domingo, 20 de junho de 2021

Extraordinariamente Inútil - Por Luiz Domingues

Por volta dos anos trinta do século vinte, um garoto desenvolvera uma capacidade natural, cuja proeza não encontrava uma explicação plausível para tal. Natural de Pécs, capital do condado de Baranya, na Hungria, o garoto chamado, Antal, chamara a atenção para tal feito, desde muito pequeno, muito antes de se alfabetizar. 

Os seus pais eram pessoas simples e naturalmente não entendiam o motivo de seu filho ter demonstrado tal característica tão estranha e não tiveram noção sequer, sobre como proceder exatamente para buscar um apoio qualquer de algum especialista que pudesse estudar o caso e emitir um parecer. 

Teria sido um caso a ser estudado pela medicina? Aparentemente, não, pois não envolvia nenhuma anomalia de ordem física, mas poderia ser algo mental, daí a ser estudado pela psicologia, quiçá psiquiatria, portanto, seria um caso a se analisar.

O que efetivamente incomodou a família e mais ainda o menino Antal, no entanto, foi o fato de que a sua fama se espalhara pela vizinhança e o assédio o tornou recluso, a evitar sair de casa, haja vista que era sempre interpelado a realizar a sua proeza e assim, ele se sentia ridicularizado por ser tratado como um menino fora do normal.

Entretanto, ele era um menino absolutamente normal, que apenas queria brincar com seus irmãos, primos e amigos, mas a sua proeza o marginalizara.

E o que ele fazia de forma espantosa e que surpreendia as pessoas, afinal de contas? Bem, ele tinha a estranha capacidade de estabelecer uma conta aritmética absolutamente inusitada, de uma forma rápida e como resultado, acertava com precisão a data de aniversário com dia, mês e ano de qualquer pessoa, mediante um número aleatório que a própria pessoa lhe dissesse.

Qual a lógica? Nenhuma, aparentemente, mas o menino ouvia o número e ao balbuciar uma série de adições, multiplicações e subtrações absolutamente sem sentido concreto, chegava a um resultado incompreensível e mediante tal número tão aleatório, ele olhava firmemente para os olhos do seu interlocutor e lhe dizia exatamente o dia, mês e ano que tal pessoa nascera.

Assim que a pessoa confirmava a veracidade da data por ele expressa, geralmente as demais que rodeavam o menino, vibravam com o acerto e regozijavam-se, ao enaltecer o prodígio de Antal. Mas ele odiava esse tipo de manifestação e abaixava a cabeça normalmente, como a se sentir culpado. Mais do que isso, ele na verdade se sentia deprimido por estar a fomentar tal fama indevida.

Ele não havia completado nem quatro anos de idade e sentia medo de sair às ruas, pois costumava chorar com frequência e buscava o quarto como refúgio em meio ao seu tormento.

Entretanto, as pessoas da vizinhança não paravam de bater palmas na porta da sua residência, a solicitar a exibição dessa capacidade da parte do pequeno Antal e a sua família também não teve mais paz.

Bem, sem saber que fazer, o seu pai, o senhor Gabor, não teve outra ideia a não ser procurar trabalho em uma outra cidade e assim promover a mudança da família para algum lugar em que o seu filho não fosse conhecido e claro, instrui-lo a nunca mais exibir a sua capacidade para fazer tais contas incompreensíveis, para chegar em um resultado tão fora de propósito.

Bem, foi com muito sacrifício que Gabor conseguiu garantir trabalho e efetuar a mudança da família e ali, mais crescido, o garoto ocultou a sua desconcertante linha de raciocínio e teve paz para ser um garoto normal, a brincar e frequentar as aulas da escola fundamental.

Já quase adolescente, ele perguntou à sua mãe, um dia, por que ele tinha essa capacidade que nenhum dos seus irmãos possuía. Sem saber o que lhe responder, a senhora sua mãe, chamada, Teçá, se limitou a dizer que não sabia o motivo.

Foi então que Antal lhe disse: não serve para nada, mãe. De fato, tal proeza não tinha utilidade alguma a não ser gerar a curiosidade e no caso dele, a significar apenas o sofrimento.  

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