Houve um tempo
em que tal distúrbio era tratado como uma “frescura” da parte de artistas
temperamentais, mas nos dias atuais, é sabido que o dito “Stage Fright”, ou na
tradução livre para o nosso idioma, “medo do palco”, é na verdade um problema de ordem psicológica e a conter gravidade, portanto a requerer tratamento conduzido por profissionais
habilitados. E sabemos outrossim que tal mal infelizmente acomete muitos artistas, além de palestrantes e
políticos que precisam falar em público.
Tal
dificuldade pode ocorrer com qualquer pessoa, independente de seu talento e/ou
fama, ou seja, para qualquer um que tenha que expressar-se diante de uma audiência. Quem
possui tal doença, sofre muito e prejudica demais a sua carreira, seja lá qual
for o ramo de sua atividade.
Talvez seja mais visível para um artista, que
precisa estar 100% seguros, a fim de garantir uma boa performance sobre o palco,
onde muitas vezes, um mau desempenho pode arruinar a sua carreira e claro que poucas
pessoas presentes na audiência vão manter a devida paciência de relevar e compreender que o artista em questão
sofre desse mal.
Pois foi
assim, através de um festival de música popular, realizado em um famoso teatro da cidade e
com a presença de muitos artistas populares (e alguns emergentes), que uma cantora com relativa
fama no panorama artístico, demonstrara na coxia do teatro, que estava muito tensa,
momentos antes de chegar a sua vez de subir ao palco.
Até aí, momentos de
nervosismo podem acometer qualquer artista, por vários motivos, mas dentro de
um limite de tolerância, dentro de um padrão de normalidade, digamos assim.
Assim como existem os que não demonstram nenhuma apreensão e pelo contrário,
portam-se nos bastidores como se estivessem na sala de estar de suas
respectivas residências a conversarem descontraidamente sobre assuntos
completamente desvinculados do espetáculo que cumprirão minutos depois,
sob absoluto controle emocional.
E existem também os que estão tensos, mas
por outros motivos, preocupados com falhas técnicas detectadas em cima da hora do espetáculo iniciar-se e
mais portam-se como patrões irascíveis a distribuir repreensões aos funcionários,
técnicos etc.
Mas no caso
dessa cantora, foi nítido ao observá-la, que ela estava muito incomodada pela incidência do dito
“Stage Fright”, pois o seu descontrole só aumentara à medida que a sua vez de
enfrentar a plateia, aproximara-se.
Amparada pelos músicos de sua banda de apoio
e muitos outros artistas ali presentes, deu para notar que muitos ali sabiam de
seu problema e solidarizaram-se com esse seu momento difícil. Talvez mesmo por
isso não houve nenhuma cogitação de se cancelar a sua participação, o que para
algum desavisado, poderia até ser interpretado como um ato imprudente, mas na
verdade denotou que essas pessoas sabiam que a crise que ela enfrentava ali era dura, mas que conseguiria superá-la e no fundo, mais do que isso, sabiam que ela mesma não
cogitava cancelar e queria apresentar-se.
Em síntese, houve ali a compreensão
de seus amigos que acostumados com a sua síndrome, sabiam que se revelava como um sintoma inevitável a pane
que a acometera e que mais forte que o medo, houve a sua vontade ferrenha para de vencê-lo e poder assim exercer
a sua arte.
A suar em
píncaros e por conta disso, ter que retocar a sua maquiagem, ela foi, paradoxalmente em relação
ao que sofria, corajosa.
E mesmo ainda a possuir um pouco de reação espasmódica e por conta desse fenômeno físico, a ostentar
um semblante tenso, a cantora conseguiu adentrar o palco e cantou.
Cantou e encantou a plateia com
a sua voz macia e afinada, sua graça gestual e sua beleza física que era grande,
diga-se de passagem. E foi aplaudida, merecidamente pela sua performance,
todavia, implicitamente também pela sua coragem, que poucos da plateia sabiam que ela
teve para lutar e vencer o seu medo, ao menos daquela vez. E assim, noite após noite, a catarse
dolorosa a consumia, a somar-se com o seu poder de entrega artística e assim a garantir que ela adquirisse um valor
inestimável e oculto da maioria de seus fãs.
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