Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
sexta-feira, 3 de abril de 2015
Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 247 - Por Luiz Domingues
A Folha de São Paulo, um dos maiores, senão o maior jornal do país, a partir do início dos anos oitenta, adotou uma linha editorial fechada em seu departamento cultural, e que perdura até os dias atuais, infelizmente. Nesses termos, artistas não coadunados com a "revolução" Punk de 1977, tendem a ser desprezados, desdenhados e preteridos em favor de artistas de qualidade técnica muito duvidosa, para ser muito elegante. No início de janeiro de 1986, tal periódico publicou uma resenha coletiva, a descrever quatro discos de Rock pesado, lançados pela Baratos Afins, entre eles, o nosso EP, evidentemente. Eis a transcrição da parte que tocou-nos :
"A estréia (sic) de "A Chave do Sol", em álbum, tem seu momento alto em "Um Minuto Além", onde a voz gutural de Fran (o mais novo integrante do ex-trio) só quer entender porque tantas diferenças sociais. Por trás, a guitarra de Rubens Gióia costura e caseia um clima delicado, diferente do que faz em "Anjo Rebelde", "Segredos" e "Ufos", quando o que vale é o muro desabando sob os ouvidos dos ouvintes.
Segunda constatação : a competência está a caminho. A mesma "Chave do Sol" peca por tentar unir um baterista (atenção Zé Luis : ouça Max Webster) de influências jazzísticas e um baixo comandado por Luiz Domingues (também Língua de Trapo), resultando em problemas nas passagens da introdução ao tema central. A salada dá certo na instrumental "Crisis", mais para o Jazz-Rock".
Bem, ao considerar-se a praxe da Folha em vilipendiar quem não comungava pela infame cartilha proposta por Malcolm McLaren, até que as críticas foram amenas, a grosso modo, no entanto, há farpas bem direcionadas, senão vejamos :
Primeiro ponto : por quê o jornalista sugeriu que o Zé Luiz ouvisse o trabalho da banda canadense, Max Webster ? Nada contra a banda, pelo contrário, trata-se de um trabalho muito consistente, construído por músicos dotados de uma grande capacidade técnica, e sob ótimas influências. O que causa-me espanto, é perder espaço na lauda para uma observação fora de contexto completamente ao meu ver. O que quis dizer com isso, afinal de contas ? Ele é que era fã do Max Webster e talvez gostaria que A Chave do Sol adotasse tal linha musical ? Farejou similaridades entre as duas bandas ? De minha parte, deixo claro que acho muito bom o trabalho do Max Webster, mas essa banda não é nem de longe, uma referência para mim, nem para A Chave do Sol como um todo, em momento algum de sua carreira, e tampouco para o Zé Luiz, que eu tenho certeza que mantinha outras preferências.
Não ofendi-me na época, e muito menos hoje em dia, mas quais seriam exatamente os "problemas" detectados pelo resenhista em relação à atuação da "cozinha" da banda ? Foi realmente uma observação vaga e a única explicação plausível para que o crítico houvesse reprovado a linha de baixo e bateria ao longo do trabalho inteiro, talvez residisse no simples fato de não ter apreciado-a, pessoalmente. Aceito isso sem problemas, é claro, mas ao sugerir que seria um "problema" a nossa atuação, pareceu-me uma observação vazia, sem argumentação plausível. Fora a contradição no próprio parágrafo, pois se "a competência está a caminho", o que estaria errado, então ? Eu posso afirmar também que a sua resenha teve "problemas", para deixar vaga a ideia do que eu considerei inadequada nela, e isso sinaliza o quanto esse jornalista foi infeliz na sua observação. Melhor teria sido falar de uma forma clara, que talvez tenha considerado exagerado o arranjo, com excesso de convenções, e isso seria mais aceitável como uma crítica realista.
Boa a menção ao fato da letra da canção : "Um Minuto Além" conter uma conotação em torno da crítica social, mas no contexto da resenha completa e refiro-me às observações sobre os outros discos, a intenção do jornalista foi clara em estabelecer a ponte entre a infantilidade reinante das letras escritas por bandas de Heavy-Metal, ao falar sobre demônios; inferno & afins ou sob outro clichê óbvio, a abordar a questão do "sexo, drogas e Rock'n' Roll", neste caso, sai o Rock e entra o Metal. Bem, como eu já disse, por tratar-se da Folha de São Paulo e a sua costumeira rejeição à tudo que não derivava da metástase Punk de 1977, até que foi uma resenha positiva. E Max Webster é uma ótima banda, mas... o que teve a ver com o contexto do nosso álbum ? Desejaria o resenhista que escutasse o som do Steely Dan, também ? Pode deixar que eu sempre ouvi, desde os anos setenta e gosto muito !
Uma contrapartida interessante à resenha da Folha de São Paulo, deu-se com a resenha publicada em um jornal de bairro, sob infinito menor alcance do que o poderoso jornal paulistano de alcance nacional. Foi no "Jornal do Cambuci & Aclimação", e a resenha do EP saiu assim :
"A Chave do Sol vem com segundo lançamento do selo Baratos Afins, só que agora é um LP. Depois da entrada de Fran para os vocais, a proposta é de fazer um Heavy-Metal e não um Jazz Rock que a Chave propunha anteriormente. O disco é um petardo e mostra que os rapazes da Chave do Sol são bons mesmo. A canção "Um Minuto Além" é bem no estilo do grupo alemão 'Scorpions'. Um prato cheio para aqueles que curtem Rock de boa qualidade. O negócio é correr nas lojas, antes que os discos se tornem raridades".
Ricardo Dalan
Foi o tal negócio... um jornal de bairro humilde e uma resenha bem mais objetiva do que a publicada pelo gigante do jornalismo mainstream. De fato, o resenhista detectou que o Jazz-Rock que norteava o trabalho da banda anteriormente ficara um pouco obscurecido pelo peso do Heavy-Metal, mas não saíra de cena totalmente (e talvez tenha sido esse o fator que o jornalista da Folha detectara em sua resenha e provocou o seu desagrado, que laconicamente chamou como : "problema"). A menção ao trabalho do grupo alemão, "Scorpions", foi precisa, na medida em que o sucesso radiofônico da canção , "Still Loving You", realmente inspirou a banda a procurar uma balada nos mesmos moldes, como peça autoral para o novo disco. Acho que ele exagerou um pouco na sua avaliação final, ao dimensionar que os discos venderiam dessa forma tão efusiva, mas eu encaro a priori, como uma frase de efeito positiva, tão somente. Não tenho certeza, mas acho que Ricardo Dalan é irmão do Dalam Júnior, baixista e colaborador do jornal e um dos principais articuladores do evento "Praça do Rock". E considero a menção ao fato do disco ser um LP, como um ato falho. Realmente, foi uma constante essa confusão, e mais uma vez fomos prejudicados por conta desse formato não usual em torno dos famigerados 45 rpm...
Continua...
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