domingo, 16 de junho de 2019

Julliette Hardy no Ônibus da Firma - Por Luiz Domingues


Uma excursão foi proposta para mudar a dinâmica das festas corporativas em uma empresa, certa vez. Tendo em vista que todo ano as festas de final de ano repetiam-se em uma dinâmica quase idêntica, inclusive pelos aspectos negativos, visto que sempre ocorria a clássica baixaria perpetrada pelos mesmos elementos, que sempre abusavam da ingestão de bebidas alcoólicas. 
 
Portanto, quando a secretaria do departamento de contabilidade sugeriu um passeio a ser realizado em uma praia, todos entusiasmaram-se com a perspectiva de passar um dia no litoral, a quebrar completamente a rotina dos anos anteriores.
Além do mais, nenhuma prática tradicional, como por exemplo o advento da clássica brincadeira do “amigo secreto”, faltaria nessa convivência, mas com o diferencial de que o ambiente seria paradisíaco, a proporcionar muito mais prazer e animação para todos. 
 
Foi unânime a opinião para se aceitar a sugestão e ninguém nem cogitou o fato de que tal mudança de local acarretaria em um gasto maior para todos, a conter a despesa da viagem e talvez estadia, ainda que no calor da discussão gerada, alguém tenha dito que para economizar, o grupo poderia ir e voltar no mesmo dia, a caracterizar a famosa prática do “bate-e-volta”, para se usar uma expressão popular. 
 
Logicamente que não demorou muitos segundos para que alguém levantasse o argumento que além de cansativo, a maioria das pessoas certamente estaria com um alto teor alcoólico no organismo, ao inviabilizar a volta na mesma noite. Pois muito bem, que houvesse então um pernoite para ninguém correr riscos na estrada e melhor ainda, que tal se fretar um ônibus e assim ninguém usaria carro particular? 
 
Dessa forma, de sugestão em sugestão, a ideia ganhou contornos de uma melhor organizada planificação, a garantir a segurança e o conforto de todos. 
Bem, tudo definido, um ônibus foi alugado e um salão de festas reservado em meio a uma bela paisagem, muito próxima de uma praia e com chalés incluso, acertados para todos, com simplicidade em suas instalações, porém a observar o conforto. 
 
Apesar dos abusos etílicos que aconteciam todo ano nessa chamada, “festa da firma”, nunca houve nada grave, mas apenas cenas grotescas protagonizadas pelos mais eufóricos em termos de gritarias e cantorias, seguido por eventuais tombos constrangedores e vez por outra, ao resultar em quebra de alguns objetos, mas nunca houve uma cena de briga verborrágica mais exacerbada e tampouco as vias de fato, embora pequenas discussões motivadas por conta do futebol, fossem consideradas normais.
E por ter sido algo excepcional, ninguém ousou tocar no assunto, para não gerar nenhuma apreensão, possivelmente, mas ao envolver praia e descontração, em meio ao ambiente com calor e mar, é claro que todos iriam trajar-se condizentemente, mas o fato, foi que ninguém advertiu ninguém para coibir exageros, ao se ter em mente que esposas e filhas de funcionários e as próprias funcionárias da empresa, haveriam por usarem biquínis e durante a festa, propriamente dita, provavelmente fariam uso de roupas bem leves e curtas. 
 
Como nunca a festa transcorrera em tal ambientação litorânea, esse seria um fato inexorável e ao mesmo tempo, o bom senso haveria por prevalecer em todos os sentidos, principalmente na observação do respeito da parte dos rapazes, embora sob tais circunstâncias, não olhar para a filha e/ou esposa dos outros, poderia tornar-se uma prática deveras difícil e ainda mais sob o efeito do álcool...
 
Então, na hora marcada, a animação já se mostrou enorme, ao configurar que a ideia estava aprovada mesmo antes da viagem se iniciar, tamanha a euforia observada ainda na porta da empresa, o ponto de partida combinado para o ônibus fretado apanhar o pessoal. 
Entretanto, algo inesperado aconteceu, quando um jovem funcionário apareceu acompanhado de sua namorada. Muitos ali estavam com namoradas/namorados, portanto, não haveria nenhum problema de ordem moralista em alguém não aceitar com normalidade que os casais ocupassem os chalés reservados, mesmo que em certos casos, não fossem oficialmente casados, não foi essa a questão. 
 
Porém o ocorreu, foi que a namorada do rapaz não apenas estava trajada de uma forma acentuadamente sensual, como era de fato, muito bonita. Foi inevitável que todos prestassem atenção nesse aspecto e muitos beliscões, alguns não muito discretos, aliás, foram desferidos por algumas esposas que não gostaram nem um pouco de verem a expressão boquiaberta de seus respectivos maridos e o mesmo ocorreu em relação a algumas namoradas de certos rapazes. 
 
Apesar desse clima instaurado sob estupefação momentânea, logo o clima voltou à sua normalidade e a animação pela viagem retomou a tônica daquele momento, mas o que ninguém esperava, foi por pouco tempo.
Assim que o rapaz (ele chamava-se: Falcone), apresentou a sua voluptuosa namorada às pessoas que estavam mais perto de si naquele momento inicial, um frisson a mais instaurou-se e rapidamente viralizou dentro do ônibus. 
 
O fato é que a moça que chamava-se, Adriana, um nome certamente bonito, mas comum, sem nenhuma conotação estranha, mas ela enfatizara que preferia ser chamada pelo seu apelido, bastante incomum pelo teor provocativo e até de certa forma presunçoso, mas a dar margem, principalmente para a formação da maledicência generalizada: “Delicinha”. 
 
Pois muito bem, pareceu uma piada pronta, na melhor das hipóteses a lembrar o humorismo grotesco dos programas machistas da TV aberta de antigamente, ou uma peça teatral do Nelson Rodrigues, para ficar-se em algo mais cultural, mas o fato residiu em que aquela menina linda, vestida daquela forma e a fazer questão de ser chamada dessa forma... bem, nem é preciso dizer o quanto o comentário espalhou-se muito rapidamente dentro do ônibus. 
 
E mesmo com todo o cuidado entre os homens, que cutucavam-se mutuamente para espalhar a novidade, ao melhor estilo da tradicional solidariedade masculina para compartilhar tais comentários machistas, é claro que as mulheres perceberam o clima, visto serem dotadas do chamado “sexto sentido” e daí a formatar uma irritação com a atitude da parte da “Delicinha”, muito mais do que repudiar o frisson gerado entre os homens, o que não deixou de ser um ato de visão machista, igualmente.
Mas o que pareceu ruim para elas, piorou, pois “Delicinha” não parou por aí. Não satisfeita em estar a exibir a sua beleza e sensualidade através do trajes insinuantes que usava e sobretudo por ostentar esse apelido malicioso a fomentar certas liberdades da parte dos homens mais ousados, eis que ela iniciou a sensualizar de uma forma muito acintosa dentro do ônibus. 
 
Por exemplo, ela tirou ainda mais peças de roupa no decorrer da viagem e a usar apenas um minúsculo bikini fio dental, levantava-se a todo momento do banco em que viajava ao lado do namorado e andava pelo corredor do carro a propor a interação das pessoas para cantar e brincar, como se fosse a guia da excursão e isso gerou uma euforia da parte dos homens que atendiam aos seus comandos para cantar e gritar, mexer as mãos e braços ao seu comando etc. e tal, mas é claro, o que estava a encantá-los ali, fora o seu corpo esplendoroso, do qual não tiravam os olhos e lógico que as mulheres incomodaram-se muito, embora algumas fingissem não perceber a lascividade ali instaurada, justamente para não estragar a excursão e sobretudo a festa. 
 
No entanto, foi por um triz que nenhuma esposa mais incomodada não interveio, pois a proporção com a qual o espetáculo protagonizado por “Delicinha” tomou, foi alta. 
 
Uma vez já na praia, “Delicinha” tornou-se o centro das atenções, ao caracterizar que a festa foi boa para alguns, pois definitivamente, as mulheres não gostaram nem um pouco desse monopólio de atenção que ela alcançou naquele dia e curiosamente, muitos casais resolveram voltar para a capital bem antes do combinado, ao abrir mão da volta garantida, mediante o uso do ônibus fretado e certamente, na intimidade do lar, a conversa ganhou outra proporção. 
 
Dois dias depois a rotina voltou ao ambiente de trabalho e ninguém teceu grandes comentários sobre a “Delicinha”, mas um fato foi notório entre muitos homens: a profusão de hematomas, provavelmente oriundos dos beliscões que sofreram da parte das suas companheiras. 
E o jovem, Falcone, o que achou disso tudo? Bem, ele só tinha em mente que a “Delicinha” era linda e muito desinibida, ou seja, ele admirava essa extroversão que ele gostaria de possuir também, mas não conseguia na mesma proporção que ela apresentava, certamente. 
 
Aliás, alguém aí já assistiu aquele filme francês, como chama-se mesmo? Aquele do diretor, Roger Vadin... lembra-se? Oui, oui... “Et Dieu Créa la femme”... isso! A atriz Brigitte Bardot interpreta uma moça que vive em um balneário e todos os homens ficam hipnotizados por ela, para o desespero do seu namorado... 
 
Pois é, o Falcone pareceu ser uma versão conformada do personagem desse rapaz, o personagem incauto do filme. Coitado, não acha? E assim seguiu a rotina na “firma”.

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