma sessão espírita tradicional:
-“ô, amigo, amigão...afinal de contas, "che cazzo" você veio fazer aqui?
Então, o “desencarnado” respondeu com veemência, ao se mostrar bem irritado com abordagem:
-“Você que me diga! Estava na minha, quando de-repente vocês me aprisionaram neste lugar e me interrogam como se fosse um julgamento”.
Mas o “seu” Nelson não se abalou nem um milímetro com a fala indignada do rapaz desprovido de corpo material e talvez não por estratégia, mas simplesmente por não haver nem entendido o que o sujeito lhe disse, retrucou:
-“amigão, então você só veio aqui para me encher o saco?”
Desta vez o espírito não aguentou a fala inusitada da parte do velho encarnado e certamente a interpretou como um ato de desfaçatez com o objetivo de debochar dele ou coisa que o valha e assim, aos gritos ficou a dizer:
-“Me tirem daqui, esse velho é completamente louco! Eu não sou amigo dele!”
Bem, a sessão se encerrou e quero crer que o obsessor deixou de atormentar a vida do paciente depois dessa sessão, certamente por temer ser novamente interpelado por esse senhor encarnado, a agir completamente fora do contexto.
Depois desse evento, para quem achava que um espírito é que deveria assustar uma pessoa encarnada na matéria, a experiência ali decorrida se revelou no mínimo inusitada.
Quanto ao “seu” Nelson, bem, depois de encerrado o trabalho, ele voltou para a sua casa e tranquilamente foi assistir a reprise do jogo de futebol que ele lastimara ter perdido a transmissão ao vivo, justamente por ter sido convocado a substituir alguém na casa de trabalhos mediúnicos.
De certa
forma, se justificou por conseguinte a razão pela qual ele se indignara com o
espírito obsessor, ao ponto de lhe dizer frontalmente que este Ser invisível
lhe causara um aborrecimento, embora não exatamente com essas palavras mais
refinadas, digamos assim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário