terça-feira, 25 de junho de 2019

Faxina Necessária, Porém Assustadora - Por Luiz Domingues


Odores que se misturam: alguns agradáveis, outros acres, até passíveis de provocar náuseas e ardência ocular, barulhos assustadores de toda a monta (produzidos por vassouras; espanadores; móveis que são arrastados com truculência e o pior de todos, o abominável aspirador de pó elétrico), e a sensação de confusão generalizada, com pessoas a se locomoverem apressadamente e a emitirem sons. 
 
O que ocorre e por que esse tumulto acontece, não todos os dias, mas de uma forma ocasional? Logicamente que só muito depois, com a raciocínio formado, tomamos conhecimento desse fato, mas ali, na fase em que somos completamente vulneráveis a tudo e sem entender absolutamente nada sobre tal processo, só há uma certeza: tal prática incomoda!

Eis que o bebê não acorda espontaneamente como geralmente o faz, mas vez por outra é acordado, assim, de forma abrupta ao ser surpreendido pelo inevitável dia da faxina caseira. E aí, leve-se em consideração que cada família tem o seu hábito e há lares em que isso não costuma ser assim tão espaçado, ou seja, talvez seja diário, dada a dimensão da habitação ou pela demanda de uma família numerosa, que naturalmente produz mais sujeira doméstica etc. e tal. 
 
Mas o fato é que para o bebê, o dia da faxina é algo assustador pela incidência dos ruídos assustadores, odores desagradáveis e pelo tumulto perpetrado pelos adultos, a gerar apreensão. 
 
Para que serve exatamente, descobrimos em breve, assim como passamos a gostar de tal ação pelo seu resultado a gerar bem-estar, mas enquanto isso não ocorre, o tal dia da faxina talvez seja algo tão assustador quanto a ação de uma briga generalizada, com o devido perdão pela comparação absurda.
Então tudo tem que ser higienizado? Sim, e logo percebemos a associação direta com o banho a prover a mesma ação, em relação ao nosso próprio corpo. 
 
E por outro lado e também por pura associação de ideias, se existe a ação da limpeza, é por que seres vivos e objetos estão à mercê da sujeira e por conseguinte, tal ação obriga-nos a permanentemente provermos o ato da higienização. Parece e de fato o é, uma obviedade quando ganhamos consciência, todavia, enquanto somos bebês, só gera-nos a sensação de apreensão o famigerado dia da faxina e algum tempo depois, quando já estamos a pensar efetivamente, poderá suscitar a seguinte dúvida para a criança: -“então a vida é suja?”

Independente da maneira com a qual o pai ou a mãe irá responder tal pergunta, deixo aqui uma reflexão extra no ar e não necessariamente a ver com o mote desta crônica, mas não resisto: se limpar é o mesmo que purificar na morfologia, em termos filosóficos, ganha uma outra conotação. 
 
Portanto, se o mundo é sujo e estamos desde que entramos nele, imbuídos da obrigação de nos purificarmos constantemente, haverá de chegar um dia em que transcenderemos a sujeira, não é uma dedução lógica? Pois em termos metafísicos, estarmos sujos e ao nos limparmos constantemente, a sugerir um moto perpétuo, não parece fazer sentido, não acha?   
Então, a completa incompreensão do bebê talvez mantenha um elo, afinal de contas, com a sublimação da sujeira. Bem, é apenas uma conjectura.

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