domingo, 24 de setembro de 2023

Autobiografia na música - Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 194 - Por Luiz Domingues

A nossa banda sob panorâmica no palco. Os Kurandeiros no Fábrica Parque do Belém 4.0 de São Paulo. 9 de julho de 2023. Click, acervo e cortesia: Dalam Junior

Cheguei cedo ao Parque Belém e desta vez, por haver tomado conhecimento que haveria um amplificador à minha disposição nessa produção, me aliviei por não ter que levar o meu equipamento, haja vista que em 2022, foi um sofrimento para ingressar no parque, sobretudo por seguir as suas regras ultra engessadas nesse quesito e assim, naquela ocasião passada, eu fora submetido a ter que parar o carro em um lugar longínquo e levar o meu equipamento por um longo percurso através de um carrinho de transporte de volumes, através do parque.

Sendo assim, apenas a me preocupar em carregar o meu instrumento, eu programei a minha chegada ao local de uma outra forma, ao me dar ao luxo de estacionar em uma rua próxima, da qual eu nutro carinho, por haver morado ali, no longínquo ano de 1971. Assim que estacionei o carro em frente à casa que eu morei, imediatamente me recordei de ouvir o som do vizinho que já era adolescente na ocasião e na esteira de um som escutado à distância, eu ouvia Mutantes, Santana, Jimi Hendrix, Led Zeppelin e outros artistas sensacionais dessa estirpe, praticamente o dia inteiro. 

Reminescência setentista a parte, dali, em menos de um minuto eu cheguei à portaria do parque e sob uma caminhada tranquila, embora com um princípio de chuva e frio, me apresentei ao segurança do teatro, que liberou a minha entrada. Fui o primeiro da nossa banda a chegar e ali estava presente o bom técnico de áudio do teatro, Juninho Bacon. Tomei posse do camarim número dois e paulatinamente ajudei cada companheiro que chegou a seguir, e inclusive o pessoal da banda que tocaria conosco.

Cabe acrescentar que o teatro houvera mudado o seu nome em relação ao show que ali fizemos em 2022, ou seja, agora acrescentara a marca "4.0", ao lhe ofertar ares de modernidade à sua posição, no sentido de se adequar ao conceito "4.0" que demarcava uma etapa contemporânea da revolução industrial, a incorporar a robótica e a inteligência artificial no mesmo bojo do avanço tecnológico. Bem, apenas estou a anotar o que eu vi, sem emitir uma opinião mais profunda a respeito, embora ao olhar esse acréscimo, eu tenha tido a reação de considerar como algo no mínimo pretensioso.   

E foi quando me surpreendi positivamente com a simpatia desses rapazes da banda que acompanhar-nos-ia nessa tarde e finalmente entendi algumas questões sobre eles. Primeiro ponto, esse grupo, chamado: "Ácido", realmente tinha mais de quarenta anos de atividades e assim mantinha uma carreira longeva e com farto currículo na cena de seu país de origem, o Uruguai. Mas na verdade, apenas um de seus componentes originais veio ao Brasil e a remontou aqui como uma espécie de franquia internacional, acompanhado de três novos companheiros brasileiros.

O segundo ponto é que o "Ácido" original permanecia em atividade no Uruguai e esse artista, o cantor e guitarrista, Juan Acuña, apelidado como "Perro" (cachorro em português), trouxe a sua alcunha como uma marca registrada para diferenciar. Daí o Perro Ácido. 

E o terceiro ponto, foi a extrema simpatia com a qual eles se apresentaram e interagiram conosco, inclusive, da parte dos três brasileiros da banda a reconhecerem-me e reverenciarem a minha trajetória, principalmente como ex-componente d'A Chave do Sol nos anos oitenta, ou seja, apesar de aparentarem ser muito mais jovens para ter acompanhado tal banda nessa década, demonstraram grande respeito, conhecimento de causa e admiração por este meu trabalho, querido, certamente, mas nessa altura dos acontecimentos, a se tratar de algo absolutamente remoto. Contudo, eu apreciei muito a manifestação desses rapazes. 

E como último ponto a ser destacado, eis que o baterista e também back vocalista do "Perro Ácido" quis saber quem de nós havia sido componente do "Pedra", pois ele era primo de segundo grau do guitarrista, Xando Zupo, ao se chamar Pedro Zupo. Dessa forma eu me apresentei como ex-membro dessa banda e daí ele me contou sobre o seu parentesco com o guitarrista dessa minha antiga banda.

No momento do "soundcheck", Carlinhos Machado comandou a "selfie" com Kim Kehl a frente. Os Kurandeiros na Fábrica de Cultura 4.0 Parque Belém de São Paulo. 9 de julho de 2023. Click (selfie), acervo e cortesia: Carlinhos Machado

Bem, para quem estava receoso por não haver entrosamento em meio a um show compartilhado com uma banda inteiramente desconhecida, esse início de convívio, foi dos mais promissores e dessa forma, que ambiente bom se construiu de uma forma automática para garantir uma boa apresentação para as duas bandas!

Continua...     

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