terça-feira, 8 de maio de 2012

Autobiografia na Música - Boca do Céu - Capítulo 4 - Por Luiz Domingues

Mas o talento venceu o preconceito tolo, pois logo nas primeiras conversações, percebemos que esse Laert Júlio era um sujeito diferenciado, porque mostrou-nos seus poemas; algumas músicas compostas; além de ostentar claramente para nós, uma vasta cultura musical, cinematográfica etc.
Ele falava sobre artes plásticas; teatro; poesia e literatura. Citava uma enorme quantidade de referências muito significativas, e era tão rocker quanto qualquer um de nós. E para aumentar o seu currículo, mostrava-se um desenhista de mão cheia, pois estava a viver desse expediente nessa época, a realizar retratos de pessoas pelas mesas dos bares noturnos, e também a vender de mão em mão a sua revista de cartoons, que ele mesmo produzia, chamada, "Sarrumorjovem", grafado dessa forma, tudo junto, propositalmente. Um pouco mais velho que nós, mas muito mais antenado culturalmente, Laert tirou-nos de uma condição de banda quase fictícia, para algo real, concreto, com possibilidade de vir a tornar-se de fato, uma banda real, em condições de pleitear um lugar ao sol.

Mesmo ao achar divertida a repercussão da carta publicada no Jornal de Música da revista "Rock; a História e a Glória", onde os leitores execravam-nos como analfabetos por ter sido publicado "Ingeção" com "G", ele persuadiu-nos a voltarmos a usar o nome "Céu da Boca", novamente, até acharmos algo melhor. Já incorporado o novo nome, começamos a ensaiar de fato, com baixo; guitarra, e bateria, pois à esta altura, já havíamos conseguido comprar amplificadores e um equipamento de voz, quando passamos a ensaiar na casa do baterista, Fran Sérpico, que mudara-se do Tatuapé, para o bairro Campo Belo, na zona sul de São Paulo, numa casa ampla. 

O choque de qualidade com a entrada dele, foi grande, quiçá, enorme. Ao acrescentar algumas músicas dele, já prontas, com muito maior qualidade musical, e letras muito acima da nossa capacidade juvenil. Foi uma época de muita euforia de minha parte, pois finalmente sentia-me dentro de uma banda, e mesmo sendo um reles aspirante a músico, sentia perspectivas concretas, enfim.

E foi assim até o final de 1976, com ensaios, músicas sendo criadas etc. E para registrar : tenho todos os exemplares da revista "Sarrumorjovem" guardados. Hoje devem valer ouro no mercado de colecionadores, acredito. Falo dos fatos iniciados em 1977, a seguir.

Continua...

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