Sobre a próxima música que eu vou comentar, é preciso fazer a ressalva de que se ela na sua origem era um releitura da releitura que nós fazíamos ao vivo, a opção proposta pelo Kim Kehl de criar um novo título foi uma boa sacada se for analisada pela legitimidade da banda a exercer uma nova releitura da mesma música.
Em síntese, a composição "A Certain Girl" de Allen Toussaint que motivou o histórico Made in Brazil e regravá-la como "Mickey Mouse, a gata e eu", inclusive com a presença de Kim Kehl que estava na formação da banda nessa época, foi especialmente rebatizada para ser designada neste disco.
Enfim, eis que o Kim resolveu rebatizá-la como: "Diz quem é", ou seja, acho que essa demarcação personalizada se tornou uma boa sacada para a versão d'Os Kurandeiros para a mesma canção.
3) "Diz quem é" (ou "Mickey Mouse, a gata e eu") - Áudio oficial de CD "Pronto pra Festa!"
Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=vfJt46WCPVc
Eis uma música com uma sabor Rock'n Roll muito bom. Destaque para a interpretação vocal do Kim com muita dose de ironia que naturalmente é proporcionada pelo teor da letra em si.
Na parte musical, tudo soa muito bem. A sincronia das guitarras, teclados e baixo se mostra muito boa, ao conferir um efeito semelhante a de um trem que passa de uma maneira uniforme pelos trilhos.
O solo de guitarra é excelente, mediante o uso de um "drive" um tanto quanto anasalado que eu gostei muito. A sobra que o efeito do pedal deixou transparecer na hora do breque geral da banda, ficou charmosa na medida em que denuncia ser uma gravação ao vivo.
Os backings vocals estão ótimos com aquele efeito premeditado de uma pergunta que se formula ao narrador da história e reforça ainda mais a ideia dessa frase ter sido escolhida para ser o novo título da canção.
Nelson Ferraresso a comandar os teclados. Os Kurandeiros ao vivo no Dellaz Fest realizado no Teatro Rede Star de São Paulo em 23 de outubro de 2021 e cuja gravação culminou no disco "Pronto pra Festa!", lançado em 2024. Click, acervo e cortesia: Cesar Gavin
Os teclados tem um peso a la Hard-Rock em alguns momentos, ou seja, seria como se o Jon Lord do Deep Purple estivesse a tocar com o Status Quo ao vivo, e quem conhece a história do Rock pode mensurar o que eu quis exemplificar.
4) "Pro Raul" - Áudio oficial de CD "Pronto pra Festa!"
Eis o link para escutar no YouTube:https://www.youtube.com/watch?v=WJWSAWCr9nU
Essa interpretação do clássico d'Os Kurandeiros, "Pro Raul" está com um balanço extraordinário. Outra questão musical que eu devo ressaltar é o fato de que a contrariar a tendência natural de qualquer show ao vivo, o andamento da canção está bem controlado, ao menos no começo, pois após a sobra das vozes a atuar isoladamente quase no final da música, a banda volta ao tema um pouco mais acelerada, entretanto, como um máxima, show ao vivo é isso aí e ninguém cogitou usar o "pit" na mixagem para acertar tal defasagem na pulsação, o que eu achei ótimo, pois ficou muito mais natural, com clima de show ao vivo orgânico, de fato.
Tanto foi assim que na saída dessa pausa geral, um grunhido de uma das guitarras sobrou sutilmente, como algo involuntário com o músico a tirar a mão das cordas para se posicionar para voltar a tocar, ou seja, show de Rock de verdade no calor da apresentação ao vivo.
A acrescentar, digo que o balanço está incrível das guitarras, baixo e bateria, com o piano a pontuar de uma forma super colorida. a parecer o piano de Nicky Hopkins com os Rolling Stones nos anos sessenta.
Renata "Tata" Martinelli e Kim Kehl na linha de frente, com Carlinhos Machado ao fundo. Os Kurandeiros ao vivo no Dellaz Fest realizado no Teatro Rede Star de São Paulo em 23 de outubro de 2021 e cuja gravação culminou no disco "Pronto pra Festa!", lançado em 2024. Click, acervo e cortesia: Cesar Gavin
E a interpretação em dupla de Kim Kehl e Renata "Tata" Martinelli no comando dos vocais está super divertida, com algumas improvisações bem espontâneas da parte de ambos sob intensa inspiração.
Por último, acho que a boa mixagem possibilitou deixar bem nítida a linha de baixo e nesses termos, há duas marcas registradas de minha parte, uma no início da participação do baixo e outra no segundo módulo de cada passagem pela parte "A" da música, detalhes esses que eu criei logo que entrei na banda em 2011, ou seja, duas sutilezas que não foram gravadas por outro baixista, no caso, Sérgio Takara, que foi o primeiro baixista d'Os Kurandeiros.
Entretanto, eu introduzi tais ideias singelas para dar um toque meu à música e finalmente, após tantos anos a tocá-la ao vivo, a registrei em um disco oficial da banda, mediante a minha interpretação ao vivo. E as duas intervenções soam muito bem, valorizadas pela boa captura do baixo no áudio gravado no teatro e sobretudo pelo ótimo trabalho de mixagem e masterização que o Phil Rendeiro nos entregou, como técnico dessa produção.
Eis o link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=BiwCuCeArDQ
Toda a bossa desse tema versado pelo estilo "Jazz'n ' Blues, ou seja a mistura das duas vertentes, explode com tremenda desenvoltura nessa interpretação.
Ficou impressionante a qualidade do som da bateria. As peças do Kit de Carlinhos Machado soam com timbres espetaculares e a sua performance é muito boa. Gosto muito das duas guitarras, a imprimir um swing incrível e o solo do Kim é excepcional pela performance e timbre, que estão espetaculares.
Ao vivo, o Nelson Ferraresso centrou a sua atenção no órgão Hammond, mas quando surgiu a ideia de haver overddubing, ele colocou um piano super jazzístico que ficou excelente. Já o solo de órgão Hammond ficou espetacular, além da atuação ao longo da música com frases ótimas a lembrar muito o som de Jimmy Smith e/ou Booker T.
Renata "Tata" Martinelli em destaque! Os Kurandeiros ao vivo no Dellaz Fest realizado no Teatro Rede Star de São Paulo em 23 de outubro de 2021 e cuja gravação culminou no disco "Pronto pra Festa!", lançado em 2024. Click, acervo e cortesia: Cesar Gavin
A interpretação da Renata "Tata" Martinelli ficou maravilhosa. Aqui nessa canção, ela encarnou o seu lado atriz, também, e mais do que cantar divinamente, entrou na personagem e de fato conduz o ouvinte a tal viagem fantasmagórica descrita ao longo da letra. E o Kim intervém muito bem, de forma a abrilhantar a história narrada quase que de forma dramática.
E por fim, o meu baixo está com um timbre espetacular. Tem o "veludo natural" do Fender jazz Bass, mas há um ponto de médio-agudo que eu sempre forço ao equalizar o som do amplificador, que lhe conferiu uma aura um pouco mais áspera, quase a se parecer com o som de um Fender Precision, e tudo isso ficou espetacular a realçar a proposta do arranjo que eu criei para essa música a estabelecer o baixo no estilo "andante", bem na característica do Jazz tradicional.
Continua...
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