quinta-feira, 24 de maio de 2012

Autobiografia na Música - Boca do Céu - Capítulo 7 - Por Luiz Domingues

No dia seguinte ao nosso primeiro show, fomos ao Teatro Municipal de São Paulo onde assistimos a um show histórico : Mutantes e O Terço, a tocar Beatles. Foi um contraste e tanto para nós que ainda sentíamos a adrenalina do nosso primeiro, e ultra amador espetáculo de fundo de quintal, em relação a um espetáculo suntuoso, com duas das maiores bandas de Rock dos anos setenta, e em um espaço luxuoso, como o Teatro Municipal. Lembro-me bem que cada banda realizou o seu show habitual, e ao final, voltaram juntas ao palco, e como um octeto, executaram diversas canções dos Beatles, caracterizados com o figurino dos próprios Beatles, da capa do LP Sgtº Peppers.
Com o teatro lotado, ainda tenho na memória a emoção desse espetáculo, do qual jamais esquecer-me-ei, primeiro por ele em si, depois pelo fator motivacional que outorgou-nos para seguir em frente, exatamente como um rapaz iluminado, chamado, Francisco, disse-me um dia ao olhar-me firme nos olhos : -"você vai percorrer uma longa jornada e queimar muito óleo..."  

Em relação à troca de nome da banda, de "Céu da Boca", para "Boca do Céu", cabe agora uma explicação mais aprofundada, visto que anteriormente apenas comentei en passant. A ideia de mudar o nome foi do Laert Sarrumor. "Céu da Boca", remetia à anatomia buco-maxilar, mas também era metaforicamente bem ingênuo, coisa de escotismo ou congregação religiosa. 




Mas a inversão parecia à época, uma posição mais radical e condizente à uma banda de Rock com valores setentistas, e portanto, coadunada com a contracultura. A boca do céu sugeria uma imagem alucinógena numa primeira compreensão. Mas por apresentar uma conotação dúbia, não levamos em conta o óbvio, ou seja, esse sentimento era peculiar à nós que estávamos ligados em Timothy Leary; Ken Kesey; Allen Ginsberg e na literatura de Aldous Huxley; Herbert Marcuse; Hermann Hesse e Carlos Castañeda, principalmente, mas para pessoas não coadunadas con tais ideias, podia assumir outras interpretações, inclusive as mais tolas.
Um nome de banda tem que ser conciso em tese e mesmo que dê margem à múltiplas interpretações, possuir uma base sólida, de onde a ideia primordial origine-se e transmita essa força. Além deste aspecto abstrato, mercadologicamente, tem que conter uma série de atributos. Como por exemplo, ser sonoro; não dar margem à confusão no seu entendimento semântico; não dar margem à criação de apelidos e paródias chulas e obscenas; ser fácil para a memorização, e de preferência, não conter artigo e / ou preposição adjuntos.
No caso do "Boca do Céu", não observamos quase nada desses cuidados básicos, mas ofereço o devido desconto pela nossa condição adolescente e incauta da época...

Continua...

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