Quantos brasileiros já perderam a noite preocupados que ao redor da Ilha de Caras há 180 milhões de analfabetos humanos, ténicamente falando?
Passei uma noite me sentindo Dante Alighieri no inferno, ao pensar que vivo num país onde até alguns “amigos” nos atrapalham. Viver no Brasil depois de ter lido uma meia dúzia de clássicos é como viver dia a ...dia uma hora de pesadelo ao saber que é um país de gente sem noção ou com meia noção, porém de noção inteira é raro se encontrar. Nem se cogita no país sobre a penúria do capital humano, com menos leitores per capita do planeta.
Dia desses viajando como sobrevivente que sou das letras, sem que a academia nem governo, nem fundo privado, nem um desses bancos que financiam os protegidos oficiais contam e dei, numa cidade do interior, em plena rodoviária com a placa de ” aditmi-se”. Nem li o resto. Passam-se cidades e mais cidades com mais de cinquenta mil habitantes sem cinemas nem livrarias.
Perguntei outro dia a duas meninas entre quatorze e dezesasete anos o que quer dizer a palavra “hierarquia”. Bem, elas não sabem, tadinhas. E alegremente nem se preocupam em não saber. Essas frustrações as vezes despertam meu lado Stephen King, minha metade negra.
Essa semana sacrifiquei da minha rede social uma jornalista que já foi quase amiga minha no passado e eu era colaborador voluntário do seu site. Depois ela casou com um almofadinha, e o site dela passou a ter apenas crônicas do casal . Ignorou meu pedido para promover meu livro “O Tigre De Deus Em Seu Jardim” e com o tempo, apesar dela ser bonitinha e eu pensar que no futuro, quando ela cansasse do almofadinha poderia me colocar como sócio, fui cansando da sua cara inútil a me lembrar todo dia que ela era mais uma mediocridade individualista.
O que o mundo deve saber é que o cara sou eu e sou o primeiro a saber disso. Dou a mão a quem me dá e respeito quem me respeita. O resto se não me provar conhecer os valores da boa cruzada, não faço brinde.
Virei um bicho do mato, porém sofisticado pela leitura de Kafka e outros. Sim, a maioria do país nem se importa de saber , inclusive os que estão na vitrine, do lado dos “vitoriosos”, que o país não tem projeto, nem futuro, nem sentido.
È um país sobrenatural, aleatório, dependendo da ação de um indivíduo aqui e outro ali. O povo não sabe o que é valor, se a televisão não lhe mostrar; tampouco os políticos nem poderosos querem gente de valor por perto, já que eles também não tem valor. Uma terra estrangeira, onde se vive com muitos poucos amigos que servem.
Como se pode amar um poeta se não se sabe o que é um poema? Enquanto a noite passava, ia-me armando até os dentes para mais um dia. Apenas dois por cento da população sabem quem foi Kafka.
Arrepiava-me durante a noite sabendo que não posso esperar me surpreender. Sacrifiquei a jornalista porque ela ia demorar a descobrir meus talentos de amante. Sequer leu um de meus livros. Pus meu Iorquishare no colo, enquanto via a cabeça dela rolar entre os deletados. Depois liguei a televisão e fui ver a hora do pesadelo. Terra de índios.
Intelectuais sofrem pelo povo que os fazem sofrer lendo “adimiti-si”. Sou Dante Aliguieri, mas quem vai saber?
Bom Dia, Brasil.
Marcelino Rodriguez é escritor com uma vasta obra. Entre seus livros lançados, "O Tigre de Deus em Seu Jardim", citado por ele mesmo em sua matéria. É um intelectual inconformado com a falta de incentivo do governo em relação ao livro, no Brasil. A partir desta participação, torna-se colaborador esporádico do Blog Luiz Domingues 2.
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