sábado, 4 de abril de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 248 - Por Luiz Domingues


De volta a falar sobre os shows e demais acontecimentos ao final de 1985, o próximo compromisso após o evento, "Rock in Chácara" realizado na cidade de Botucatu / SP, seria mais próximo da capital. Tratou-se de uma casa noturna chamada : "Shock", localizada na cidade de Santo André, na Grande São Paulo. Realizou-se no dia 23 de novembro de 1985, com um público a contar com setenta pessoas. Foi um show positivo, mas o equipamento disponibilizado não foi bom e mais uma vez, fizemos o show mais na base da obstinação, do que sob condições ideais.

Depois desse compromisso em Santo André, tivemos um tempo enfim, para dedicarmo-nos aos ensaios e assim pensarmos na reformulação do repertório, com a inclusão de muitas músicas novas e já coadunadas com a nova mentalidade da banda. Nessa época, já trabalhávamos em músicas como : "O Cometa", "O Que Será de Todas as Crianças" (?) "Solange", "Saudade", "Sun City", "Forças do Bem" etc.
Tais canções surgiram rapidamente no decorrer dos ensaios, com exceção de "Solange", que o Beto trouxe pronta, pois essa balada fazia parte do repertório de sua ex-banda, "Zenith". Como eu já relatei, para que essas novas músicas nascessem, muita conversa existiu no interno da banda, pois elas representavam mais uma troca de paradigma na carreira d'A Chave do Sol. Pois tratara-se da terceira mudança de sonoridade e estética para a banda e nós somente tínhamos três anos de vida, ou seja, a nossa estratégia gerencial, estava atabalhoada, à mercê de boatos que corriam pelos bastidores.
De fato, demos um passo errado ao lançar músicas com tanto peso.
Como agravante, os arranjos preenchidos por firulas influenciadas pela escola do Jazz-Rock, tornaram as músicas ainda mais difíceis para ser digeridas por um público não especificamente simpatizante dessa mistura muito improvável. E mesmo assim, convenhamos, revelou-se algo a indicar um compartimento dentro de um nicho, eu diria, pois não estávamos a agradar o público dito "headbanger" radical e os nossos velhos fãs estavam certamente desapontados com o peso imprimido, com raras exceções.


Bem, internamente, tínhamos a resistência do Zé Luiz, no tocante à simplificação dos arranjos. Para ele, a marca registrada da banda, sempre foi justamente a sofisticação instrumental, via Jazz-Rock. Extrair o peso e o ranço Heavy-Metal, seria ótimo, mas passar a exercer arranjos simples, seria demais para ele. Lembro-me bem, em sua argumentação, ele costumava citar o "Rádio Táxi", como uma banda formada por músicos de alto nível, mas que deliberadamente faziam um som Pop simplista para atingir o público popular. Isso para ele, era execrável. Em meu caso, eu temia pelas letras, já que gostava da linha que adotávamos desde o início, ao falarmos sobre questões sociais; ecológicas e também ao partirmos para o hermetismo sofisticado, quando do aproveitamento dos poemas de nosso colaborador, Julio Revoredo.
Todavia, o Beto insistira para que a reformulação fosse total, isso se nós realmente aspirássemos de fato pleitear um lugar no patamar do  mainstream midiático & fonográfico, e nesse caso, não bastava adequar a parte musical, mas seria muito importante também buscarmos o teor das letras sob uma compreensão mais popular. Ele teve razão nos dois aspectos, é claro, ainda que fosse doloroso para nós, pois a priori, ficara a sensação de que estávamos a vendermo-nos para o sistema, com o perdão pelo exagêro. Bem, o único fator que tornou-se unânime para nós, foi que erráramos na estratégia em imprimir peso ao trabalho, ao início de 1985, motivado por falsos boatos de que a estética do Heavy-Metal teria oportunidades no mainstream, e decorrente desse erro de nossa parte, tirar esse ranço foi mais do que necessário como meta para 1986.

Continua...

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