Aconteceu no meu tempo com a Patrulha do Espaço, em 2003
Durante a fase "chronophágica" da Patrulha do Espaço, ou seja, a se tratar da nossa formação, muitas coisas acontecerem nos bastidores, como é de se esperar na rotina de uma banda de Rock. Claudia Fernanda foi a nossa produtora de 1999 a 2004, e por volta de outubro de 2003, ela nos disse que achara uma casa em exposição para a venda no bairro do qual, eu (Luiz), Rolando e Rodrigo morávamos bem próximos uns dos outros e o Marcello habitava um bairro vizinho muito perto do nosso.
A novidade, no entanto, se deu no sentido que ao visitar a casa, ela descobrira que ali havia sido a habitação de um colecionador que amealhara uma quantidade incrível de objetos históricos, ao ponto de ter transformado a sua residência em um museu aberto à visitação pública, tamanho o volume de antiguidades e obras de arte que colecionara ao longo dos anos.
Esta foto não corresponde à coleção mencionada. Eu tentei achar fotos específicas da coleção na internet, mas não consegui, portanto, é só para constar mesmo como ilustração.
Mais do que isso, se o sobrado apresentava um belo estilo arquitetônico, a sugerir uma construção dos anos vinte ou trinta do século passado, naturalmente que já chamava a atenção por suas dependências e também pelo muito razoável grau de conservação, além da observação de material de acabamento interno de época, contudo, o que realmente impressionou a nossa produtora foi uma surpresa incrível que havia no imenso quintal da residência.
E assim que tomou conhecimento, ela nos avisou e exortou a visitarmos o imóvel, para constatarmos o que ela descobrira ali na parte dos fundos da casa. De pronto, eu marquei com o Rodrigo e Rolando, e também com a presença da Claudia, visitamos o imóvel em um dia bem ensolarado e no meu caso, não gastei nem dez minutos de caminhada para acessar o endereço, porque morava a poucos quarteirões dali.
A coleção era formada por muitos objetos interessantes, isto é, chamava a atenção por si e lógico, com o falecimento do colecionador, o museu estava desarticulado e as peças não estavam exatamente arrumadas para uma exposição, mas deveras amontoadas, a denotar que os herdeiros estavam a organizar a sua retirada para algum depósito ou coisa que o valha. E a casa também nos impressionou a conter cômodos enormes, e o chamado "pé direito" muito alto, naquela concepção de amplitude que foi padrão de construção nessas décadas remotas.
Todavia, a grande surpresa que a Claudia nos alertou, realmente nos surpreendeu positivamente e mais do que isso, se tornou imediatamente uma opção muito interessante para a nossa banda usar e eu vou revelar agora o que vimos ali.
Foto a mostrar a cidade Ouro Preto-MG, a antiga Vila Rica do século XVIII. O cenário certamente foi baseado nesse modelo.
Pois o tal colecionador aproveitou o seu quintal imenso, quase a se caracterizar como no padrão de uma casa de campo e ali montou uma cidade cenográfica para ser usada em filmagens. Vimos fachadas de casinhas ao estilo colonial a insinuar algo parecido com o que se vê em cidades históricas mineiras, preservadas do século XVIII. E cada casinha a conter placas a designar estabelecimentos tais como "prefeitura", "cadeia pública", "fórum", "armazém" e "boticário" entre outros, além de uma capela para demarcar a ideia de uma igreja matriz, a caracterizar se tratar de uma pequena cidade situada nessa época e uma réplica reduzida de um cemitério.
Pois então a ideia se tornou vívida para nós: vamos usar esse cenário para coletar imagens para um novo clipe e/ou sessão de fotos, certo?
Infelizmente os nossos planos se frustraram de imediato, quando abordamos pessoas que estavam ali a cuidar da coleção e funcionários da imobiliária, que só nos disseram que com a morte do proprietário e colecionador, os seus herdeiros estavam inclinados a vender o máximo de objetos para outros colecionadores e o que não conseguissem comercializar, seria vendido mediante baixo valor para o dito "ferro velho".
Sobre a cidade cenográfica, alguém nos confirmou que ali fora usado como set de filmagem para filmes curta e longa metragem, cenas de novelas, documentários e muitos comerciais para a TV, mas que dificilmente os herdeiros autorizariam tal uso novamente, pois já havia uma especulação exercida por incorporadoras bem predatórias no sentido de pressionar os moradores do quarteirão inteiro para que vendessem as suas casas e uma vez tudo demolido, espigões residenciais ali fossem construídos.
Que pena, teria sido incrível usar aquele cenário tão inusitado, algo encravado no meu bairro e que por anos, eu nunca imaginei existir.
Corte brusco: muitos anos depois, cerca de 2023, estava eu a assistir uma reportagem no Youtube, e chamou-me a atenção o objeto da matéria em si, que tratou exatamente da existência dessa residência/museu, e com ênfase na cidade cenográfica, quando muitos esclarecimentos foram disponibilizados.
E finalmente eu descobri o nome de seu proprietário, colecionador e curador, que eu admiro pelo espírito de preservação da cultura, mediante o seu esforço como ativista e minucioso colecionador. O senhor se chamava Facul de Facul ("de Facul", talvez, a designar uma localidade de algum país árabe, sua possível origem familiar, mas não posso afirmar se tratar disso exatamente).
Não achei o vídeo que eu assisti em 2023, mas há dois vídeos muito interessantes dele em vida, a conter uma entrevista que ele concedeu para o famoso apresentador, Jô Soares, ainda em meio ao programa "Jô onze e meia" exibido pela emissora SBT em 1993 e o outro, a mostrar um depoimento & entrevista nas dependências da casa, em 1998, mediante um grau de abordagem bem informal.
Eis o vídeo da entrevista do senhor Raful de Raful ao Jô Soares, no seu programa "Jô Onze e meia" pelo SBT em 1993, tal material foi gravado mediante tecnologia analógica, via VHF, e digitalizado a posteriori. Apesar da imagem opaca e áudio deficiente, vale a pena assistir. Por volta da minutagem 37', mais ou menos, o vídeo prossegue com outros entrevistados.
Eis o link para acessar a entrevista:
https://www.youtube.com/watch?v=9QFKeLYeeVE&t=13s
E eis abaixo o vídeo de 1998. Também mediante tecnologia analógica via VHF e digitalizado a posteriori. Apesar da imagem opaca e áudio deficiente, igualmente, vale a pena assistir. Por volta da minutagem 47', o senhor Facul de Facul mostra objetos da sua coleção e ao final do vídeo, passeia com as suas entrevistadoras na cidade cenográfica.
Eis o link para acessar o YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=Ehnkw8sB8RU
Que pena que não serviu para a Patrulha do Espaço aproveitar o cenário mas devo registrar que gostei muito dessa descoberta "antes que tardia", bem no clima da ambientação colonial mineira do século XVIII, existente no meu bairro em plena zona sul de São Paulo.
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