Aconteceu no
Tempo de Kim Kehl & Os Kurandeiros, em 2011
Logo que eu entrei na formação dessa banda, tive que adaptar-me ao seu modus operandi e tradições adquiridas como hábitos, bem rapidamente, pois não houve tempo para absorver com calma todas essas novidades, incluso o seu enorme repertório autoral e também munido por muitas releituras internacionais, visto que de imediato eu fui para a estrada com os companheiros.
O lado bom dentro dessa pressa toda, foi que eu tive todo o
respaldo dos colegas e com esse companheirismo solidário, todas as dificuldades
inicias foram neutralizadas, automaticamente.
E uma das primeiras casas que eu
visitei a defender tal nova camisa, foi uma que localizava-se em plena Rua
Augusta, na sua parte a apontar para o centro velho da cidade de São Paulo e
onde há anos, a movimentação noturna havia crescido de uma forma descomunal.
Sobre tal fato eu já sabia por conta de relatos ouvidos da parte de várias pessoas, mas
evidentemente que eu nunca havia nutrido nenhum interesse em averiguar pessoalmente tal
movimentação, em decorrência do meu temperamento natural. Sou notívago, mas não
boêmio, portanto, só fui testemunhar tal balburdia coletiva, no dia em que fui
apresentar-me com Kim Kehl & Os Kurandeiros, pela primeira vez em tal casa,
encravada no epicentro dessa rua completamente tomada por uma horda de jovens e
alguns nem tão jovens assim, sequiosos por diversão hedonista.
A despeito do que narrei no parágrafo anterior, não trata-se de um julgamento moral da minha parte, visto que se não tenho apreço por tais valores, isso não significa que os condene com a veemência hipócrita de um falso moralista.
A despeito do que narrei no parágrafo anterior, não trata-se de um julgamento moral da minha parte, visto que se não tenho apreço por tais valores, isso não significa que os condene com a veemência hipócrita de um falso moralista.
Apenas constato que o panorama que
eu vislumbrei ali naquela primeira vez em que fui apresentar-me em tal casa
noturna localizada naquela rua, com a minha nova banda, foi esse, a confirmar
as informações que eu tinha da parte de terceiros e de certa forma, para amplificar
a minha impressão, ao enxergar in loco, a realidade.
Por sorte, ao menos nessa
casa em que tocamos algumas vezes além dessa, foi que nas primeiras ocasiões em
que lá fomos tocar, havia um estacionamento exatamente em frente, providencial
para que os nossos respectivos carros ficassem guardados com segurança, mas principalmente
pelo fato de que minimizou-se e muito a nossa tarefa braçal para levarmos os nossos
equipamentos, do automóvel para o interior da casa noturna.
Mesmo assim, com essa suposta
facilidade, a questão em si não mostrou-se exatamente tranquila para cumprir-se.
O fato, foi que a quantidade de pessoas a circularem, nessas madrugadas de sexta e
sábado, principalmente, assemelhava-se ao contingente de manifestações políticas de rua.
E com a agravante de haver uma enorme euforia motivada pelo uso e abuso,
sobretudo de bebidas alcoólicas e drogas de todos os tipos, portanto, o simples ato de se atravessar
de uma calçada a outra, em linha reta, tornara-se uma aventura, agravada pelo
fato de estarmos a carregar volumes, mediante instrumentos e equipamentos.
E
mesmo que não aparentasse haver um perigo iminente em termos de agressões ou
tentativas de roubo dos nossos pertences, pelo fato de estarmos em meio a uma
multidão completamente embriagada a berrar, cantar e com cada indivíduo a proferir um discurso
desconexo, como se fosse a cena bíblica da Torre de Babel, além da dificuldade
para passar em meio a essa massa humano tresloucada, houve o desconforto gerado
por tal histrionismo desmesurado e a apresentar alguns perigos iminentes, como por exemplo,
a existência de uma enorme quantidade de garrafas quebradas pela pista e também
na calçada, com cacos de vidros a sugerir uma explosão, proveniente de um
bombardeio, mas não tratava-se de um campo de guerra e sim, o resultado deixado pelo
dejetos jogados pelos milhares de ébrios, que por descuido generalizado, quebravam-se,
para tornar a rua, um campo minado.
Em meio a tudo isso, ainda víamos cenas
prosaicas, como pessoas idosas e alheias à balburdia, mas a aproveitar os
dejetos, como catadores de latinhas e afins.
Bem, foram noites muito boas no
interior das casas em que ali tocamos, e exóticas por tais detalhes alheios aos shows,
quando aconteceram tantas ocorrências bizarras que ali constatamos, e entre tantas, eu pude passar pela
experiência sui generis de ter dificuldade para atravessar uma rua, todavia, não
pelo seu tráfego pesado em decorrência dos automóveis, porém ocasionado por uma
multidão formada por ébrios, a caracterizar um autêntico cordão etílico ali a trafegar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário