Demorou, pois a logística não nos permitiu reunir o Laert e os dois cantores convidados no mesmo dia e horário na sala de estúdio, mas eis que enfim conseguimos agendar os três, e esse dia foi histórico para a nossa banda. Evidentemente, por tudo o que eu já expus antes, a carga emocional dessa gravação (e falo ante a sua totalidade), foi muito grande, desde o dia em que resolvemos gravar a primeira música desse grande resgate, e esse aspecto tratou de se intensificar na medida em que as sessões aconteceram, uma a uma a apontar para a construção paulatina da canção.
Mas neste caso, houve uma precipitação emocional a mais, pois por força das circunstâncias, porquanto foi a primeira participação direta do Laert com a produção em si. Por estar a morar em São Vicente, no litoral de São Paulo, a sua vinda para a capital não se mostrara possível nas sessões anteriores e somente na hora de gravar a sua participação com a voz solo, foi plausível ajustar a sua vinda para sincronizar a logística com os cantores convidados, Caca Lima e Renata "Tata" Martinelli.
Caca Lima e Laert Sarrumor na primeira foto. Renata "Tata" Martinelli e Wilton Rentero na segunda fotos. Renata "Tata" Martinelli na sala técnica do estúdio Prismathias de São Paulo. Boca do Céu na gravação do single "1969". 3 de julho de 2023. Click, acervo e cortesia: Wilton Rentero
Sobre o Caca Lima, este era um velho companheiro do Laert, pois estava presente na formação do Língua de Trapo desde a reformulação completa que o grupo sofreu, quando voltou à cena mediante a formação quase que inteiramente renovada, em 1992, e neste caso a contar com o Laert e o guitarrista Serginho Gama como únicos remanescentes da formação clássica da banda, a se contar de 1981, pois na prática, desde o embrião fundamental do grupo formatado em 1979, somente o Laert estava presente desde então.
O nosso convidado especial, Caca Lima, ao lado de Laert Sarrumor. Em pé, próximo, o excelente fotógrafo e film-maker, Moacir Barbosa de Lima, o popular "Moah" que foi cobrir gentilmente essa sessão. Pelo espelho, dá para ver as presenças de Wilton Rentero e Renata "Tata" Martinelli que estavam sentados no sofá do outro lado. Boca do Céu no estúdio Prismathias de São Paulo. 6ª sessão de gravação da música: "1969". 3 de julho de 2023. Click e acervo: Luiz Domingues
Sendo assim, Caca Lima era naquela altura, um músico muito experiente, além de ser eclético por tocar e muito bem, vários instrumentos (violão, guitarra, baixo), e também cantar com bastante afinação e potência vocal. Além do mais, segundo o Laert, o Caca tinha consigo desde sempre um talento extra, ao se mostrar como um arranjador de vozes de extrema competência e bom gosto, daí, mais do que ter sido convidado para gravar com a sua ótima voz o backing vocals, ele também teve a incumbência de propor o arranjo.
Renata "Tata" Martinelli na sala técnica do estúdio Prismathias de São Paulo. Boca do Céu na gravação do single "1969". 3 de julho de 2023. Click, acervo e cortesia: Wilton Rentero
E sobre a Renata "Tata" Martinelli, eu nem preciso descrever o quanto ela era uma cantora sensacional e um doce de pessoa, pois já relatei com muita ênfase em diversas vezes que a citei como cantora d'Os Kurandeiros, além de outros trabalhos avulsos que fizemos juntos, como por exemplo a acompanharmos o cantor, Edy Star, em muitos shows.
No entanto, fora a minha minha amizade com ambos, uma série de coincidências cercou essa produção, para tornar essa junção de tantos talentos, mais do que musicalmente incrível, mas sobretudo a projetar ter sido uma verdadeira ação entre amigos e não necessariamente que eu tivesse sido o elo para uni-los todos, pois eles já mantinham amizade entre si há tempos e na trajetória de cada um, constavam muitas parcerias musicais boas a alimentar o currículo individual de cada um.
O engenheiro de áudio, Danilo Gomes Santos e o nosso convidado especial, Carlinhos Machado. Boca do Céu a gravar o single "1969". Estúdio Prismathias de São Paulo. 3 de julho de 2023. Click e acervo: Luiz Domingues
Senão vejamos: Carlinhos Machado já era meu amigo desde 1995 e estávamos juntos a atuar com Os Kurandeiros desde 2011. Carlinhos era amigo do Laert desde o início dos anos 2000 (e também do Caca Lima), e essa amizade fora construída sem que eu tivesse exercido influência para que eles se tornassem amigos.
Rodrigo Hid, que tocou teclados nessa faixa, foi meu companheiro de três bandas (Sidharta, Patrulha do Espaço e Pedra), e também era amigo do Laert desde 1999. É bem verdade que fui eu quem os apresentei um ao outro nesse citado ano, mas a amizade deles se solidificou por outras conexões, inclusive por conta de uma namorada que o Rodrigo teve e essa moça era bem ligada ao Língua de Trapo em seus bastidores. E por conseguinte, Rodrigo era amigo do Caca Lima desde então, e também do Carlinhos, que conhecera em 2001 por causa da produção de um show da Patrulha do Espaço, nossa banda na ocasião, na qual o Carlinhos esteve envolvido como coprodutor da Sarah Reishman, uma agenciadora de shows, nessa ação.
Wilton Rentero e Renata "Tata" Martinelli na sala técnica do estúdio Primathias. Danilo Gomes Santos está sentado na mesa de operações. Boca do Céu a gravar a música "1969". 6ª sessão de gravação, das vozes. 3 de julho de 2023. Click e acervo: Luiz Domingues
Além disso tudo, a Renata era amiga do Cacá de muito tempo e ambos já haviam tocado juntos em diversos projetos, incluso um "tributo ao Genesis" que o Caca me enviou para a apreciação mediante vídeos e a qualidade da banda e logicamente dos dois a atuar juntos nessa missão, impressionou-me, certamente, embora não fosse nenhuma novidade, como se eu não soubesse do alto quilate de ambos. Renata também era amiga do Rodrigo de longa data.
E finalmente, nesse ínterim, confirmou-se a participação dos sopristas, André Knobl e Paulo "Beto" Pizzulin, membros do excelente grupo instrumental, "Neurozen"em nossa gravação. Esse grupo em questão, aliás, cujo disco de estreia eu já havia analisado mediante uma resenha que escrevi e publiquei no meu Blog número um. Além do mais, quando eu entrei na formação d'Os Kurandeiros em 2011, o saxofonista, André Knobl, estava fixo na formação da nossa banda e ele havia sido levado para a grupo por intermédio de Renata "Tata" Martinelli, ou seja, eles já eram amigos há muitos anos. E mais uma informação para agregar: eles tocaram em algumas faixas do álbum "Fuzuê", do Pedra, banda da qual eu e Rodrigo fomos componentes.
Somente isso? Não, pois como se fosse uma autêntica "cereja do bolo", eis que eu descubri que o filho do baterista do Língua de Trapo, Vinicius Valentim (o pai é o Valdir Valentim, também da formação pós-1992 dessa banda), era o baterista do grupo "Neurozen" do saxofonista, André Knobl e do trompetista, Paulo "Beto" Pizzulin. Vinicius também escrevera uma biografia do Língua de Trapo como "TCC" ao encerrar o seu curso universitário, conforme me contou o Laert.
Ao fundo, direto da sala de gravação, Laert Sarrumor a gravar a voz dolo da canção "1969". De dentro da sala da técnica, vemos Danilo Gomes Santos a mirá-lo (Danilo está visível por detalhes) e ao lado na sala de gravação da bateria, Carlinhos Machado também estava a fotografar o Laert. Boca do Céu no estúdio Prismathias de São Paulo. 3 de julho de 2023. Click e acervo: Luiz Domingues
Em suma, nos cercamos de um time de músicos de apoio talentosíssimos para encorpar o nosso som e que além da amizade, comigo ou com o Laert, também mantinham conexões fortes uns com os outros. E essa união tão agradável em termos de camaradagem, só poderia somar muito como valor agregado à produção e foi exatamente o que ocorreu.
Continua...
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