Houve época na história da humanidade que em certas civilizações & culturas, o homossexualismo não foi um tabu, mas algo aceito normalmente, sem reservas morais ditados por paradigmas religiosos. Mas com o avançar da história, isso mudou radicalmente ao ponto de ser tão execrado em certas sociedades e épocas, que passou a ser considerado um crime.
Ao situar a nossa história no Brasil, e ao final dos anos setenta, é possível imaginar que tal questão ainda era um tabu fortemente execrado por setores conservadores da sociedade civil, tolerado oficialmente sem criminalização, mas com muito desagrado por parte do governo autoritário de então e com razoável aceitação na mídia, vide o sucesso que alguns artistas fizeram, ao usar e abusar de trejeitos a insinuarem tal tendência e com forte apelo popular.
Dentro desse contexto, Távolo Philsh (Tadeu Filomeno era o ser nome de batismo), foi um artista que buscava o seu lugar ao sol e mantinha em sua linha de atuação, tais características femininas, igualmente, como outros artistas que consagraram-se naquela década.
Independente disso, era um bom cantor e compositor, tocava vários instrumentos e mesmo ao atuar há anos no patamar underground da música, tinha o seu valor artístico, incontestável. Foi por volta do segundo semestre de 1979, que ele arregimentou uma nova banda, visto que o seu empresário havia marcado uma série de shows para ele.
Foi quando o jovem guitarrista, Tony Almeida, chegou para atuar com essa banda de apoio ao Távolo, por indicação de seu amigo, o baixista, Cid Tribucci, que já estava contratado.
Os ensaios e shows transcorreram bem e o fato de Távolo ser assumidamente homossexual e usar tais trejeitos efeminados em sua atuação no palco, não constrangera os membros da banda, todos heterossexuais e assim a relação de trabalho não sofrera abalos, por conta desse fato.
Mas foi quase ao final da temporada, que um episódio ocorreu em um determinado camarim.
Show realizado, todo mundo a arrumar-se para ir embora e na ala reservada que Távolo usava, eis que uma situação familiar ocorreu e Tony, por azar, presenciou tal cena.
O pai de Távolo, um senhor com idade avançada e certamente a nutrir valores bem diferentes em relação ao seu filho, evidentemente que sabia da orientação sexual de seu filho, mas após brigar e tentar demovê-lo de tais características por anos a fio, adotara uma posição que não fora exatamente em torno de uma resignação respeitosa, mas sim a denotar uma negação dos fatos, ao fingir que não percebia exatamente a tomada de posição de seu filho e mesmo quando isso se tornava patente, ele fingia que não entendia, ao simular uma ingenuidade descabida.
Pois foi nessa circunstância que Tony flagrou o diálogo dissimulado entre pai e filho, a revelar-se algo constrangedor. Eis que o pai agachou-se e apanhou uma calcinha feminina que estava no solo e a entregou ao seu filho, que agradeceu, ao demonstrar naturalidade.
O pai, sem perceber a presença de Tony no ambiente, não suportou aquele silêncio constrangedor e perguntou ao Távolo:
-"Filho, por que você não usa cueca?"
Eis que Távolo respondera:
-"Por que a calcinha segura melhor"...
Tony evadiu-se rapidamente, sem ser notado por ambos e ao analisar o que presenciara, não entrou no mérito do conflito familiar, tampouco ficou a pensar sobre a problemática da homossexualidade na sociedade contemporânea, mas algo ficou em sua mente a intrigá-lo.
Ora, de todas as respostas que Távolo poderia ter dado ao seu pai, a justificar a sua preferência por usar peças íntimas da indumentária feminina, essa deve ter sido a pior, pois como poderia uma peça desenhada para a anatomia pélvica feminina, ser considerada confortável para um homem?
Como assim, "segurar melhor?"
Pois muito pelo contrário, tal peça de vestuário não atende às necessidades masculinas por não segurar nada e pelo contrário, gerar um incômodo e creio não precisar explicar o motivo.
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